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O que seu trauma quer com você?
Külli Kittus | Unsplash
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Quando eu era pequena, sempre fui quieta e muito tímida. Eu era daquelas crianças que quando qualquer pessoa chega perto se esconde onde pode. Eu só não me escondia dos meus pais, praticamente. Poderia ser criança ou adulto, lá estava eu procurando desaparecer. 

Talvez eu possa ter deixado de aproveitar várias oportunidades, ou de praticar um esporte diferente, juntar-me a grupos distintos, sei lá… Às vezes me pego pensando em como a vida poderia ser diferente hoje, se eu fosse um pouco menos tímida. 

Você já parou para pensar sobre isso? 

As hipóteses

Com o desenvolvimento da minha prática Budista e muito estudo, eu comecei a fazer um caminho mental para buscar entender de onde veio essa timidez. Será que nasci assim? Será que meus pais me deixaram desse jeito? Será que isso é um fator presente na minha família em várias gerações

Porém, se pensar bem, crescer em cidade grande, no meu caso São Paulo, é muito traumatizante. O medo dos pais é transferido aos filhos, que além do medo ficam com outras sequelas.

Os fatos

Isso porque, como pais, estamos 100.000% em alerta para todo e qualquer perigo. Por mais que saibamos que é ruim limitar a alegria da criança, em uma cidade grande é raro deixar a criança correr na rua, andar livremente, ir a pé sozinha para a escola ou padaria, pegar transporte público, ir até o parquinho da praça… não dá. 

Imaginem ainda com uma criança preta! Uma mãe preta implora ao filho não sair de capuz na rua; para não cantar alto ou dançar na rua para não ser tratado como um baderneiro. Uma mãe preta pede aos filhos não tocarem nas vitrines e prateleiras para não acharem que estão roubando. Uma mãe preta pede ao filho para não dar muita opinião para não ser expulso da sala de aula.

Sem contar outros tipos de comportamentos dos pais, só o fator MEDO já cria traumas numa criança, por consequência de uma sociedade apavorada e racista. 

As explicações

Freud explica que “toda impressão [o conceito que criamos a partir das nossas percepções] que o sistema nervoso tem dificuldades em abolir por meio do pensamento associativo ou da reação motora transforma-se em trauma psíquico.

Em outras palavras, aquele fato que tentamos encontrar um significado e acabamos criando nossas próprias verdades pela ótica do nosso sofrimento, cria um trauma. É como se nossa mente não encontrasse uma resposta capaz de acolher e de estar em sintonia com nossos sentimentos

Você pode estar se perguntando nesse momento, tudo pode traumatizar a criança? Será que o que estou fazendo está traumatizando meus filhos? Ou até questionando o porquê que seus pais te traumatizaram tanto…

As respostas

Não sei te responder a essas perguntas. O que eu posso te dizer é que não saberemos todas as respostas para as angústias que os nossos filhos e a vida nos trazem

Sei que como mães não queremos magoar, não queremos reprimir, queremos respeitar, não queremos frustrar. Porém, ao reprimir ou limitar as emoções da criança, estamos criando bombas-relógio e não crianças com inteligência emocional. 

Criar filhos é sobre alinhar seus pensamentos, palavras e ações ao que realmente importa: o Amor

As cicatrizes

Você pode ter ido ao melhor hotel do mundo, mas se teve uma experiência negativa, ele será o pior lugar. Mas não odeia porque é ruim, e sim porque alguma coisa ou memória em você deixou uma cicatriz tão forte que estar lá é significa algo danoso.

E a gente repete isso com todas as coisas, com momentos, cheiros, pessoas, significados.

Até o momento que a gente ressignifica nossas cicatrizes.

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Não precisamos mudar quem somos, precisamos SER quem somos!

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A Sabedoria

A sabedoria da vida está em compreender que em muitos momentos, é preciso agir. Mas existem outros em que precisamos aceitar. Entender, por exemplo, há coisas que ficaram no passado e não temos como mudar, ou aceitar que estamos atravessando uma fase, que vai passar.

Toda vez que duvidarmos das emoções da criança, ela aprende a reprimir a sua essência e passa a questionar o que sente ou até mesmo perguntar a si mesma se ela é amada. Além disso, replica o mesmo comportamento repressor ou abusivo nas crianças a sua volta.

Claro que fazemos isso inconscientemente, sem a menor intenção de prejudicar ou diminuir a criança. Fazemos, pois essa é a nossa referência de educação. É automático.

E essa referência precisamos mudar!

Uma dica básica

Só é interessante para um se o outro está interessado. Ao perceber e notar a existência e individualidade do outro, você se torna uma pessoa interessante

Não quer traumatizar seus filhos? Não quer reprimir os sentimentos deles? Quer ser notada pelos filhos adolescentes? 

Seja interessante para seus filhos. Perceba-os, escute-os, entenda eles

Nesse mês, eu separei 4 indicações muito especiais:

Para ler: Você é Fodona (You are a Badass), da Jen Sincero, um livro estimulante que consiste em cinco partes para abrir a sua mente e mexer com o que está parado em sua vida: (i) Como cheguei até aqui?; (ii) Como deixar a insegurança para trás e amar a si mesma; (iii) Tocando na Fonte; (iv) Superando seu própria besteira (bullshit); e Como seguir em frente e viver seus sonhos. 

Para assistir: Um Homem da Florida, na Netflix. Um roteiro suspense-policial, contudo fala sobre traumas, relações familiares, ressignificar a vida e tem um humor leve e descontraído.

Para ouvir: Desculpa Alguma Coisa, da Tati Bernardi. Eu ouço todos os episódios! Adoro o trabalho da Tati, seu humor e suas críticas. Um episódio que gostei muito foi o encontro com a Marisa Orth, em que falam sobre a vida, maternidade, budismo, carreira e muitos desafios e maravilhas de ser mulher.

Meu PodCastMariana Wechsler: um podcast de histórias reais, de todos os tipos de pessoas e como elas se encontram, se amam e enfrentam a vida ao lado das crianças que convivem. Eu ouço a história, compartilho o meu conhecimento e juntas construímos histórias que cuidam de você, de mim e de todas.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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