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Parentalidade gentil: saiba como estabelecer limites nas crianças
MidJourney
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“Foi só uma brincadeira”. Assim começam muitas desculpas. Como todas nós, as crianças precisam de amor e limites, não um ou outro, precisam de ambos. Diante disso, sempre importante lembrar que o Amor não anula os limites, assim como estabelecer limites não anula o amor.

Um dia, eu estava no parquinho com meus filhos e observava algumas crianças, que brincavam no tanque de areia. Essas crianças estavam fazendo pequenos buracos e túneis, eles tiravam a areia com muito cuidado para que não desmoronasse. Em seguida, chegou uma mãe com seu filho, de um pouco mais de 1 ano. A criancinha ficou animada em ver o tanque de areia e, quando chegou, destruiu parte do túnel que as outras crianças haviam feito.

As crianças ficaram bravas, desoladas, e olharam para a mãe do bebê esperando alguma atitude. Essa sorriu e disse: “Não tem problema pessoal! Vamos brincar de outra coisa?”.

Mas, será mesmo que eles queriam iniciar uma nova brincadeira? Qual o limite para respeitar o espaço do outro? Você já refletiu sobre isso?

A importância de estabelecer limites

Nesse cenário, imagino que podemos dividir as opiniões em pelo menos 3 lados. Em qual deles você se encontra?

(1) essa mãe estava certa, as crianças precisam aprender a superar as adversidades;

(2) a mãe deveria repreender o filho, segurando na mão, dizendo que não pode e repetindo o quanto foi feio destruir a brincadeira das crianças; ou

(3) a mãe poderia acolher o sentimento das crianças que tiveram a sua construção destruída, poderia até se oferecer a ajudar a montar novamente ou ao menos apoiar a reconstrução – sem repreender o seu filho e sem diminuir a dor das outras crianças. 

E aí, qual lado você escolheu? Conte nos comentários

É muito perigoso encarar os limites apenas como algo individual. O limite não é algo aleatório. Na maternidade, estabelecer o limite deve ser norteado pela ideia de qual cidadão que você quer construir para o futuro, saindo do individual e olhando para o coletivo, exercendo de verdade o pacto social. 

A busca por abordagens equilibradas e respeitosas que promovem o bem-estar e o desenvolvimento saudável da criança é realmente nova. Para se ter uma ideia, o movimento por uma parentalidade gentil surgiu no início dos anos 2000, tendo sido encabeçado por uma mãe de 4 filhos, a Sarah Ockwell-Smith.

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A parentalidade gentil como filosofia de vida

Apesar de algumas coisas em comum, a parentalidade gentil não é como a parentalidade com apego (por exemplo, a tratada pelo pelo autor Dr. Carlos González). Com certeza as duas teorias são complementares, a parentalidade com apego é um estilo de criação que segue princípios específicos ao passo que a parentalidade gentil é praticamente uma filosofia de vida fundada em 3 princípios:

  1. Entendimento: olhar para si e para o outro, ter uma percepção sobre os indivíduos de forma independente;
  2. Empatia: compreender emocionalmente a si e o outro; 
  3. Respeito: aplicar o entendimento com o olhar da empatia.

A ciência acerca da parentalidade acaba colocando rótulos no estilo parental. Imagino que você já deva ter ouvido falar nos modelos parentais mais comuns: Autoritário, Permissivo, Autoritativo, ou Negligente. Também imagino que até testes você deve ter feito para tentar identificar que modelo parental você é. 

Mas, você é esse “modelo”? Você realmente precisa de uma cartilha para saber como reagir a um momento desafiador de sua criança ou de seu adolescente? 

Eu tenho convicção de que se você nortear os seus pensamentos, as suas palavras e suas ações para seguir os 3 princípios acima (entendimento, empatia e respeito), não há desafio que você não possa enfrentar e ser exitosa

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A comunicação não violenta como ferramenta

Ao estabelecer com sua criança ou seu adolescente uma comunicação não violenta, um relacionamento colaborativo (adulto-criança), com muita empatia e respeito, o resultado só pode ser um: um futuro adulto que se sente confiante, que se comunica de forma eficaz, tem consciência emocional e tem habilidades e relacionamentos sociais positivos. 

Esse resultado não é achismo. Muitas pesquisas científicas comprovam que uma parentalidade mais autoritária ou mais agressiva afeta a saúde mental da criança e cria um adulto com diversos problemas emocionais. 

Seguindo esses 3 princípios, você promove a independência, a autoconfiança e muitas outras virtudes em sua criança. Exercer esses 3 princípios não é uma maneira de evitar disciplinar sua criança completamente, assim como não é uma maneira mágica de fazer todo mundo se dar bem. 

É preciso muita intenção, paciência e autoconhecimento para aplicar essa filosofia de vida às nossas escolhas diárias na criação da criança.

Temos a oportunidade de estabelecer novas relações, em momentos que por vezes nos trazem de volta nossas dores pelas ausências, pelos excessos, pelas violências do passado. 

“A tarefa essencial dos pais é criar um ambiente que permita que a criança se torne o que ela é.” – Donald W. Winnicott

Sabedoria e compreensão são elementos essenciais

O respeito pela criança como um indivíduo único e valioso encontra eco na essência da filosofia budista, que valoriza a compaixão e o acolhimento incondicional. Ao reconhecer a criança como um ser em desenvolvimento, dotado de sua própria natureza e potencialidades, o budismo nos lembra da importância de estabelecer limites com sabedoria e compreensão. 

Os limites são estabelecidos não para restringir ou controlar a criança, mas para criar um ambiente seguro e estruturado que permita o seu crescimento saudável e a expressão plena de sua individualidade. O budismo nos convida a cultivar uma mente atenta e compassiva ao lidar com os limites, oferecendo às crianças a oportunidade de aprender e crescer, ao mesmo tempo em que honramos sua singularidade e respeitamos seu processo de autodescoberta.

“Não se anda porque existe um caminho, é por andar que o caminho se abre” Daisaku Ikeda

Sobre os 3 lados daquela história, você mudou de opinião?

Para te auxiliar nesse caminhar, quero te fazer 3 indicações bem especiais:

Para ler

Longe da Arvore, de Andrew Solomon. Assim como o budismo nos ensina a enxergar a criança como um ser único, o livro Longe da Árvore nos leva a refletir sobre a importância de aceitar e celebrar as diferenças dos nossos filhos. Ao invés de impor limites rígidos baseados em padrões preestabelecidos, somos encorajados a abrir espaço para a diversidade e a individualidade de cada criança. Isso implica em compreender que os limites devem ser ajustados de acordo com as necessidades e características específicas, respeitando suas peculiaridades e proporcionando-lhes um ambiente que permita seu pleno desenvolvimento.

Para assistir

Human, um filme documentário de Yann Arthur Bertrand, ao apresentar diferentes realidades e vivências ao redor do mundo, o documentário “Human” nos convida a refletir sobre a nossa própria humanidade e a forma como nos relacionamos com os outros, especialmente com as crianças. Ele nos estimula a reconhecer a importância de proporcionar um ambiente respeitoso, onde as crianças sejam encorajadas a expressar sua individualidade e sejam vistas como parceiras em seu próprio desenvolvimento.

Para ouvir

Meu PodCast – Mariana Wechsler: um podcast de histórias reais, de todos os tipos de pessoas e como elas se encontram, se amam e enfrentam a vida ao lado das crianças que convivem. Eu ouço a história, compartilho o meu conhecimento e juntas construímos histórias que cuidam de você, de mim e de todas.

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*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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