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Abraçar o caos nos faz enxergar os milagres invisíveis da vida
Shot by Cerqueira
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Desde sempre até este ano, no 1º de janeiro, sentava em algum lugar calmo, meditava e fazia planos para o meu ano. Visualizava o futuro, as realizações através dos meses, meus projetos para colocar em prática e minhas metas. Fazia promessas comuns, como: academia todos os dias, viagens curtas duas vezes por mês, viagens longas duas vezes por ano, aprender francês, voltar para aula de piano, meta X de capitalização, projetos M, N, O, P, Q, R… XYZ, campanhas de conscientização, ativismo, e assim seguiam.

E passava o resto dos outros meses todos cobrando a mim mesma e me deixando ansiosa pelo que viria e pelo que ainda não tinha feito acontecer.

Me culpava por ter produzido menos conteúdo do que o planejado.

E sobre o que realizei e efetivamente aconteceu, acabei não comemorando e curtindo o sucesso, porque estava ocupada já pensando no próximo projeto.

Pensava sempre: minha vida tem que ser útil nesse Planeta, não posso me permitir parar.

Ir sempre rápido não é tão importante assim

Eu me considero uma pessoa intensa que vive o presente. Sou uma trabalhadora pelo bem-estar geral da humanidade, animais, meio ambiente.

Me doo, faço o meu melhor, então por que a ansiedade está sempre me rondando? Porque eu sou uma só.

E não posso realizar tudo que gostaria porque faço parte de uma engrenagem maior.

Quem comanda esse sistema universal, sabe muito mais do que eu. Sabe TUDO.

Eu já tive tanta pressa e, com ela, tanta ansiedade. Hoje sei que a direção certa é mais importante que a velocidade.

A direção você sabe que é a certa quando a ansiedade some, tudo flui, as peças se encaixam, você vai dormir empolgada e não angustiada. Acorda disposta e animada para realizar.

E eu sinto que a vida me diz: vai com calma. Não adianta você se atropelar. O mundo inteiro precisa trabalhar em uníssono para que você se integre a sinergia do coletivo.

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Então se você ainda está na fase do caos emocional, profissional, mental. Respire fundo (mesmo).

Caos e ordem são dinâmicas vitais da biodiversidade. A desordem espontânea é tendência fundamental da vida, ela desencadeia o movimento, o trabalho dos princípios de configuração dos organismos, em equilíbrio dinâmico.

Há alguns anos, eu estava numa busca de autoconhecimento e curas profundas espirituais, cura da ancestralidade e tudo que pudesse me ajudar a evoluir.

Me falaram sobre hipnoterapia? Fiz e faço. Constelação com cavalos livres? Lá fui eu. Sound healing, barra de access, yoga, ayahuasca e medicinas da floresta. Retiros. Terapias. Micro fisioterapia. Cura prânica. Curso de reiki. Massagens. Fiz. Fiz. E fiz.

E me indicaram uma bruxona vidente que lia as cartas e o futuro. Era online, era barata, pensei: por que não?

Ela olhou para mim (na câmera) e disse: você vai morrer cedo.

Eu congelei e falei: “Como é que é?”

Repetiu sem dó. Eu fiquei muito brava na hora, revoltada. Porque obviamente ninguém quer morrer cedo e porque achei de uma irresponsabilidade descabida ela falar isso para alguém, mesmo podendo ser verdade. Desliguei, fiquei brava, triste, com medo. E levei meses para digerir.

Lembre-se de seguir o flow e estar presente

Mal sabia eu o presente que ela me deu. Talvez ela tenha sido cruel e irresponsável. Talvez ela tenha consciência do que queria provocar. A forma como eu mesma digeri é que foi meu grande presente de evolução. E hoje agradeço.

Eu esse ano não fiz nenhuma promessa, não pulei as 7 ondinhas.

Eu fiz apenas um pacto comigo mesma: a de sentir o flow de tudo ao meu redor e seguir com calma o meu caminho. Um dia de cada vez sentindo os sinais e as direções que a vida me indicar. Porque se eu parar para pensar: as melhores coisas que me aconteceram nessa vida, eu não planejei, eu estava apenas preparada para que acontecessem.

