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Meditação sem mitos: um guia completo
Katerina May
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Não sabemos ao certo quando o homem começou a meditação. Na verdade, todos nós quando crianças, sabíamos meditar, de certa forma. Com uma enorme capacidade de estamos no presente, relaxados e ao mesmo tempo atentos, meditávamos muitas vezes ao dia… quando estávamos absortos em uma brincadeira, admirando uma paisagem ou encantados com um animalzinho no jardim.

Alguns estudiosos, entretanto, sugerem que as primeiras experiências meditativas podem ter acontecido próximo à descoberta do fogo. Nossos ancestrais, e mais especificamente o Homo Erectus, descobriram que se fizessem friccação entre duas pedras conseguiam produzir uma faísca, que colocada em um local de fácil combustão, pegaria fogo facilmente.

Nesse momento, é possível que os antepassados tenham tido as primeiras experiências de estado alterado da consciência, ao passar muitas horas olhando o bailar das chamas.

Estado de consciência

Mas foi na cultura Oriental, mais especificamente na Índia, que a meditação como a conhecemos surgiu. No princípio, as práticas meditativas tinham como intenção principal conduzir o homem de volta à fonte e a se conectar com o potencial de energia presente no campo unificado e na consciência absoluta.

Naquela época, os grandes Mestres nos ensinavam que era possível transcender a própria mente e a percepção da existência relativa e individualizada e se unir à consciência pura e e absoluta. Muitos homens, encantados com essa visão, começaram a trilhar os passos deixados por essas entidades sagradas e tiveram a oportunidade de alcançar a experiência da transcendência, em menor ou maior grau, durante suas vidas.

E quanto mais os homens relatavam as maravilhas da transformação ocorrida em suas vidas, mais pessoas sentiam-se inspiradas em trilhar o mesmo caminho. Meditar naquela época era uma vivência em busca do sagrado, da espiritualidade e da autorrealização.

Descobertas científicas

Com o tempo – e o avanço da ciência – comprovou-se que a prática meditativa, além de possibilitar o fascínio proporcionado pelo encontro com o nosso próprio ser, trazia, também, muitos outros ganhos para as dimensões mental, emocional e físico-energético. A descoberta científica, comprovando os benefícios já conhecidos empiricamente pelos meditantes, abriu portas para que uma parcela ainda maior da população se interessasse pelo assunto. Isso fez impulsionar o desdobramento da meditação em diversas formas e técnicas.

Atualmente, essas técnicas coexistem com as tradições ancestrais, que mantém-se fiéis aos preceitos e conhecimentos transmitidos pela linhagem de algumas Escolas milenares, principalmente originárias do Oriente. Nessas tradições, a prática da meditação vem suportada pelos ensinamentos compartilhados pelos professores a seus discípulos, que encontram nessa sabedoria um caminho filosófico de maior realização.

Mas também vimos uma série de técnicas e abordagens alternativas que procuram adaptar a tradição para um modo de vida mais ocidental, distanciado-se de bases religiosas ou filosóficas e com um viés mais pragmático.

Por isso, essa profusão de práticas tem tornado a meditação mais conhecida. Ao mesmo tempo, muitas vezes tem causado uma banalização e distorção de sua natureza fundamental.

É comum as pessoas confundirem relaxamento, concentração ou a repetição de afirmações positivas com meditação. Mas, afinal, o que é meditação?

O que é meditar

Se formos bucar no dicionário Michaelis, encontraremos algumas definições como: 1. Reflexão profunda acerca de um assunto, conflito ou objeto; 2. Concentração do espírito que prepara uma mente para a contemplação; 3. Conjunto de processos mentais com o intuito de se desligar do mundo material, a fim de acalmar a mente e estabelecer uma relação com assuntos divinos.

Parece difícil entender, não é? E principalmente complicado compreender como atingir esse tal estado mental. No senso comum, usamos a palavra meditar para expressar o processo de pensar e refletir sobre um determinado assunto. Podemos meditar sobre nosso trabalho, família, comportamento. Nesse casos, estamos usando a racionalidade e o pensamento para tentar compreender e encontrar soluções ou um melhor caminho para um tema.

