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Síndrome de Burnout: quais os sintomas mais comuns e como se cuidar?
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Dificuldade de concentração, cansaço constante, procrastinação e uma diminuição na produtividade. Esses são alguns dos sintomas comuns presentes em pessoas que sofrem com a Síndrome de Burnout, classificada como doença ocupacional desde o início de 2022 pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, cerca de 30% dos 100 milhões de trabalhadores sofrem com o problema, segundo dados da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt).

O país está em segundo lugar no ranking mundial, de acordo com o Stress Management Association (Isma), atrás apenas do Japão. Especialistas explicam que uma reconfiguração nos modelos de trabalho, o impacto da Era Digital na sociedade e os episódios de autocobrança são fatores que potencializam o problema.

O auxílio de profissionais de saúde qualificados, como psicólogos e psiquiatras e atividade física regular é essencial. Estabelecer uma rotina de autocuidado e bem-estar – respeitando os horários de lazer e descanso – também é apontada como importante para a prevenção e tratamento do esgotamento mental.

Vivendo na velocidade 2x

Alguns aplicativos e sites de streaming implementaram nos últimos tempos a possibilidade do consumo de conteúdos em uma velocidade maior ou ouvir áudios com mais rapidez. É uma ótima ferramenta, permite que mensagens de voz longas sejam reduzidas a menos tempo e a conversa ocorra com maior fluidez. Mas será que isso vale para a vida?

Temos 24h a cada dia, diluídos em tempo de trabalho, sono de qualidade, alimentação, deslocamento e atividades que trazem bem-estar ou que são chatas e cansativas, como lavar a louça e limpar o ralinho da pia. No entanto, querer transformar um dia em 48h vivendo na modalidade 2x talvez te leve a um quadro de esgotamento mental.

“Podemos dizer que o cansaço da sociedade e das pessoas é uma consequência do estilo de vida atual”, destaca a psicóloga organizacional Edwiges Parra.  “Especialmente se considerarmos a Era Digital, caracterizada pelo excesso de conteúdos e crescimento do fluxo de informação”, acrescenta. 

Segundo a especialista, o contexto digital nos obriga a administrar não só a nossa vida, mas também fazer parte ativamente das interações das pessoas que acompanhamos nas redes sociais. Além de trazer cansaço mental, isso faz “com que o cérebro esteja trabalhando constantemente no fluxo dessas informações”, explica Edwiges. 

No entanto, a profissional deixa claro que um quadro de esgotamento mental não significa, necessariamente, o diagnóstico de Burnout. “É preciso haver uma investigação sobre o estilo de vida de uma pessoa para poder afirmar, de fato, que ele esteja em um quadro de Burnout relacionado ao trabalho.” 

Sintomas mais comuns

Estar em uma situação de desgaste emocional e esgotamento é ruim, mas isso não significa que você deva se culpar ou fazer autojulgamentos, não é hora para isso. E, embora os sintomas de Burnout sejam semelhantes a de transtornos psicológicos como a depressão, o contexto é quem ajudará a esclarecer o que de fato você está passando.

Quando com sintomas de burnout presentes no texto. Alessandro Fernandes/ Vida Simples

O psiquiatra Alexandre Valverde explica que, no Brasil, o Burnout está associado, na maioria dos casos, ao trabalho, embora nem sempre essa seja a causa principal do diagnóstico. O médico destaca ainda que o crescimento de pessoas com a síndrome cresceu durante a pandemia da Covid-19, intensificado pelo isolamento social e poucas opções de lazer.

O principal perfil é aquela pessoa com autoexigência, autocrítica, que gosta de tentar oferecer o seu melhor e tende a abdicar da rotina de autocuidado para se dedicar ao trabalho”, destaca Valverde, que possui mestrado em Filosofia Contemporânea pela Universidade de Paris-1 Panthéon-Sorbonne.

“Você tem um ambiente de trabalho no Brasil, mas também no mundo inteiro, extremamente nocivo. Isso ocorre porque é um lugar de competitividade, que exige que as pessoas deem de si mais do que o contrato exige. As pessoas acabam passando mais horas de trabalho do que o regulamentado.”

O psiquiatra lembra que, além dos sintomas listados, há ainda uma tendência à procrastinação e hiper-reatividade afetiva. Tudo isso se assemelha a uma depressão. Então, se essas alterações duram mais de 15 dias e a pessoa não consegue se cuidar e regular esses fatores, isso pode agravar o quadro”, explica.

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Fui diagnosticado com Burnout, e agora?

A médica dermatologista Paula Sian passou a perceber alguns sintomas da Síndrome de Burnout em seu corpo, embora os alertas não tenham sido percebidos em um primeiro momento. “O corpo sempre sinaliza, mas nós escolhemos ignorar. Estamos tão frenéticos naquilo que fazemos e nos negamos a olhar para nós mesmos”, explica.

Ela lembra que passou a se desvalorizar, sentia a mente muito agitada, insônia, sudorese excessiva, sensação de calor a todo momento e ranger de dentes. Sintomas físicos não são raros e é comum que também surjam aftas, gastrite, refluxo, palpitação, batedeira (arritmia cardíaca) e lombalgia.

Paula destaca que, como o corpo não tem tempo para descansar e se reparar, é comum que as energias sejam direcionadas para as funções vitais. Por isso é possível haver queda de cabelo, unhas fracas e pele seca. Além disso, pela situação de estresse, a Amigdala cerebral – conhecida como cérebro reptiliano – ativa uma sensação de medo constante.

Assim, o corpo produz neurotransmissores responsáveis pela fuga e pela luta: adrenalina, cortisol, noradrenalina. E isso acelera o coração, gera palpitação, tremor de extremidades, inapetência, sudorese“, explica Paula. Em casos assim é preciso lembrar que uma folga ou semana de férias não resolvem, mas sim um afastamento formal e acompanhamento profissional.

“Para mim, foi importante me desvincular dos relacionamentos tóxicos, pois a minha chefe era apenas um deles. Por isso, tive que aceitar que eu estava me sujeitando a repetição de ciclos, e precisava mudar isso. Sair do emprego foi só o começo do tratamento de uma grande Bola de Neve chamada submissão e perfeccionismo“, finaliza Paula.

O papel das empresas no combate ao Burnout

Combater a autocobrança, o perfeccionismo e ter horários de lazer delimitados com práticas de bem-estar são passos importantes para a prevenção do Burnout. Ainda assim, o trabalho precisa ser feito de forma conjunta entre os trabalhadores e a empresa, que precisa promover um ambiente mais acolhedor e com menos estresse.

As empresas devem investir fortemente em processos de gestão de pessoas e de processos que sejam transparentes. Deve haver um estímulo à criatividade, autonomia, participação, inovação e pertencimento“, explica o médico do trabalho Marco Cantero, do Instituto Sua Melhor Performance.

O especialista destaca que é necessário haver a qualificação de lideranças e definição clara de propósitos. Além disso, objetivos e alto nível de inteligência emocional devem ser prestigiadas. “Equipes com esses perfis são mais resolutivas, gerando sustentabilidade dos negócios“, enfatiza.

QUADRO INDICANDO COMO EMPRESAS PODEM PREVENIR A SINDROME DE BURNOUT NOS TRABALHADORES Alessandro Fernandes/ Vida Simples

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