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Corpo, comida e afeto: uma reflexão sobre culpa e aceitação
Gilnature | iStock
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Neste artigo:

Evelin Cabreira, autora do texto a seguir, faz parte da Comunidade Vida Simples. Ela narra uma jornada gastronômica com afeto, questionando a associação de culpa à comida e ao corpo, em prol da aceitação e do amor-próprio.

Uma celebração das memórias culinárias

Eu amo comer coisas diferentes, ando pela cidade à procura de pratos que eu não sei o nome, mas que meu coração (que fica ao lado do estômago) com certeza sabe bem.

Comer, para mim, se tornou uma experiência afetiva, dessas que nos teletransporta, que traz contentamento e satisfação, não só pela comida, mas por tudo que ela envolve.

Tem cheiro, textura, nomes dos mais variados, tem ingredientes que a gente nem imagina de onde saiu, tem o exótico, o trivial e tem o simples. Tem o inusitado, o que mistura doce com salgado e, na minha opinião, foi um acaso divino de alguém que decidiu juntar duas coisas muito boas para ver no que dá.

Especialmente se tem queijo coalho com mel ou goiabada, aquele gosto agridoce difícil de explicar, mas que dispensa qualquer explicação, um sabor que me faz lembrar as viagens que fiz para Minas Gerais.

Me lembra também a saudosa avó Maria, a mineira que nunca economizou nem no afeto, muito menos na comida. Ela sabia bem como preencher vazios de todos os tipos com o seu talento inegável na cozinha, comer sua comida era como receber carinho na alma e eu sei que você já deve ter sentido isso alguma vez na vida. Mudam-se os nomes, mudam-se as cidades, mas sabor de Minas é sempre de Minas.

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Nenhum sabor do mundo supera o afeto de Minas

Viajei por 13 países e provei pratos das mais variadas cores, sabores e lugares. Conhecer uma parte do mundo me fez comer de tudo, porque isso também é cultura, então minhas melhores memórias, adivinhem, também tem comida! Mas, nada supera Minas.

Falo de Minas porque é, para mim, uma referência mundial na arte da culinária. Também, se há alguém mais afetivo que o povo mineiro, desconheço.

A gente sente afeto na comida, na fala, no abraço gordinho de vó, que encosta barriga de avental no forno a lenha e coloca parte de todo o seu amor na panela. Essa é a forma mais perfeita de demonstrar amor.

Mas, em tempos de redes sociais e padrões corporais, o afeto anda perdendo seu brilho. Afinal, comer também engorda, dá barriga, causa culpa e nessa cultura da dieta excessiva também virou pecado — mas não em Minas.

Aceitando o corpo, saboreando a vida

Concordo que a gula faz mal, é verdade, mas será que a culpa também não faz? E se meu corpo, que é abençoado e não culpado, também for visto como um veículo e um instrumento para me fazer feliz?

Pouco importa aquela barriguinha que está ali para me lembrar de parte das minhas histórias. Por isso, não posso cortá-la, criticá-la ou fazer uma lipo em tudo de bom que já vivi, não seria justo nem comigo, nem com Minas, e muito menos com a Dona Maria.

E já que a maturidade e a vida adulta são um prato cheio de perdas e percalços, resolvi aceitar os meus bocados, as porções e os meus pedaços, aceito também os meus inteiros. Inclusive, mais uma fatia de queijo, com mel e afeto, por favor!


Evelin Cabreira (@evelincabreira_) é terapeuta de estilo e imagem, amante de boa comida e viagens e aspirante a escritora nas horas vagas.


Este texto foi produzido por um membro assinante da Comunidade Vida Simples e publicado no blog Você + Simples.

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