Livro fala sobre envelhecer com afeto e autocuidado
Ter medo de envelhecer é um dos receios mais comuns na vida dos seres humanos. A pele não é mais tão juvenil, o cansaço e as limitações vão chegando… Afinal, é uma nova fase da vida. Fugir do envelhecimento, entretanto, não é uma possibilidade. Inspirada nessas angústias e reflexões, a escritora Lucia Seixas decidiu passar um mês sabático e colocar tudo o que sentia no papel. Assim saiu “Trinta dias aos 60”, um livro que nos convida a fazer com que o envelhecer seja contemplado com amor, afeto e autocuidado.
Trinta dias aos 60 poderia muito bem ser uma metáfora para explicar algum momento da vida ou qualquer outra anedota que possa surgir à nossa mente. O título, entretanto, é literalmente o período de tempo que Lucia Seixas, a autora deste livro, dedicou para fazer reflexões, pensamentos e questionamentos sobre sua própria vida e seu envelhecimento.
O relato autobiográfico reúne suas anotações mais particulares e sensíveis que decidiu compartilhar com os leitores, em um movimento de colocar tudo o que sentia no papel e torná-lo público. A escritora, que também é jornalista, iniciou sua vida literária como ghostwriter, escrevendo livros para outras pessoas e, depois, publicou obras autorais e fez muito sucesso com a literatura infantil, como o livro Procura-se um Coração. Mas, a autora viu sua vida mudar e, com ela, as percepções sobre as novas histórias que surgiam, direcionando-a mais uma vez para um público diferente, o da terceira idade.
“Quando eu fiz 60 anos, eu comecei a perceber que minha vida tinha mudado bastante. Eu me aposentei, comecei a ter certas questões que não tinha antes, os cabelos brancos começaram a se tornar mais visíveis”, relembra.
Lucia conta que esse momento foi fundamental para ela se questionar sobre diversos elementos da sua vida, por exemplo, a forma como estava aproveitando o tempo livre, a família, as coisas que gosta de fazer e, com isso, “várias mudanças me fizeram perceber que eu estava realmente em uma fase diferente“, acrescenta.
Mês sabático
A história do livro Trinta dias aos 60 nasceu de forma muito despretensiosa, como um acaso da vida, embora os indícios já apontassem para o que Lucia futuramente planejava construir. Isso porque a escritora tem uma pequena casa em uma vila com cerca de 250 moradores no interior de Minas Gerais.
Lá, decidiu passar cerca de trinta dias sozinha, sem a família, sem as distrações tecnológicas e a vida urbana no Rio de Janeiro, refletindo sobre seu próprio processo de envelhecimento.
Ela, que foi mãe aos 18 anos, mas engravidou novamente aos 19, teve outro filho aos 31 e o último, que nasceu quando tinha 34, sempre teve uma rotina muito corrida e cheia de afazeres no dia a dia, seja com os cuidados da casa, da família ou com o trabalho enquanto era jornalista. Ter um mês inteiro somente para si era algo que ela buscava que acontecesse para poder olhar para dentro, perceber suas fragilidades, fortalezas e conquistas. “Nunca tive muito tempo pra mim e com essas mudanças todas eu senti a necessidade de passar um tempo sozinha”, enfatiza.
Nesse curto período em que passou no interior de Minas Gerais, Lucia percebeu o quão precioso é o tempo e como sua vida pode ser transformada a partir de experiências tão singulares como o contato com outras culturas, povos, tradições e modos de viver a vida. “Várias coisas aconteceram, você ter que arrumar sua casa, fazer tua comida, não ter celular, nem televisão, isso tudo faz você pensar em si mesmo”, narra Lucia.
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Trinta dias aos 60
Apesar de esse ser o nome do livro, é também a quantidade de dias em que Lucia passou no interior de Minas com as próprias vivências pessoais e as reflexões que foram surgindo. E por que não transformar todas essas ideias em um livro? Foi justamente isso que a escritora pensou no momento em que tentava digerir tudo o que viveu e passou durante o período sabático.
Assim nasceu o livro, um relato em primeira pessoa que aborda com amor, afeto e autocuidado na chegada da terceira idade e do envelhecimento, “é totalmente autobiográfico, e junto a isso todas essas questões que a gente está enfrentando agora, são coisas que as mulheres no passado na minha idade não passavam, como essa obsessão pela juventude”, explica Lucia.
Em um dos capítulos, por exemplo, Lucia narra o prazer de varrer o quintal, de se conectar com sua casa e com todo o ecossistema que rodeia o ambiente. Ao lermos isso, parece ser algo tão simples, mas quando foi a última vez que fizemos isso? Os condomínios, a correria do dia a dia, as ruas asfaltadas e impermeabilizadas dificultam o contato com o nosso lar e os cuidados que mantemos com ele.
“Num outro capítulo eu falo sobre dinheiro, [aqui] não tem vitrine, não tem coisas te chamando para comprar, você redescobre o valor do dinheiro na sua vida”, relembra Lucia ao contar sobre a vida no local. Um dos seus maiores aprendizados, conta, é apreciar a contemplação, o ambiente em que vive, carregando o conceito de Bem Viver, originado entre os povos indígenas da América Latina. Esse movimento significa em termos literais o viver bem, a conexão com a natureza, o respeito ao corpo, aos seus limites e ao meio ambiente.
A escritora defende ainda que a terceira idade e o envelhecimento, como um todo, são momentos em que precisamos olhar para dentro, repensar nossos valores, a forma como vivemos e reproduzirmos nossas vidas.
“A pessoa tem que se preocupar ou se interessar por coisas que vão engrandecer a vida dela, ela tem que se interessar por arte, por política se ela gostar, ela tem que continuar curiosa, cuidar dela e do seu crescimento como ser humano”, explica.
Para Lucia, envelhecer em um local onde haja respeito, tempo para viver e acessibilidade para as pessoas idosas é essencial para que a vida seja mais leve. “Eu acho que envelhecer no interior é muito melhor, envelhecer em um lugar menos agressivo para as coisas básicas da vida”, defenda a escritora.
Lucia acredita que é importante deixar de lado alguns preconceitos e estereótipos que são criados sobre o envelhecimento.
Há formas de viver a terceira idade de maneira saudável e menos agressiva ao seu corpo, deixando de lado os julgamentos sobre aparência, a relação com os familiares, os problemas de saúde que podem surgir e os desafios que aparecem ao longo da idade. “Acho que aceitar a velhice é eliminar uma boa dose de sofrimento”, conclui a escritora.
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