COMPARTILHE
Meditação: a escolha para reconquistar uma mente em paz, criativa e feliz
Mor Shani
Siga-nos no Seguir no Google News

Quando éramos bem pequenos, vivíamos como se estivéssemos meditando.

Estávamos constantemente no agora. Nos sentíamos soltos, livres, amados e protegidos. O mundo era grande, havia muitas possibilidades e queríamos experimentar tudo o que fosse possível. Não havia espaço para tédio, cansaço ou desânimo. A lembrança do que realmente éramos ainda estava forte e viva. Nos sentíamos prontos para o mundo e preparados para todos os desafios, descobertas e experiências.

Entretanto, à medida que crescemos, parece que as possibilidades do mundo foram diminuindo. Muitos passam a acreditar que alguns dos lugares que gostaríamos de ir já eram distantes e que boa parte das coisas que queríamos fazer já não eram mais possíveis. Além disso, para alguns, não existia mais tempo e espaço para simplesmente sermos nós mesmos e aproveitarmos a vida.

Aonde foi parar aquele menino ou aquela menina? Muitas vezes é o que nos perguntamos, encharcados com tantos “tem que” e “tarefas”. Onde foi parar aquele olhar vivo, atento e entusiasmado que eu tinha? Por que algumas coisas parecem tão difíceis agora? De onde vem esse medo frequente que ando sentindo?

Se você já se fez essa pergunta ou continua fazendo, é provável que sua mente esteja cansada e clamando por ajuda.

O cérebro como ponto de equilíbrio

Dependendo da natureza dos pensamentos, a presença do paraíso ou o inferno estará dentro de você

Apesar de sermos constituídos de uma série de dimensões  (física, emocional, energética e mental), é por intermédio do cérebro e consequentemente da mente, que operacionalizamos nossa existência e lidamos com nosso dia a dia. Muito tem se falado sobre inteligência artificial, deep learning e as maravilhas que esses supercomputadores podem fazer, entretanto, a máquina mais avançada que existe no mundo está acessível para nós o tempo inteiro, dentro da nossa cabeça.

E o mais extraordinário é que cada uma das quase 8 bilhões de pessoas do planeta possui uma máquina dessas e que é, absolutamente, diferente das demais. Essa máquina única é capaz de revolucionar a sua vida em todas as esferas, ou seja, seu modo de ser, pensar e agir. Portanto, sua própria realidade.

Por causa disso,  desenvolver uma relação saudável, clara, serena e disciplinada com a sua mente é certamente o melhor caminho para uma vida mais plena.

Por meio do cérebro, experenciamos a realidade e a interpretamos. É também por meio dessa espécie de “prefeito” do nosso corpo, que nossos sentidos operam, orgãos trabalham e expressamos nossos desejos e vontades.

Então, quanto mais nossa mente tiver a capacidade de enxergar o todo com clareza, equilíbrio e entusiasmo, mais aptos estaremos para lidar com as situações e desafios que se apresentam e voltarmos a enxergamos o mundo com a simplicidade e a leveza das crianças.

O ônus de uma mente cansada e as bençãos de uma mente nutrida

Uma mente sobrecarregada perde a capacidade de enxergar todas as cores, cheiros, formas e nuances da realidade, sendo fonte fértil para estados de entediamento e apatia. É também débil em sua capacidade de se entusiasmar e perceber a infinidade de possibilidades que há à sua frente. Quando está desgastada e tensa, tem diminuída a sua capacidade de se conectar e agradecer por todas as trocas que se apresentam. 

Por isso, quanto mais conseguirmos nos distanciar dos pensamentos irrequietos que geram as emoções conturbadas e nos mantivermos centrados em nossa própria base e eixo, melhores escolhas faremos e mais felizes nos sentiremos. Todos nós já sabemos, mas nunca é demais relembrar: uma mente fragilizada é a fonte de todos os nossos maiores desafios e problemas.

Já uma mente saudável é uma grande aliada para uma vida realmente extraordinária, em suas pequenas e grandes manifestações. É fonte infinita de possibilidades para operarmos com todo o nosso potencial. 

