⁠   ⁠
COMPARTILHE
Não tem erro: é preciso ter foco para construir
Surface | Unsplash
Siga-nos no Seguir no Google News

Com uma infinidade de convites a cada minuto, você vive imerso em uma enorme quantidade de estímulos que competem por seu foco. A buzina tocando, o apito do guarda, a mensagem do celular, a cor bonita do vestido da moça ou a brisa refrescante no seu rosto são todos convites para capturar a sua atenção.

Pare um pouco e reflita: desde o momento em que você acordou com quantos estímulos você já se relacionou? Seja de forma direta ou apenas como um pano de fundo? Mihões, certamente

Mas não é apenas o que acontece do lado de fora que tenta chamar sua atenção. Você também vive recebendo um grande número de convites, de você mesmo, por intermédio de seus pensamentos, sentimentos ou sensações. 

Passamos a vida sendo bombardeados por estímulos que gritam por nossa atenção, como se houvesse um outro mundo invisível, agitado e tagarela que vive nos cutucando: olha para cá, ouve aqui, sente acolá.

Mundo interior

Para muitos de nós, a maioria dos convites inconvenientes vem do nosso próprio mundo interior, de uma mente que o tempo inteiro toca a campainha trazendo algo diferente. Uma memória, uma discussão, uma pendência. Sem cerimônia, o convite chega e a pessoa sem saber recusar, o aceita, mesmo não tendo interesse.

Jane chegou assim aos encontros de meditação. Exausta de tanto assédio que recebia de seus pensamentos, que não escolhiam hora e nem lugar para incomodar.

“Eu estou tão cansada. Quando estou no trabalho, até consigo relaxar. Foco no computador, nas reuniões, nas conversas… mas quando entro no elevador, no final do dia, parece que minha cabeça acorda e começa a me azucrinar. Levanta os mais diversos assuntos e parece ter predileção pelos mais conturbados. A toda hora, relembra o episódio da briga que tive com o meu filho. Refaz os diálogos, inventa novos inícios, meios e fins em uma ciranda sem fim. O mesmo acontece quando estou no banho, jantando ou tentando dormir”. 

E, depois de suspirar longamente, completou: “Às vezes, eu tenho vontade de desatarraxar minha cabeça do pescoço. Sei que isso é impossível, mas que eu queria, queria”.

É possível escolher em que estímulos colocar sua atenção

Mas o que Jane não sabia era que não era necessário nada assim tão radical. Era possível aprender a selecionar e escolher o que ocuparia a sua mente.

Nossa vida desenrola-se à medida que escolhemos, conscientemente ou não, a colocar atenção em uma situação, pensamento ou recorte da realidade.

Essa enormidade de detalhes e nuances explica por que duas pessoas, vivendo em uma mesma casa, possuem versões tão diferentes de uma mesma realidade. Nossa visão do mundo é profundamente moldada por onde escolhemos colocar a atenção, como interpretamos e lidamos com esses estímulos.

Como nossos cinco sentidos não conseguem lidar e processar toda a informação ao nosso redor, estamos o tempo inteiro fazendo diversas seleções de imagens, sons e percepções.

Era Digital

Se já tínhamos que fazer esse filtro há 20, 30 anos, imagine agora que vivemos um dia a dia hiperconectado e com informação 24/7? Diante da enormidade de estímulos digitais que nos chegam, é natural termos a sensação de que não damos conta de compreender tudo o que se passa e de frequentemente nos sentirmos irritados, frustrados e ansiosos.

Jane em seu relato é a própria expressão desses sentimentos, já que uma mente que não consegue abandonar um foco desagradável ou improdutivo, torna-se refém de sua própria instabilidade e fragilidade, além de sentir-se exausta e debilitada.

Mas será que desacoplar nossa cabeça é a solução? Ou, então, se refugiar em uma caverna com poucos estímulos para tornar nossas escolhas mais fáceis?

Claro que não, afinal, são por meio dos convites-estímulos, que temos oportunidade de sairmos da inércia e vivermos novas experiências. Sem eles, viveríamos em um sistema fechado, ensimesmados e entediados em nossos próprios circuitos e velhos caminhos.

A importância da atenção em nossas vidas

Entendemos por atenção a habilidade do cérebro em escolher o que é importante e abstrair completa ou parcialmente dos demais estímulos, ou distrações. Vivemos alternando nossa atenção, pulando de estímulo para estímulo, sustentando o mesmo foco ou devaneando por uma série de distrações.

Quando você fica vidrado em uma palestra, a fim de não perder nenhum detalhe, sua atenção está concentrada. Por outro lado, quando sua mente está solta e traz diversos trechos e imagens em uma espécie de esteira veloz, você está em devaneio, divagando.

