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Veja como transformar um simples fim de semana em “férias”
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Sair do expediente de trabalho na sexta-feira e continuar a rotina fim de semana adentro cumprindo tarefas e demandas é uma prática comum. A distância entre o último dia útil da semana e a segunda-feira parece ser tão pequena que dá a impressão que o melhor a se fazer é continuar o trabalho e concluir as pendências, de forma a otimizar todos os processos. A longo prazo, pensamentos como esse podem desencadear regimes de trabalho adoecedores, diagnósticos de transtornos mentais e síndrome de burnout. Indo na direção oposta, que tal aproveitar seu tempo de verdade e transformar o seu fim de semana em pequenas “férias”?

Nos Estados Unidos, uma pesquisa do Pew Research Center mostrou que apenas 48% dos estadunidenses utilizam o período total de férias. Algumas pessoas só conseguem viajar se levarem um laptop e checarem o e-mail com frequência. Isso revela que se dedicar plenamente ao descanso e ao momento presente é um desafio nos tempos atuais. Afinal, mesmo que a gente persista, algum colega de trabalho vez ou outra irá enviar uma mensagem no WhatsApp fora do expediente para checar uma informação.

“A cultura da instantaneidade, que é amplificada pela tecnologia digital, desempenha um papel significativo nesse cenário”, explica Mariah Theodoro, psicóloga e mestre em Medicina Preventiva pela Universidade de São Paulo (USP). Segundo a especialista, o fenômeno da globalização e dos diferentes fusos horários contribuem para uma jornada contínua. Mas não só isso, o estímulo à produtividade e à competição, além da busca pela eficiência e produtividade, também são fatores relevantes.

Por que eu não consigo me desconectar do mundo?

Algumas respostas são bem óbvias e elas certamente ajudam a explicar por que não conseguimos nos desligar do trabalho. A comunicação por meio de redes sociais ou a possibilidade de continuar as tarefas em casa, mesmo depois do trabalho, são alguns exemplos. Mas o campo da Psicologia mostra, cientificamente, como corpo reage a esses estímulos.

Para Patricia Strebinger, terapeuta comportamental e psicanalista, um comportamento conhecido como “reforço positivo” é ativado nesses momentos de longas jornadas de trabalho. Manter-se sempre conectado e disponível traz a sensação de produtividade e importância dentro da equipe, o que motiva o funcionário a reproduzir atitudes que parecem positivas, mas são adoecedoras. “Essa recompensa emocional pode levar as pessoas a se sentirem mais ansiosas ou culpadas quando tentam se desconectar, resultando em resistência a tirar férias completamente offline”, explica. 

Além disso, a especialista mostra que um outro conceito, conhecido como teoria da motivação intrínseca, funciona de forma a gerar estímulos quando uma atividade é prazerosa ou significativa. O senso de propósito e identidade que o trabalho proporciona pode ser um motivador neste caso. “Muitos indivíduos sentem que não podem se desligar completamente durante as férias, pois temem perder essa conexão com sua identidade profissional“, acredita Patricia.

É hora de transformar o seu fim de semana em “mini férias”

A chave para transformar seu fim de semana em um período de férias está no planejamento e na quebra da rotina. Escolha atividades que gostaria de aproveitar nesses dois dias. A escolha é sua e depende de seus interesses e personalidade. Pessoas mais introspectivas podem optar por um retiro espiritual e reconexão com seu eu interior, já outras podem embarcar em uma aventura esportiva.

Mas não se esqueça: avise aos amigos, familiares e colegas de trabalho sobre sua decisão e planos, assim pode evitar ligações inesperadas. Agora, da mesma forma que o sistema de recompensa é atividade no trabalho, podemos muito bem treinar o cérebro para que ele funcione nos momentos de descanso. “Quando escolhemos atividades que nos proporcionam alegria e satisfação durante o fim de semana, estamos ativando a liberação de neurotransmissores como a dopamina, que estão associados a sentimentos que estimulam o prazer”, explica Patricia Strebinger.

Dedicar-se a essas atividades, buscar novos hobbies ou passar o tempo com as pessoas que amamos podem ser boas opções. Isso porque o senso de realização e bem-estar é ativado. “A teoria do ‘fluxo’ de Mihaly Csikszentmihalyi destaca que as atividades que nos desafiam de forma significativa, mas que estão dentro do nosso alcance de habilidades, podem levar a estados de imersão profunda e absorção completa no presente“, pontua a psicanalista. O psicólogo croata é autor do livro “Flow: A psicologia do alto desempenho e da felicidade“*.

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Encarar o fim de semana como um período de férias, mesmo que curto, pode ser uma possibilidade proveitosa de descansar e de se reconectar com seus valores.

Equilibrar trabalho e lazer nem sempre é fácil, então essa é uma oportunidade importante para colocar isso em prática. “Ao planejar e se dedicar a atividades prazerosas e significativas durante esses dias, estamos reafirmando a importância de cuidar de nossa saúde mental e emocional”, reforça Patricia. 

Por outro lado, isso não é suficiente e deve ser encarado como uma medida paliativa. Para Mariah Theodoro, o lazer, as férias e o descanso advém de crenças punitivas com raízes culturais, históricas e subjetivas. “Nossa sociedade cultiva, desde a colonização, um pensamento oneroso relacionado à maneira que devemos nos comportar e nos cobrar, sem descanso, sem presença de qualidade”, explica.

Para a especialista, o conforto só existe e é compensador quando antes houve atividades de sobrecarga, pressão e produtividade. O descanso é visto, nessa visão, como uma prática que retroalimenta um ciclo de rotinas cada vez mais extenuantes. “Se continuarmos vibrando esse padrão cultural aversivo e culposo estaremos impedindo de nos conectarmos com as nossas emoções, com nossas ações assertivamente”.

Para a psicóloga, de nada adianta um mês de férias se nos onze seguintes você irá imergir em uma jornada dolorosa e pouco prazerosa no trabalho. Mas, ruim com férias, pior sem elas. A solução, segundo Mariah, é compreender que os momentos de lazer e descanso precisam e devem surgir ao longo da semana. “Eles devem ter sentido, diversão e relaxamento também”, destaca.

10 passos para implementar o lazer de forma eficiente na rotina

  1. Esteja em contato com a natureza, espaços verdes ou ambientes que possibilitem o silêncio e reconexão;
  2. Recorra a práticas regulares de exercício físico;
  3. Conte com o auxílio de práticas integrativas complementares;
  4. Mindfulness e psicoterapia são indispensáveis;
  5. Estimule a criatividade, assim o estresse e a ansiedade podem ser reduzidos ao longo do dia;
  6. Desconecte das telas e busque atividades táteis, gustativas, visuais ou multissensorias;
  7. Saia com amigos e procure atividades prazerosas;
  8. Assista a um bom filme, leia um livro ou encontre um podcast do seu interesse;
  9. Esteja ao lado das pessoas ou animais que ama;
  10. Crie uma playlist com músicas que ajudem no humor.

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