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Onde acertamos na educação dos filhos?
Sebastián León Prado
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Eu não tinha mais do que 12 anos na época, nem pensava em ter filhos, mas já percebia essa dificuldade entre minha mãe e minha avó materna.

A cozinha da minha “nonna”* era pequena e gigante. Fogão, pia esguia para poucos pratos. Mesa para quatro sempre com um cesto de pães ao centro flutuando delicadamente em uma peça de crochê feita por ela. Passados tantos anos, ainda sinto o aconchego do perfume do pão de abóbora assando. Uma das suas tantas especialidades que preparava para mim.

E lembro do som baixinho do rádio sempre ao fundo.

Como em toda boa casa italiana, a cozinha é coração e alma. Naquele dia, estávamos os três pulsando naquele universo. Minha nonna, minha mãe e eu sentados em volta do cesto de pães.

Faltava pouco para o almoço. As panelas borbulhavam. Fazia frio lá fora, mas a gente quase suava dentro.

Os anos de trabalhos pesados dessa imigrante italiana tornaram lento seu caminhar. Os joelhos não davam conta de carregar a pressa da minha avó. Então se deslocava no ritmo do fogo baixo.

Família e afeto

Foi até a sala de estar fazer uma ligação, minha nonna.

Enquanto minha mãe acabava de temperar a salada, a nonna voltou da sala sem pressa. Desligou as bocas do fogão. Aumentou o som do rádio.

Silêncio em cozinha italiana é coisa rara. Parecia que sabíamos.

Foi então que a locutora da estação local manda a mensagem ao vivo: “a dona Bruna, de Fontanafredda, saúda sua filha Ines que veio do Brasil para visitá-la! Deseja muitas felicidades e um forte abraço“.

Das coisas que não me esqueço. Minha mãe se emocionou muito. Deu um abraço demorado (para elas) e agradeceu a mensagem. Minha avó retribuiu, mas logo lembrou que o almoço estava pronto. Vamos comer.

Lembrei dessa história ao perguntar em minhas redes sociais o que, afinal de contas, fizemos de acertado na educação dos nossos filhos.

“Onde foi que nós acertamos?”, queria saber.

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Chega de elencar apenas nossos erros! Alguma coisa boa temos de estar fazendo, certo?

A comunicação entre pais e filhos ganhou com larga vantagem. Muitos pais e mães destacaram a comunicação honesta e acolhedora como uma das grandes bolas dentro da sua parentalidade.

Foi aí que, de imediato, me veio a lembrança da imensa dificuldade de comunicação (e de afeto) entre minha mãe e minha avó. Veja bem: estavam sentadas acariciando o mesmo centro de mesa de crochê. Mas o abraço só foi possível após uma ligação para um programa de rádio. Precisaram de um satélite para o acolhimento acontecer.

Por isso, entendi a resposta dos meu leitores. A comunicação é a porta de entrada monumental para o amor.

Orgulhemo-nos de sermos satélite, antena, emissor e receptor. Felizes os pais e filhos que conseguem traduzir em comunicação suas dores e felicidades podendo compartilhá-las.

Nunca esqueçamos da muitas vezes relegada escuta. Comunicação pressupõe estar aberto ao que o outro tem a dizer. E muitos pais têm a mania ingrata de falar muito e escutar nada.

Nesse jogo delicioso da troca, aprender com os filhos é um bônus para os mais espertos.

Reuni, a seguir, uma lista com sugestões para você que deseja qualificar a comunicação com seus filhos (e parceiros, por que não?). Absolutamente empírica, funciona comigo. Experimente por ai e depois me conte os resultados.

5 passos para ter uma boa comunicação com os filhos

  • 1. Crie momentos de conversa. Se você permitir, cada um se isola em seu quarto, abafa os sons com seus fones e a comunicação vai minguando tal qual tempero da horta que ninguém rega. Use momentos de viagem, uma refeição ou a ida ao shopping como potenciais conversas.
  • 2. Ao chegar do trabalho ou ao buscar seu filho na escola, faça perguntas que não permitam sim ou não como resposta. Fuja do “seu dia foi bom?”, migre para: “e ai, me fala o que teve de mais legal no seu dia?“. E depois, conte coisas do seu dia também. Filhos adoram escutar nossas histórias.
  • 3. Não converse apenas quando tiver interesse. Seu filho não é bobo. Não adianta puxar papo somente quando você quer descobrir o que ele anda aprontando.
  • 4. Para a conversa fluir cada vez melhor, guarde os julgamentos e as críticas no bolso interno do casaco. Claro que você vai orientar, mas não comece a comunicação censurando.
  • 5. Pode parecer bobo, mas para mim é tão crucial quanto me alimentar ou respirar: nunca vá dormir brigado com quem você ama. Antes de deitar, chame para uma conversa sincera, diga o quanto está incomodado e gostaria de se reconciliar antes do boa noite.

Provavelmente você tem outras dicas para continuarmos esta lista. Deixe aqui nos comentários. Vamos nos ajudar?

Forte abraço, até a próxima.


* Nonna é o equivalente em italiano para o que conhecemos em português como avó.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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