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Reduzir as expectativas pode trazer mais felicidade?
Artem Maltsev
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A ansiedade com uma nova oportunidade de emprego, ou as expectativas para assistir a um novo filme que será lançado no cinema… somos movidos pela curiosidade e a imaginação de cenários futuros. Você com certeza já deve ter se frustrado em algum momento da vida, seja em um relacionamento ou na apresentação de um projeto que não saiu como esperado. No entanto, apesar das expectativas nos acompanharem ao longo da vida, como elas influenciam a felicidade e o próprio bem-estar do ser humano? 

Imagino que, assim como a maioria das pessoas, o objetivo de cada um de nós seja sermos felizes e estarmos satisfeitos com a vida que levamos. A felicidade, objeto de pesquisa em diferentes áreas do conhecimento, é essencial para uma vida plena e conectada ao seu propósito de vida. Mas, e aí, como regular as expectativas para que elas impactem positivamente no nível de satisfação de uma nação? 

Para Gustavo Arns, pesquisador e presidente da Escola Brasileira de Ciências Holísticas, o tema vem sendo estudado ao longo dos anos e se divide em duas linhas principais. Uma, mostra que as expectativas têm um impacto negativo na perspectiva de bem-estar. A segunda apresenta que, ao contrário, elas nos ajudam a perseguir sonhos e alcançar objetivos. Mas, calma aí, não é tão simples assim como “preto ou branco”, tem mais história por trás.

Reconhecer a realidade

Arns brinca com um velho ditado, “a expectativa é a mãe da frustração“, por isso o pesquisador defende que a redução das expectativas pode contribuir para um nível maior de felicidade. Podemos pensar em exemplos simples do dia a dia. Se você conheceu alguém recentemente, é precipitado imaginar que essa pessoa será seu futuro parceiro de vida e dividirão uma casa juntos.

Prospectar cenários tão longínquos podem fazer com que, caso não aconteçam, o ser humano passe a vivenciar episódios de frustração provocados por altas expectativas. Por isso, buscar um equilíbrio entre a realidade e o que você espera que aconteça é considerado mais saudável e benéfico para a saúde mental.

Seguindo esse mantra, pesquisas recentes tentam explicar os motivos dos países nórdicos estarem frequentemente nas posições iniciais do ranking de felicidade. É claro que as melhores condições de vida, o apoio de políticas públicas e um modelo de seguridade social ajudam a explicar. No entanto, há outros países que também se enquadram nesse cenário, mas por que não aparecem na disputa pelo primeiro lugar?

“Hoje, alguns autores compreendem que nos países nórdicos há um histórico de desenvolvimento em um ambiente quase inóspito, por conta do frio, do terreno e do solo. Isso trouxe culturalmente expectativas reduzidas sobre a vida,” explica Gustavo Arns.

Mas não podemos levar isso como a única justificativa plausível. Como o próprio Arns explica, o Afeganistão ocupa uma das últimas posições e, neste país, é comum a prática cultural de empinar pipas. Podemos dizer, então, que empinar pipas nos deixa menos felizes?

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Hábitos culturais

Para Arns, outro elemento que ajuda a explicar os índices de Felicidade na região nórdica são as baixas expectativas sobre a vida. Na Finlândia, por exemplo, os relatos explicam que as pessoas são mais frias, descritas como pessimistas, mal-humoradas e não sorriem desnecessariamente. Por outro lado, desfrutam da vida com maior contentamento com uma relação de proximidade com a natureza.

Nas palavras de Arto A. Salonen, professor da Universidade da Finlândia Oriental, os finlandeses costumam viver de forma mais sustentável e consideram o sucesso financeiro a satisfação de suas necessidades básicas. “Quando você sabe quanto é o bastante, você se sente feliz“, explica o professor ao jornal New York Times.

No Brasil, o pesquisador Gustavo Arns mostra que herdamos traços culturais norte-americanos, especialmente dos Estados Unidos. “Um modo de vida em que devemos nutrir, sim, expectativas sobre a vida, que nos colocam em movimento, mas criam situações irreais ou nos levam a comportamentos de excesso de trabalho, redução de tempo e objetividade nas ações.”

Segundo o professor, esse estilo de vida acelerado acaba por prejudicar o bem-estar e o índice de satisfação do ser humano. Por isso, ele apresenta uma fórmula simples: felicidade = realidade – expectativa. Ou seja, mesmo que você vivencie um padrão de vida adequado às suas necessidades, alimentar altas expectativas pode trazer inúmeras frustrações e uma sensação de infelicidade.

Expectativas ajudam

Outros pesquisadores vão tentar explicar que, pelo contrário, as expectativas são importantes para manter nossa “chama acesa”. Para a professora Jolanta Burke, da Universidade de Medicina e Ciências da Saúde do Colégio Real de Cirurgiões da Irlanda, os estudos na área de Psicologia apontam a relevância e importância de manter as expectativas.

“As altas expectativas, quando são realistas, podem servir de força motivadora rumo a uma mudança. E as altas expectativas também nos mantêm otimistas, para continuarmos avançando frente às adversidades”, explica a pesquisadora à BBC.

Ela demonstra que, quando algo negativo ou ruim acontece na vida de alguém, manter as expectativas em alta podem abrir caminhos positivos. Em um término de relacionamento, é comum que as pessoas imaginem que nunca mais irão encontrar outra pessoa. Mas, se houver altas expectativas, é possível que você se sinta motivado em criar um perfil num aplicativo de relacionamento.

Para ela, as baixas expectativas contribuem para que as pessoas sonhem menos alto ou imaginem que não serão capazes de alcançar algo que almejam. “Um dos motivos que levam as pessoas a não querer ter altas expectativas é se proteger da desilusão quando suas esperanças não se realizarem“, explica Burke. No entanto, ela mostra que aprender a controlar as emoções e lidar com a frustração são caminhos que amenizam os efeitos de uma expectativa não concretizada.

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