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A busca pela felicidade pode ser mais simples do que você imagina
Tim Mossholder
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Séculos foram dedicados a estudos e pesquisas sobre a felicidade e o que ela significa de fato para as nossas vidas, no âmbito individual e coletivo. Para a filosofia grega da antiguidade, a “eudaimonia” era sinônimo de estar bem consigo mesmo, (eu = bom; daimon = demônio), uma espécie de “bom demônio” que nos guia a própria sorte na busca da plenitude.

Aos poucos, outros filósofos foram aprofundando seus conhecimentos a partir do sentido da felicidade e assim surgiram diversas teorias, como as que associam a felicidade à virtude e à justiça (Sócrates), ao prazer (Epicuro) ou o resultado da multiplicidade de relações com as coisas e outros seres humanos para ser feliz (Bertrand Russell).

Alguns associam a felicidade à aquisição de bens materiais, como a compra de um imóvel ou um carro, já outros trilham um caminho mais próximo do autoconhecimento, como imersões religiosas, espirituais ou terapêuticas, enquanto que, por muito tempo, ser feliz era um destino final de pertencer ao “paraíso” em uma vida após a morte. Depois de um longo período de sofrimento e flagelação pela passagem na Terra, como acreditam algumas religiões advindas do cristianismo, o ser humano estaria pronto para uma vida de total plenitude.

Ao mesmo tempo, o desenvolvimento científico e a melhoria da qualidade de vida fizeram com que a cura de muitas doenças e o bem-estar humano fosse alcançado com maior facilidade e com menor sofrimento, é o que explica a professora Deborah Antunes, da Universidade Federal do Ceará (UFC). “A melhoria das condições de vida aqui e agora apareceu como uma possibilidade real, mas infelizmente essa promessa não é cumprida de modo equânime, o que tem efeitos deletérios sociais de um modo generalizado“, explica a docente, que é doutora em filosofia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

A existência de desigualdades sociais é um fator que coloca em disputa a busca pelo autoconhecimento e a própria felicidade, já que há milhares de pessoas vivendo em condições sub-humanas, com insegurança alimentar grave, mortes e decorrentes doenças curáveis e inúmeros outros episódios.

Ao contrário do que imaginamos, a felicidade pode até ser uma busca individual, mas se consolida na medida em que se torna um bem coletivo, com possibilidades materiais e subjetivas de ser alcançada.

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Há poucos séculos, a felicidade era um campo de estudos limitado à filosofia e a teóricos que buscavam investigar suas causas, interpretações e caminhos para chegarmos até esse estado emocional. Hoje, nunca estivemos tão preocupados em sermos felizes, e não são poucas as estratégias que nos prometem a alcançar algo tão sonhado e, às vezes, distante da nossa realidade material e emocional.

Se a felicidade parece ser a estabilidade emocional, certamente ela será bem mais difícil, afinal, acordamos alguns dias tristes, outros felizes, às vezes empolgados demais ou sem nenhum interesse em levantar da cama. Isso porque a vida é cíclica e nossas emoções também. Isso é sinal de um corpo saudável e que se permite sentir e demonstrar quando estamos bem ou precisando de um empurrãozinho para tocar algo do dia à frente.

Se a fome é um lembrete de que precisamos nutrir o nosso corpo e ingerir alimentos que nos beneficiem, a tristeza, o medo e a culpa também nos dão pistas do que está por trás desses sentimentos e como podemos buscar um caminho efetivo para preencher uma falta ou reduzir excessos. “Com a tristeza (ou o medo, ou a angústia) precisamos aprender a reconhecê-la e ficar um pouco com ela para daí compreender onde estão suas raízes e então agir apropriadamente“, explica Deborah Antunes.

O problema é que, segundo a pesquisadora, estamos imersos em um mundo cada vez mais tecnológico, acelerado e que deseja respostas rápidas para todas as questões. Então, se um resultado de busca na internet demora mais de meio segundo para carregar, ficamos ansiosos e impacientes, se sentimos fome, preferimos um alimento mais rápido, como um fast food, mesmo que ele seja menos saudável e possa trazer prejuízos no futuro.

E isso não é diferente na saúde mental e na busca pela felicidade, já que queremos respostas cada vez mais fáceis, caminhos mais curtos e resultados rápidos. Por outro lado, é importante lembrar que um atendimento terapêutico, seja psicanalítico ou de outra especialidade, pode levar vários anos ou até mesmo mais de uma década para se completar, o que depende das nossas particularidades emocionais.