Busque uma mente serena

É aquela que sabe repousar e descansar sempre que deseja, mas também sabe se aprumar e se por a postos quando uma situação necessita de sua perspicácia, análise e inteligência. Quando está clara, nossa mente funciona como uma espécie de lente translúcida, com alta capacidade de ver as coisas como se fosse a primeira vez.

Essa natureza límpida, além de ajudar a nos encantarmos com tudo que acontece à nossa volta, nos distancia das armadilhas da própria mente, que muitas vezes pré-concebe, julga ou interpreta tudo que vive, com base nas memórias e associações do passado, que tem a capacidade de se comportar como uma observadora de seus próprios padrões, hábitos e tendências, ampliando a possobilide de aceitar, confiar e encontrar novos caminhos, mesmo diante de questões desafiadoras. 

Uma mente serena não se afoba ou se identifica com tudo que está ao seu redor e, por isso, tem a possibilidade de manter um distanciamento para perceber a avaliar toda e qualquer situação, da mais simples, à mais complexa, com maior sabedoria e discernimento. 

MAIS DE ANA PAULA BORGES

Por que comecei a meditar e o que aprendi com isso

Sinta o que você deseja e deixe o universo te guiar

Desista de complicar: valorize a simplicidade

Meditação, um caminho para cuidar da sua mente

A meditação, por ser uma ciência cuja matéria prima é a própria mente, pode nos ajudar, sobremaneira, na conquista da mente que desejamos: amiga e parceira, que é ao mesmo tempo fluida e disciplinada.

Ela opera para o bem do indivíduo, ajudando-o a alcançar uma vida gratificante e feliz,  consegue focar quando é preciso, devanear quando estamos em busca de livres associações e insights criativos, se aquietar quando desejamos contemplar, se entregar e transcender quando almejamos nos unir à fonte de toda a energia e nos deleitarmos com toda a bem-aventurança que encontramos ali.

Janete, uma advogada muito perspicaz, chegou no meu consultório querendo aprender a meditar, mas antes que eu pudesse falar uma palavra, já foi avisando:

“Já entreguei, várias vezes, uma ordem de despejo, mas essa inquilina velha e mal-educada, que mora aqui, resiste em se mudar. Muitas vezes me sinto uma intrusa e convidada não bem-vinda, em meu próprio corpo. Eu até quero aprender a meditar, mas, não acredito que essa minha cabeça complicada vá mudar”

Apesar dessa explicação bem-humorada, sentir-se refém da sua cabeça não tem nada de engraçado. Uma mente indisciplinada gera uma enormidade de estragos, desde aumento dos níveis de ansiedade e estresse, distúrbios no sono, falta de energia e a falsa ideia de que não há muito o que se fazer.

Os danos do estresse na mente

Muito mais do que frituras e outras drogas do cotidiano, uma psique estressada é a forma mais rápida de danificar nosso sistema. Isso porque, o estresse, entre outras consequências, bloqueia a neurogênese que é o processo de surgimento de novos neurônios e, portanto, da capacidade do cérebro se transformar e buscar novos caminhos.

Nos anos 60/70 acreditava-se que quando o cérebro chegasse à idade adulta, ele não poderia mais crescer ou mudar. Essa ideia ajudava a explicar a fala de Janete e de tantas pessoas que acreditavam ser difícil mudar comportamentos, os padrões emocionais e mentais arraigados que tinham.

Hoje, entretanto, a ciência nos fornece evidências de que o cérebro pode mudar a sua própria forma, reinventar-se, criar novas conexões e funções, permitindo um alto poder de adaptabilidade, transformação e aprendizagem. 

Essas noticías são um sopro de esperança porque mostram que nosso cérebro é plástico e mutável, tornado possível resgatarmos aquele olhar vibrante e entusiasmado que tínhamos pela vida e acabou se perdendo em algum canto.

Se você ainda não experimentou a meditação, te convido a fazer isso. Tenho certeza que ela vai mudar a sua vida.

Quer tentar um pouquinho agora? Vem, vamos praticar…

Experimentando um pouco de paz e bem-estar

Leia o pequeno protocolo abaixo e quando tiver preparado, comece. Para te ajudar a relaxar, coloque no seu celular um alarme gentil com 5 minutos, para que você não precise se preocupar com o tempo. Boa prática! 