Comecei este ano com tudo, força total, dando vida a um projeto maravilhoso que vai gerar muito impacto positivo. Não foi no meu tempo desejado, porque uma das pessoas do projeto viajou. Outro ficou doente. Tudo bem, sentindo o flow. É porque algo melhor ou ideia ou pessoa vai surgir para enriquecer tudo. Tudo sempre certo. Confia.

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Desacelerei e no meio de janeiro fui para Bahia passar 10 dias como madrinha de casamento de uma grande amiga. Fui estar com ela no que antecedia a cerimônia, preparativos e boas energias. Foram dias que me permiti parar em vez de normalmente acelerar. Tudo bem. Me abasteceu.

Voltei da Bahia numa segunda-feira já com compromissos, publicidades marcadas, palestras agendadas, retiros programados.

Nem sempre nossos planos se realizam

E também me programei para passar um mês inteiro num dos meus cantos preferidos do sul do mundo sozinha, produzindo conteúdo, caminhando na praia, fazendo terapias e realizando outro grande projeto para este ano. Datas marcadas. Já passaria meu Carnaval no meu retiro individual.

Eis que três dias após minha volta da Bahia, começo a sentir uma coceira na testa e couro-cabeludo. Tomei antialérgicos naturais, nada resolveu. Dia seguinte, viraram manchas como bolas de coceira pela cabeça e testa, olho esquerdo e rosto. Após mais um dia, dores de cabeça alucinantes. Em seguida, mal-estar generalizado. Desmaio.

Vim trazida às pressas pelo meu companheiro para a emergência do hospital mais próximo. Pensei: Covid? Dengue? Não. Eu fui picada por um inseto que me transmitiu uma bactéria grave que gerou um estresse, baixando minha imunidade e despertando a zoster. Eu, uma das pessoas mais saudáveis que posso ser, tive que me render perante a algo que eu não podia controlar. Não dependia de mim. Precisava entrar no flow e perceber os sinais.

Muita dor, muitos remédios. Eu que não tomo nem aspirina há 20 anos, ficar 10 dias num hospital tomando químicas nas minhas veias, agora todas machucadas?! Nunca imaginei, não planejei.

O estado de presença pode ser a solução para o caos

Na terceira noite internada, sendo espetada dezenas de vezes dia e noite, a cada hora com muito incômodo e dor, eu chorei. Chorei muito. E rezei. Não pedi nada. Agradeci. Sim, eu agradeci pela oportunidade de poder evoluir na dor. Porque é isso que ela faz. Eu não sou Buda, ih…. Bem longe disso! Tenho minhas milhares de falhas em processo de melhora. Orando e me vigiando a cada dia.

Nessa noite, no pico do sofrimento físico, eu coloquei uma frequência de cura no YouTube enviada por uma amiga. E rezei para meus mestres, mentores espirituais, anjos, agradecendo por cada dia da minha vida, aceitando e sublimando com toda fé o tempo do tempo que eu precisava para acalmar e frear tudo.

Passei essa noite acordada ouvindo a frequência de cura. Não dormi nada, e me vieram à mente tantas ideias, todas as soluções, inspirações que eu estava há meses buscando. Como se tivesse aberto um portal fazendo downloads.

Senti uma plenitude no peito, uma presença forte espiritual a minha volta e um perfume de flores adocicadas. Perfume num ambiente onde as flores são barradas na portaria lá no térreo, tudo é sem cheiro e esterilizado.

A gratidão pela vida

Olhei no relógio da parede do quarto: 3h33 da madrugada. O horário dos anjos.

A verdade é que a gente faz planos, enquanto divertimos os deuses e deusas que dão risada.

Os milagres estão acontecendo o tempo todo. Você só precisa estar presente e de olhos abertos (não no celular) sentindo tudo a sua volta.

Eu não sei se vou morrer cedo ou não. Eu só sei que se eu já era intensa antes de ouvir isso, hoje eu dou valor para absolutamente tudo. Das mínimas coisinhas às grandes manifestações. Tento fixar na minha memória cada cheiro, sabor, momento, visão, companhia, abraço, sensação.

E esse foi o grande presente que ela me deu falando da minha morte: a minha única promessa que é viver a vida mais plena que eu poderia ter.

Obrigada. Obrigada. E obrigada.

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