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Caminhos para a felicidade

Esse assunto está em alta. Recentemente, duas grandes publicações abordaram a questão sob o ponto de vista da prática. O New York Times publicou um desafio de sete dias com atividades para nos tornarmos mais felizes e, na mesma esteira, a revista Time conversou com 18 especialistas em felicidade para descobrir o que nos leva a esse estado. Em resumo, são coisas que já sabemos (mas nem sempre praticamos), como dormir o suficiente, praticar exercícios físicos e ter um hobby. Parece que a felicidade não é um monstro de sete cabeças ou um estado emocional inalcançável como imaginamos.

Para Stefan Sagmeister, um designer gráfico austríaco que vive em Nova Iorque, alguns passos simples podem ser seguidos para alcançar a felicidade. Em seu TEDx, 7 rules for making more happiness (7 regras para trazer mais felicidade, em tradução livre), ele explica que fazer viagens para novos lugares e nos engajarmos em projetos alinhados com nosso propósito são possibilidades interessantes.

gráfico apresenta diferentes dicas para quem busca a felicidade, o que já está contido no texo. felicidade

Apesar de alguns caminhos serem essenciais para que alcancemos uma vida mais leve e alinhada com uma qualidade de vida, como dormir o suficiente, fazer exercícios, ter um hobby, praticar autocuidado ou frequentar templos espirituais, Deborah questiona quais pessoas tem à disposição o tempo necessário para se dedicarem a atividades como essas.

“Uma pessoa que gasta 3 ou 4 horas no transporte para ir e voltar ao trabalho, que trabalha 44 horas semanais, e que quando chega em casa tem mais uma jornada de cuidados da casa e dos filhos, consegue manter essa rotina de atividades? A conta não fecha”, diz a filósofa.

Entender que a felicidade é um bem coletivo e que depende de uma sociedade saudável e com qualidade de vida para toda a população é a chave de muitas inquietações. Possibilitar um acesso às atividades que trazem bem-estar é um passo importante, mas precisa ser avaliado, já que se sua rotina anda corrida e as tarefas se amontoam ao longo do dia, se obrigar a ir à atividade física ou ao lazer em meio ao cansaço extremo podem te trazer mais culpa e adoecimento. “Nesse sentido, o caminho para a felicidade – ainda que esta seja um estado individual gerado pelas possibilidades reais de satisfação das necessidades (e não apenas sua promessa) – é coletivo“, explica Deborah.

Vende-se felicidade por todos os lados

Se a felicidade é um estado emocional alcançado de forma individual respeitando as particularidades e os objetivos de cada um, ela também depende de um bem-estar coletivo precioso. Mas esse caminho não é linear e tampouco inclusivo. Segundo o Ministério da Saúde (2019), jovens pretos têm 45% mais chance de desenvolverem quadros de depressão, o mesmo ocorre com pessoas LGBTQIAP+, que adquirem com mais facilidade transtornos de saúde mental, por exemplo.

O preconceito, a discriminação e a exclusão social são fatores que limitam a busca pela felicidade e podam a possibilidade de uma vida plena. Para Deborah Antunes, existem dois tipos de sofrimento: aquele inerente ao ser humano, que não podemos fugir e sempre nos visita em algum momento da semana ou do mês, e o outro, que a pesquisadora categorizou de “mais sofrimento”. “É o tipo de sofrimento adicionado à vida pela forma como a sociedade e a cultura se organizam, na medida em que a vida de determinados grupos é tornada mais difícil, mais ameaçada, mais violada, por um lado, e por outro, existe um medo crescente de um outro grupo de perder seus espaços de poder“, explica.

A felicidade se torna específica para um grupo de pessoas, uma espécie de funil que seleciona uma pequena parcela da população. “Se hoje a felicidade parece ser exclusiva a um grupo restrito de pessoas, é porque ela foi transformada em um produto vendável a quem pode pagar. Mas a questão é que o que se vende por felicidade está longe de sê-la“, justifica Deborah Antunes.

É claro que boas horas de sono, adotar um hobby pessoal, praticar exercícios, passar tempo na natureza, meditar, se dedicar a uma prática religiosa e estar com as pessoas que amamos são imprescindíveis para uma vida mais feliz. Mas é também necessário que a felicidade se torne uma espécie de patrimônio, um bem coletivo a ser zelado conjuntamente.

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