Mas a meditação, como trata este texto, está distante dessa definição. Na verdade, é quase que um processo oposto. A intenção na prática da meditação é reduzir a presença do pensamento em nossa percepção para podemos perceber o mundo por meio de uma outra inteligência – a do perceber e a do sentir. Não é parar de pensar, mas sim reduzir a atividade mental para uma sensação de maior relaxamento, paz e clareza.

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Direcionando ou não a mente

Mas como fazemos isso? Como é possível reduzir a atividade mental?

Apesar das diferentes técnicas de meditação se distinguirem bastante entre si, elas se dividem basicamente em dois grandes grupos, as diretivas e não-diretivas. Aquelas para as quais damos algum direcionamento inicial ou sustentável à mente e aquelas nas quais a deixamos mais livre para que ela possa encontrar o seu estado natural, de paz e bem-estar.

As técnicas que utilizam algum tipo de direcionamento, seja a partir do foco concentrado na respiração, da utilização de narrativas de relaxamento ou visualização, do foco em objetos ou pontos mentais, assim como algumas técnicas que pressupõem a repetição de mantras, partem do pressuposto que o direcionamento ajudará a mente a se aquietar, com a redução da atividade mental

Frequentemente, nossa mente está em devaneio, pulando de um pensamento para outro, chicoteando entre futuro, passado e presente ou focada em alguma atividade ou pensamento. A grande maioria de nós ressente-se por ter uma mente indisciplinada e pouco assertiva que, habitualmente, perde-se em seus próprios pensamentos e que é difícil de serenar ou mudar de comportamento ou padrão

Conflitos internos

É frequente atender em nossa escola de meditação pessoas atormentadas por suas próprias mentes, obcecadas em determinada linha de pensamento normalmente associada a sentimentos de medo, angústia ou solidão. Ou, por vezes, pessoas que não conseguem descansar, pois a cabeça insiste e persiste em rever ou retomar aspectos da sua realidade passada ou projeções de futuro.

Em ambos os casos, essa forte identificação com a mente pode proporcionar muito cansaço e desconexão, não só com o seu ser mais puro e sábio, mas com tudo à sua volta. Se estamos presos à mente e em seu labirinto, deixamos de estar no aqui e no agora, onde a vida de fato sopra e acontece.

Um dia, Daniela, uma médica de 44 anos, chegou com o interesse de aprender a meditar. Disse que achava que não conseguiria, mas que precisava tentar, pois já havia experimentado de tudo, sem muito sucesso. Enquanto ela me contava como se sentia e um pouco da sua rotina, era quase possível tocar o “cavalo selvagem e galopante que relinchava e se debatia em sua mente”.

Apesar de não conseguir visualizar o que acontecia dentro dela, sentia o cavalo errante, que mudava frequentemente a direção de seus pensamentos e se assustava ao menor sinal de um ilusório perigo.

Refletir

Ao perceber toda essa dinâmica, minha vontade era saltar em cima de sua mente e dizer: calma, calma… vamos descansar, vai ficar tudo bem.

Em casos como esse, o uso de técnicas que utilizam um direcionamento, como o foco na respiração ou em um mantra, pode ser bastante útil, pois ajuda a pessoa a entender que é possível escolher um foco único de atenção e assim começar a diminuir suas frequências cerebrais, alcançando um estado mais calmo e relaxado.

Essa compreensão ajudou Daniela a entender que ela poderia colocar a sela em sua mente e conduzi-la para paisagens e caminhos mais calmos se ela quisesse. 

Outras técnicas de direcionamento, como a visualização e a narrativa também podem ajudar e muito o praticante inicial. A narrativa funciona como uma espécie de fio condutor que guia o meditante, primeiro para dentro de si, por meio do relaxamento do corpo físico e mental. Depois, a partir de um estado de maior conexão e aquietamento para um estado de maior expansão.

Nesse estado de maior soltura e conexão, o meditante pode investigar padrões comportamentais, resgatar memórias para serem melhor compreendidas e ressignificadas, buscar maior entendimento sobre algum aspecto que esteja passando, se transportado para  planos de maior bem-estar, amor e confiança e até construir visões com objetivos do aumento da performance estudantil, profissional ou esportiva, bem como a possibilidade de co-criação de realidades a partir de uma clara intenção desejada.