Mas será que é possível colocar atenção em várias coisas ao mesmo tempo?

Segundo a ciência, o máximo que nosso cérebro consegue fazer é entrar em um estado de atenção alternada, que acontece quando você está cozinhando e por um momento desvia sua atenção para responder uma mensagem de celular.

Por causa dessa habilidade da mente é que algumas pessoas alegam que conseguem fazer mais de uma coisa simultaneamente. O tal do mustitask. Na verdade, não há como “dividir” nossa atenção. O que ocorre é que você está rapidamente migrando de um foco para o outro, mas não os sobrepondo.

Mas e quando a gente está andando de bicicleta e cantando ou dirigindo pelo bairro e ouvindo música? A resposta é que você só consegue fazer essas duas coisas por que uma delas é feita de forma automática pelo cérebro. Já verificar seus e-mails e prestar atenção nos detalhes do relatório que está sendo apresentado, não é possível. 

MAIS DE ANA PAULA BORGES

Meditação: a escolha para reconquistar uma mente em paz, criativa e feliz

Por que comecei a meditar e o que aprendi com isso

Sinta o que você deseja e deixe o universo te guiar

Atenção plena

Se só conseguimos de fato prestar atenção em uma coisa de cada vez, vale mais uma reflexão: onde você tem estado realmente? Quando está com seus amigos ou filhos e “ao mesmo tempo” olhando os posts da rede social, onde você está de fato?

Muitas vezes, esses escapismos acontecem dentro do nosso próprio sistema. Quando você, por exemplo, fica imerso em suas lembranças e conversando com uma pessoa durante um jantar ou relembrando uma situação embaraçosa enquanto assiste sua série preferida.

Quando estamos nesse modo mental, é natural que respondamos de forma monossilábica ou automática.

Não tem jeito, sempre que mudamos o foco de atenção, perdemos algo e precisamos de tempo para retomar o fio da meada. Quanto mais essa ação demandar nossa atenção, mais gastaremos energia e perderemos tempo nessa transição.

Ponha as ideias no lugar

Quando você escolhe o que pensar, também escolhe o que sentir e está mais apto a concretizar. Não tem escapatória.

Você está onde sua atenção está, já que é ela quem direciona e emoldura a sua experiência da realidade. Segundo os neurocientistas cognitivos, Michael Posner e May Rothbart, é por meio do foco que sustentamos nossa consciência do mundo e regulamos voluntariamente nossos pensamentos e sentimentos. Não é à toa que o dito popular nos diz: o que os olhos não veem o coração não sente, sugerindo que, se não temos consciência de algo, essa realidade simplesmente não existe. 

Nesse sentido, ao escolher a direção do seu pensar, você escolhe também a direção do seu sentir!

Além da atenção ter a capacidade de capturar um determinado aspecto da realidade é ela que também o ajuda a dar sentido, construir narrativas, a aprender e a realizar qualquer coisa em sua vida, desde um simples desenho até planejar uma viagem.

Quanto mais você consegue dar continuidade à sua atenção e linha de pensamento, mais as redes neurais, sobre determinado conhecimento, se fortalecem e ramificam. 

Aprendizagem

É assim que você aprende. Construindo sinapses que ajudam a desenvolver uma espécie de modelo mental que favorece a riqueza de sua linguagem, portanto, a compreensão. 

Se nossa mente está frequentemente irrequieta, desatenta e devaneando em estímulos desconexos, é natural que nos sintamos confusos, perdidos, sem propósito ou sentido. Ou seja, entediados, com sentimento de aborrecimento constante, vazio e apatia. É como se tudo ficasse, mais ou menos, morno ou entediante.

Para darmos sentido a algo, seja às relações ou à própria vida, é fundamental um pensamento contínuo-reflexivo. Só assim, podemos nos aprofundar e compreender as trajetórias que fizemos e as novas que queremos seguir.

Por isso, a maneira como você direciona sua atenção está intimamente ligada à sua tranquilidade, bem-estar e realização. Se você não tem foco, não pode ter sucesso, independente do que essa palavra signifique para você. Até para sonhar e fazer arte precisamos sustentar o pensamento. Já reparou com um pintor ou compositor está ali, inteiro, presente? E você, onde tem estado ultimamente?

A vida pode ser simples, comece hoje mesmo a viver a sua.

Vida Simples transforma vidas há 20 anos. Queremos te acompanhar na sua jornada de autoconhecimento e evolução.

Assine agora e junte-se à nossa comunidade.

0 comentários
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

Deixe seu comentário