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A importância de criar vínculos reais com as crianças
Markus Spiske
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Quero te propor um exercício interessante. Olhe para a foto abaixo e descreva a cena para você mesma. O que você vê? O que eles estão fazendo? O que você acha que eles farão depois? Veja e analise a foto antes de continuar a leitura.

uma foto em preto e branco de um pai consertando o carro enquanto se diverte com suas duas filhas.

Foto: Reprodução

Assim como essa foto é capaz de gerar conclusões super diferentes entre as pessoas, um acontecimento também pode gerar sensações e sentimentos diferentes para cada um e, por consequência, inúmeras reações.

3.000 opções em um único momento

Essa foto fez parte de um estudo desenvolvido pelo Prof. Bessel van der Kolk, cujos detalhes estão relatados no livro “O corpo guarda as marcas”. Nesse estudo, ele identificou participantes que, quando olharam a foto viram desde cenas dignas de filmes do Quentin Tarantino, com o carro caindo em cima do adulto, ou a criança agredindo com o martelo, como  também tiveram as que conseguiram imaginar a alegria de um pai com seus filhos arrumando o carro antes de irem tomar sorvete.

Nas cenas da vida, você e as pessoas a sua volta são capazes de interpretar de muitas formas diferentes um mesmo momento, talvez até de forma oposta. Se uma mesma situação pode ter diversas interpretações, naturalmente haverá diversas reações e o Budismo nomeia esse fenômeno  como Ichinen Sanzen que pode ser traduzido como “momento da existência” ou “3 mil mundos num único instante”. Quero muito falar dele numa próxima vez.

Quanto mais a gente resiste, mais a gente se distancia

Certa vez uma mãe me procurou pois estava preocupada com o comportamento e autonomia da sua filha mais velha de 6 anos. Ela me relatou que com a chegada do bebê, a garota “regrediu” e a solicitava para que desse banho, ajudasse com as meias, brincasse e pedia atenção demasiada.

É interessante perceber como a dependência natural de um bebê, de uma criança e até de um adolescente nos provoca alguns desconfortos. 

Diferente do que podemos pensar, essa criança de 6 anos não é independente. Ela pode ter conquistado bastante autonomia, mas ela depende emocionalmente da presença e do vínculo dos adultos que convive.

Quando percebo meus pensamentos incomodados com as solicitações das minhas crianças, eu volto para dentro de mim e me faço a seguinte pergunta: “Por que estou tão incomodada com isso e quais as ferramentas que eu tenho para interpretar esse incômodo?”

E aqui eu te proponho essa reflexão: 

  • Por que que a gente fica tão incomodado com um bebê que chora demais?
  • Por que uma criança de 3 anos que não sabe brincar sozinha nos irrita tanto?
  • Por que nos sentimos incomodados com uma criança de 6 anos que pede ajuda para tomar banho?
  • Por que nomeamos a criança que pede atenção como carente?

Talvez a gente se incomode porque a gente cria um ideal de como a criança deva se comportar e o quanto ela deva nos recorrer ou precisar de nós.

A partir do momento que a criança começa a falar, que começa a se expressar, a gente passa a pensar que ela é capaz de entender todos os comandos racionais que nós adultos externamos para ela. E, então, se ela faz birra, se ela chora, se desobedece, ou se tem algum comportamento fora do esperado por nós, a gente pensa: “Mas ela entende tudo, por que então está fazendo isso?”

Se você é capaz de se identificar com uma dessas cenas, é possível que você tenha uma questão com a dependência emocional e o vínculo para você não esteja tão claro. Na sua infância, talvez você não tenha podido depender tanto dos adultos que estavam na missão de cuidar de você, por estarem trabalhando, com atividades que ocupavam muito o tempo deles ou inúmeros outros motivos. 

O fato é que talvez sua criança não precise realmente da sua ajuda para o banho, para se vestir ou para abrir a garrafa, mas por que não? 

Por que não acompanhar?

Por que não fazer um carinho, passar um tempo junto e se dedicar, só mais um pouco, ao fortalecimento desse vínculo? 

Por que resistir?

Esse convite que nossos filhos fazem para gente nos deixam sim cansadas e nos provocam diversos desconfortos, porque a gente queria que eles não precisassem tanto da gente, a gente queria que eles se resolvessem sozinhos.

Mas nós podemos sim dar uma pausa na nossa cabeça e no mundo para curtir com o nosso coração esses momentos que eles precisam da gente e fortalecer ainda mais nossos vínculos.

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Perceba suas emoções para construir pontes com seus filhos

Você cria vínculos de humanidade ou de papel?

Shakubuko, esse é o propósito do Budismo, propiciar às pessoas um meio de alcançar a felicidade. Significa compartilhar uma visão de mundo despida de pré-conceitos, é como limpar a sua casa (sua mente) antes de receber qualquer convidado.

Shakubuku é um exercício diário de compaixão e crença em você e nas outras pessoas, uma atitude que começa em si e reconhece que todos possuem a natureza do Estado de Buda (de Iluminação). É fazer despertar a energia da VIDA que existe em cada uma das pessoas.

Ao contrário do que se imagina, a prática do budismo não é individual e sim, uma prática altruísta. Esse é o verdadeiro caminho para a iluminação. 

Qual o seu papel no mundo além da sua família?

As microrevoluções estão acontecendo. Devagar e sempre. Nunca vimos tantas mulheres livremente empoderando outras mulheres. Não me recordo também de ver tantos homens empoderando as mulheres (e claro que ainda deveremos ver muito mais homens lutando pela equidade de gênero).

É maravilho ver os movimentos pela paz, pela comunicação não violenta, pelo respeito e pelo diálogo sendo expandido dia a dia. Ainda é pouco, precisamos de muito mais Maya Eigenmann, Projeto Mãe Polvo, Daiane da Maternidade Atípica, Elisama Santos, Maira Soares, Pais.ajudam.pais, essa revista maravilhosa, todos os colunistas da Vida Simples (como a Thais Basile, do Educação para a Paz) e tantas outras mulheres super poderosas que não cabem no meu peito!  

Todas essas mulheres e tantas outras pessoas que buscam espalhar a mensagem por uma maternidade mais leve, respeitosa e por mulheres que acreditam no seu próprio potencial em mudar e fazer diferente. Espalhando a democracia das emoções.

 

Que o meu propósito seja seu também

Espero que o que compartilhei toque o seu coração da melhor forma possível e ecoe o seguinte mantra: Não importa o que eu faça, o meu futuro não está sob meu controle; porém, meu futuro está diretamente ligado ao que eu semeio hoje.

Como melhorar na criação de vínculos e relações

Todos os meses vou te indicar uma leitura que irá te ajudar a expandir seus olhares internos e externos.

A indicação desse mês é um dos meus livro favoritos, Porque o Amor é importante, de Sue Gerhardt. Se você é uma pessoa interessada pelo comportamento da criança e também nas relações humanas, esse livro é um verdadeiro tesouro, de fácil leitura e completamente baseado na ciência. São mais de 40 páginas com referências científicas.

Seja sempre sua melhor amiga. Seja a pessoa fantástica que você é! Eu acredito em você, acredite em você também.

Leia todos os textos da coluna de Mariana Wechsler na Vida Simples

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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