Como eu vou ser triste se em 2024…
De carona na trend do momento, Débora Zanelato relembra sobre a caminhada rumo à sabedoria que está em acolher os dias tristes e reconhecer a ambivalência das nossas emoções
“Como eu vou ser triste em 2024 se…” Bem, talvez você tenha tropeçado – ou até postado – nessa publicação #trend nas redes sociais no qual o usuário enaltece os pontos felizes de 2024, que o impediriam justamente de ser triste nesse ano que está beirando o fim.
Há coisas óbvias que, mesmo assim, merecem o nosso lembrete – porque, de tão óbvias, a gente pode facilmente ser levado a se esquecer. Ainda mais assim, nas redes sociais, onde cada um mostra aquilo que quer parecer ser. E a gente, por mais que saiba que as aparências enganam, facilmente pode achar que a grama do vizinho é… isso mesmo. Mais verde que a nossa.
A tristeza faz parte do viver
Quando essas publicações começaram a pipocar no meu feed, logo lembrei dos diversos momentos em que fui alegre, mas também dos que fui triste. E digo isso não pra ser estraga-prazeres de uma trend bacaninha.
Mas é porque momentos de tristeza não deveriam ser vistos como algo que a gente precisa evitar a qualquer custo. Afinal, só é possível reconhecer os momentos de felicidade porque também conhecemos os de dor.
É natural e desejável que a gente busque por momentos mais felizes, que a gente deseje uma vida de realizações e satisfação. Mas a gente também pode enxergar que a tristeza faz parte de diversos momentos nossos. Que ela também compõe um ano, uma vida.
Há diversas situações nas quais alegria e tristeza caminham juntas. Por mais que a gente queira, não dá para excluir as partes não tão boas assim – e, geralmente, essas partes são as que mais nos trouxeram aprendizados.
Então, queria confessar que esse ano eu fui triste. Fui triste em vários momentos. Fui triste quando algo que eu queria muito não deu certo, quando perdi uma amiga querida, quando não pude estar na companhia dos meus amigos e da minha família. Quando descuidei do meu corpo e da minha mente (se é que dá pra dividir assim) e me senti mais ansiosa.
Em paz com nossas emoções
Mas também fui feliz em tantos outros, como nas manhãs em que tomei um café tranquilo na companhia do meu filho ou do meu companheiro. Nos dias em que fui criativa no trabalho. Nos abraços de reencontro que dei e nos amigos que revi. Nas lembranças boas que me preencheram de saudade de alguém, mas também de gratidão pelo tempo vivido.
Querer extirpar a tristeza é como acabar com uma parte nossa tão importante até mesmo para reconhecer a alegria, a felicidade. O que fez a gente ser quem a gente é. Somos seres ambivalentes, e nossas experiências raramente são apenas feitas de um sentimento. Ou isso, ou aquilo.
É dessa complexidade que podemos, enfim, entender que cada momento nos compõe, faz a gente ser quem a gente é. Nas nossas ambivalências, contradições, incompletudes, tristezas e alegrias. Incluir é dar um lugar para o que foi vivido. Celebrar as cicatrizes. Viver, com tudo o que faz parte da nossa história, do nosso ano.
Que a gente seja triste, feliz, depois triste de novo, e feliz e triste ao mesmo tempo também. Assim é o viver.
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