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Para que serve o sofrimento?
Markus Spiske um menino pedala em uma pista de skate com equipamentos de proteção.
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Aprender a lidar com o sofrimento traz autoconhecimento e força para construir uma vida rica de experiências.


Existe uma fala que circula no meio psicanalítico que diz: o que você vai fazer com isso que não seja somente sofrer com isso?

Como é importante depois de levar um “tombo”, levantar e continuar. A vida nos pede constantemente que após uma decepção, uma experiência que nos causou sofrimento, que façamos algo com isso que não seja somente sofrer com isso. 

Claro que o impacto dos momentos difíceis nos afeta – alguns mais, outros menos – e que teremos que sentir essa dor, todas as emoções que ela desencadeia e vamos precisar de um tempo para digerir tudo. Masssss, depois, teremos que continuar, seguir em frente, apostar na vida novamente. É o famoso sacode a poeira e vai.

Porém, muitas pessoas, por medo de se machucarem novamente, recuam e param de investir na vida. Veja alguns exemplos:

  • Tentou mudar de emprego, não conseguiu outro e logo desiste.
  • Teve um relacionamento que acabou em dor, não se abre mais para outra relação.
  • Não passou numa prova, não quer mais estudar para outras.
  • Sofreu uma traição em uma amizade, não quer mais ter amigos.
  • Colocou o dinheiro em algo que deu errado, nunca mais quer investir em nada. 

É compreensível que esses tombos nos tragam medo de sofrer de novo e que uma das soluções seja se fechar para se proteger de outros desprazeres. Fechar-se para a vida porque acredita que aquilo que aconteceu vai acontecer de novo. E é verdade. Há uma grande chance de que algo que já causou sofrimento se repita novamente. Mas, há uma grande chance de que isso não volte a acontecer e de que vivamos coisas muito diferentes, muito melhores do que vivemos no passado. Assim como outras experiências ruins aconteçam simultaneamente com outras boas.

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Há dois pontos fundamentais que podem nos ajudar nesses momentos em que esse medo de sofrer de novo nos atravessa e o que mais queremos é nos trancar em casa, com um pote de sorvete e ficar maratonando séries. Não que isso não faça parte da vida e que não seja uma delícia. Estou falando no sentido de isso ser uma fuga para o medo de sofrer com a vida que está lá fora, com as pessoas que estão lá fora nos esperando para nos relacionarmos com elas, com as experiências que estão fora do nosso casulo de proteção nos esperando para experienciarmos coisas novas.

Um desses pontos tem a ver com: depois que vivemos algo que nos trouxe sofrimento, durante o processo de digestão do ocorrido, do luto, procurar entender por que fizemos aquela escolha? O que aconteceu? Como agimos? O que passava na nossa cabeça naquele momento? Isso que aconteceu já tinha acontecido antes? Por que essa situação se repete? Qual outra atitude tomaríamos no lugar daquela que tomamos? Onde deveríamos ter colocado mais atenção?

É preciso nos interrogarmos para compreender por que vivemos aquilo, o que é possível aprender com o ocorrido e o que podemos fazer de diferente.

Aprender com as experiências que vivemos pode nos ajudar a parar de repetir escolhas e comportamentos que nos fazem mal. Com isso, paramos de ver o sofrimento como algo terrível, que temos que nos proteger. E esse é o segundo ponto que gostaria de falar. Proteger-se muito e por muito tempo das experiências de vida e das relações por medo de sofrer, não nos faz bem. Ficamos com um psiquismo todo defendido e isso só alimenta o medo e cria um monte de paranoias.

Siga em frente

Enquanto tivermos vida, vamos ter que viver. E o sofrimento faz parte da vida. Isso é uma verdade inegável. Então, precisamos aprender com o sofrimento. Refletir, entender o que aconteceu e como você estava “posicionada” naquela situação diz muito de uma pessoa que não está vivendo no piloto automático e que está muito bem apropriada da própria vida. Querendo entendê-la, curiosa sobre si mesma, procurando fazer mudanças que lhe façam bem.

Sabemos que isso não é fácil, mas é o melhor que podemos fazer. Porque viver se defendendo não vai dar, não é um bom caminho.

  • Acabou um relacionamento e você sofreu muito? Abra-se para outro.
  • Não deu certo uma entrevista de trabalho? Procure por outra.
  • Rompeu uma amizade que gostava muito? Abra seu coração para novas pessoas entrarem.
  • Não deu certo um empreendimento, um projeto que queria muito? Tente outro.

Mas, faça isso de um lugar onde você esteja aprendendo as “lições”. De um lugar onde esteja ganhando sabedoria e autoconhecimento. 

E continue porque a nós não nos foi dado o direito de desistir. Enquanto tivermos vida, vamos vivê-la. E quando der de cara com o sofrimento, faça algo de bom com ele que não seja somente sofrer com ele. Faça isso por você.


KEILA BIS é psicanalista e jornalista ([email protected]) que adora compartilhar segredos do autoconhecimento para um viver sem neuras. Aprender a lidar com o sofrimento é um deles.

Confira todos os textos da coluna de Keila Bis em Vida Simples.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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