Técnicas não diretivas

Já as técnicas não-diretivas partem do pressuposto de que qualquer tipo de controle é exatamente o oposto do que se busca em um estado meditativo. Essa premissa está fundamentada na ideia de que a tendência natural da mente é ir em busca de um lugar de maior paz e alegria e, por isso, ao sentar-se para meditar é provavável que naturamente nossa mente se aquiete e sinta-se em paz. Nessas práticas não se busca nenhum objetivo específico ou resposta, apenas coloca-se em meditação, para que a mente, se comporte e se desvele, em estados de cada vez mais quietude.

Apesar de haver técnicas extremamente diretivas e outras completamente não-diretivas, há uma série de outras práticas que se posicionam nesse grande intervalo de possibilidades. Muitas delas, utilizam algum tipo de direcionamento inicial, para ajudar o praticante a relaxar e diminuir a frequência dos pensamentos e depois sugerem que a consciência se eleve, naturalmente, rumo à consciência maior. 

Independente, da técnica ou do conjunto de técnicas que você decida adotar, as primeiras perguntas que talvez você possa se fazer são: por que desejo meditar e aonde desejo chegar?

O que te motiva a meditar

As descobertas que fiz dia após dia com a meditação me ensinaram que a metáfora do oceano, usada por muitas pessoas, desde Maharishi Mahesh Yogi, fundador da meditação transcendental até o cineasta David Lynch, não é só útil para ajudar na compreensão da natureza da própria mente, mas, também, no próprio universo da meditação

Dependendo de por quais águas você se interesse por navegar, pode mergulhar em um estado mais relativo e superficial da consciência ou em águas mais profundas e absolutas. Por isso, a prática da meditação é para todos. Crianças, jovens, anciãos, para quem trabalha, estuda, para criativos e mais analíticos, introspectivos e extrovertidos, racionais ou contemplativos. Enfim, para todos aqueles que desejem desenvolver um relacionamento melhor e mais feliz com suas mentes e, portanto, consigo mesmo.

Como cada ser é um e possui motivações e objetivos distintos que mudam ao longo da vida, ter destreza e certa autonomia no uso da meditação é de grande valia. Ao compreender as nuances e diversas faixas desse oceano mente-consciência é possível com prática, humildade, entrega e orientado por um bom instrutor. É importante utilizar a meditação como ferramenta de auto desenvolvimento para qualquer aspecto que desejar. 

Ferramenta oceânica

Ao aprender a meditar, diariamente, você pode se perguntar: o que me motiva para a prática do dia de hoje? O que preciso aprender com a situação que estou enfrentando? Que padrão de comportamento não me serve mais? Essas perguntas podem ser diferentes a cada dia, pois sempre temos desafios diferentes para lidar.

A meditação, portanto, além de proporcionar um estado de paz e quietude nesse mundo tão acelerado e agitado, também pode servir como um instrumento de autoconhecimento, cura e transformação.

Neste sentido, ela pode ser vista como uma ferramenta oceânica, grande e profunda, em que cada um mergulhará quanto puder e desejar, beneficiando-se de todas as bênçãos que ela proporciona. A experiência da meditação é única e apesar de meditantes compartilharem muitas sensações e percepções semelhantes, a jornada é sempre individual e intransferível. 

O que eu tenho de único? Qual é a minha forma mais espontânea e alegre de me manifestar? Que tipo de comportamentos me afastam das pessoas e do todo? Por que me sinto sem propósito? Onde foi parar meu entusiasmo? Como posso me manter confiante? O que tem me causado sofrimento? 

Não importa o quanto você queira mergulhar, o importante é aprender a nadar. Sabendo movimentar-se nesse mar profundo que é a mente e ainda mais profundamente a consciência é possível extrair o máximo da meditação. Desde a busca por uma mente mais focada e criativa, até à compreensão de sua real natureza.

Independente das nosssas motivações específicas, é bem provável, que em maior ou menor grau, todos nós desejemos basicamente a mesma coisa. Afastar-nos ou livrar-nos daquilo que nos limita e aprisiona. Ou seja, de mente pouco consciente.

Mergulhando no seu mar interior

O que acha de agora mergulhar em seu oceano particular, fazendo uma prática diretiva? Vou narrar uma meditação que tem a intenção de ajudar você a relaxar seu corpo, trazer mais clareza a sua mente e mais bem-estar para seu dia. A voz é minha e a música é de meu amigo e grande compositor, Naire Siqueira

Experimenta e depois me conta como você se sentiu. Aproveite, querida (o) meditante!

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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