Fase 1 – Percebendo-se

Sente-se, confortavelmente e feche os olhos. Não precisa nem força ou tensão. Apenas feche os olhos, suavemente.

Fique um pouco assim. Perceba-se.

Pergunte-se: Como está tudo aí dentro? Como me sinto?

Procure ser específico em como se sente. Fuja das percepções generalistas. Você pode deixar vir uma imagem mental que o ajude a traduzir como se percebe.

Pressionado como um parafuso? Preso como um passarinho na gaiola? Leve como uma pluma ou solto como um balão de gás? 

Ok, para qualquer uma das maneira que você por ventura se sentir. Não se identifique com nenhuma dessas formas, pois sua mente está sempre em movimento e nada do que você pense ou sinta é, essencialmente, você. São apenas estados passageiros. Como nuvens no céu que veem e vão.

Fique assim por um tempo. Apenas percebendo-se.

Fase 2 – Entrando no estado de observador de si mesmo

Aproveite agora para perceber sua atividade mental: os  pensamentos indo e chegando. 

Como eles se apresentam?

Passam como leves marolas ou são grandes ondas? Eles são claramente visíveis ou se parecem mais como um vulto? Apresentam-se isolados? Ou surgem em cadeia, sobrepondo-se uns aos outros?  

Apenas continue assim. Respirando naturalmente e observando o que acontece dentro de você. 

Em alguns momento, você também pode se distrair com algum barulho ou estímulo externo. Não há problema. Da mesma forma que você observa a chegada de eventuais pensamentos, também percebe outros estímulos à sua volta. Perceba tudo, mas não se identifique com nada.

A ideia não é ignorar nada que percebe, nem forçar um estado de mais serenidade. Isso naturalmente acontece à medida que você se mantenha perceptivo e consciente em seu propósito de observação.

Fase 3 – Modulando a respiração para uma conexão mais profunda

Agora que sente-se um pouco mais centrado, vamos colocar ainda mais consciência e presença ao ato de respirar. Há uma correlação direta entre respirar e nosso estado mental e emocional. Quanto mais nosso fluxo respiratório estiver tranquilo, mais nossa mente e emoções também estarão.

Portanto, inspire lenta e profundamente pelo nariz e solte o ar, também, lentamente pelas narinas. Se sentir-se muito ansioso ou pressionado, pode expirar pela boca semi-aberta. Se quiser, faça um barulhinho ao soltar o ar, como se estivesse esvaziando-se. 

Isso, inspire, como se estivesse preenchendo-se de luz e paz. E expire, como quem se esvazia e se liberta de toda e qualquer preocupação ou tensão. 

Essa respiração mais alongada provavelmente vai te ajudar a ir para um estado de relaxamento.

Ao se sentir mais sereno e relaxado, apenas permita que sua respiração volte ao seu fluxo natural. 

Não há mais necessidade de controlar ou direcionar a respiração. Apenas deixe que a respiração flua, naturalmente. Seu cérebro sabe qual é o melhor ritmo para você neste momento.

Permaneça, assim, conectado com seu universo interior.

Impressões sobre a prática

E então, como foi? 

Confortável, relaxante e prazeroso ou você sentiu-se irrequieto e louco para terminar? Em princípio, não há certo e nem errado, qualquer coisa que você sinta faz parte da experiência inicial.

Independentemente do que você tenha sentido, essa percepção diz muito sobre como você esteve na experiência. Como se sentiu e o que pôde perceber. Isso é consciência. Ampliar essa percepção é parte do que buscamos na meditação.

A maioria das pessoas frustra-se ao perceber que é difícil acalmar os pensamentos. Também se ressentem ao perceberem o quão difícil pode ser manter o corpo quieto, sem se  distrair com os barulhos do ambiente. Perceber essas frustrações e os desconfortos já fazem parte da prática meditativa. Portanto, não desanime. Procure um professor ou escola de meditação e continue praticando.

O resultado para essa decisão não poderia ser mais gratificante. Uma mente em paz, criativa e feliz.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

0 comentários
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

Deixe seu comentário