Tudo na vida precisa de manutenção
Tudo na vida precisa de um tempo dedicado a manutenção: pode ser um utensílio doméstico, ou até mesmo nossa saúde e nossos relacionamentos
“Senhora. Não tem conserto. O aquecedor está condenado. Você vai ter que trocar por um novo”. As palavras do senhor Beroaldo, o técnico de aquecedores a gás que eu recebia em minha casa, atravessaram meus ouvidos como um soco no labirinto. E eu mentalmente pronunciei um palavrão, aquele que acompanha a nossa incredulidade diante de algo que a gente não sabe como resolver.
Quem tem aquecedor a gás em casa tem ciência que o preço desses aparelhos custa um rim uma viagem, uma smart TV nova de 50 polegadas ou, ainda, corresponde ao salário do mês de muitos chefes de família no país. Respirei fundo.
Ele continuou: “essas partes [internas do aquecedor] estão todas derretidas porque há vazamento de calor. Corria o risco do apartamento pegar fogo”, ele me disse, com uma admirável serenidade que abria uma cratera no meu orçamento mas me fazia agradecer pelo pior não ter acontecido.
E então me dei conta de que estava com a manutenção preventiva do aquecedor atrasada. Pois é, na correria do dia a dia, faltou tempo e energia para me certificar, por mais um ano, de que estava tudo em ordem com aquele aparelhinho responsável por fazer meu banho ser quente e agradável. Manutenção. Palavra burocrática, mas necessária para algo funcionar bem.
Tudo na vida precisa de manutenção
Pode reparar. Não tem nada que não demande manutenção de tempos em tempos. Nada que nunca possa vir a dar problema. Se você traz da loja uma geladeira, ganha problemas de geladeira.
Ou se tem um sofá, ganha problemas de sofá. Se anda de carro, tem problemas de carro. E, bem, essa não é uma conversa sobre aquecedores, geladeiras, sofás ou carros…
Na correria do dia a dia, deixamos o olhar atento e o ouvido disponível no piloto automático. Por fim, os gestos de gentileza com quem amamos ficam escassos. É a pressa, engolindo o melhor que há em nós.
Negligenciamos conversas que precisam acontecer, ou deixamos aquele exame importante para depois. Enfim, empurramos as situações com a barriga para não lidar com o desconforto, ou deixamos que a rotina passe por cima do que antes era tão precioso.
Não deixe para tarde demais
Os problemas podem começar bem pequenos, como um furinho no estofado. Mas, sem reparo ou manutenção, podem comprometer a peça inteira. E, tarde demais, a gente parafraseia o Beroaldo: “não tem conserto. Acabou”.
Hoje o problema do meu aquecedor me lembrou desse ensinamento precioso. O que é importante demanda o nosso cuidado. A nossa atenção. Seja a boa alimentação e o exercício físico, que nos pouparão alguns remédios no futuro.
Ou os encontros periódicos, para lembrar que a vida é mais feliz quando se tem amigos.
E mesmo as conversas difíceis, que podem se tornar pontes para um relacionamento mais saudável. É isso. Tudo pede a nossa manutenção para que possa perdurar. Ou mesmo para que a gente reconheça, a tempo do“ grande incêndio”, que aquilo não funciona mais. E tudo bem.
Coloquei um lembrete no celular para agendar a visita técnica no ano que vem. E deixei meus olhares mais atentos para as tantas manutenções periódicas que a vida precisar.
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