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Indignar-se é bom e isso ninguém fala para você
Mick Haupt
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“Por que indignar-se é bom?”, você pode estar se perguntando. Provavelmente poucas vezes na vida você deve ter ouvido alguém te dizer que sentir indignação é bom

Qual seria o problema em sentir-se indignada? Ou até mesmo, qual seria o problema de sentir-se satisfeita? 

A nossa geração e as anteriores sofreram muito com o silenciamento dos sentimentos. Quando crianças, ao sentirmos satisfeitas com a refeição sempre havia aquele adulto dizendo para comer mais… Ou um adulto dizendo que a nossa insatisfação com a comida ou com a brincadeira não era válida. 

De pouco em pouco, ao longo da nossa infância, nossos sentimentos foram silenciados por tantas vezes ao ponto de chegarmos na idade adulta não sabendo nomear os sentimentos.

Desaprendemos a sentir e, por consequência, não nos indignamos com muitas coisas que nos acontecem.

Numa conversa na mesa de jantar

Na mesa de jantar com um familiar meu, estávamos conversando sobre como era na época que ele era criança. Para ele, era apenas uma história, mas, para mim, soava como uma atrocidade. 

Foram lembranças de como era-lhe explicado que tinha que comer primeiro o que não gostava e depois o que gostava para assim não deixar nada no prato. O sucesso de uma refeição era o prato vazio, não era se havia gostado ou não do alimento. Entre outras lembranças, comentou de usar determinada roupa porque era obrigado e outras pequenas violências. 

Aprendemos ao longo do tempo que silenciar o sentimento, silenciar um choro, o não sentir, é o que deve ser feito. Alguns silenciam dizendo coisas como: “não precisa se sentir assim”, “não precisa chorar por isso” (ou seja, uma positividade tóxica); outros silenciam com uma violência mais explícita: “cale a boca ou…”

Do desfralde à rotina escolar

Nos desfraldes é muito comum alguns pais fazerem comparações entre irmãos ou crianças conhecidas. Muitos ainda expõem a criança que ainda não consegue deixar de usar fralda ou brigam quando a criança não faz as necessidades no lugar certo. 

Quantos pais e mães por aí você já não viu rangendo os dentes para os filhos pararem de fazer “manha”? Quantos pais por aí você já não viu ameaçando de todas as formas a criança para que ela pare de fazer barulho pela casa? E como você se sente quando seu filho ou filha chora compulsivamente quando não consegue fazer um dever de casa?

E com você, já aconteceu isso? Você foi uma criança vítima dessa ignorância de seus pais? E você de hoje, consegue não ser violenta com suas crianças? 

Esse “Eu” satisfeita

Quando eu era criança, lembro de sentir que não estava completamente satisfeita com algumas coisas. Também lembro dessa exata sensação de insatisfação inúmeras vezes quando adolescente. 

Mas, também por outro lado, por tantas vezes eu ter tido meus sentimentos silenciados por adultos à minha volta, eu acreditei por muito tempo que eu era uma pessoa ingrata pela vida e que tinha nascido com a tendência de olhar para a parte vazia do copo. Você já se sentiu assim?

Por muito tempo eu acreditei que eu vivia nessa sensação de que nunca estar bom, pois algo na minha vida me fez acreditar que ou está bom e você não tem o que modificar, pois já está perfeito, ou você é uma eterna insatisfeita com a vida.

Medo como instrumento do educar (ou doutrinar?)

Em muitas famílias, o medo acaba sendo o instrumento de “educação”. Infelizmente, os últimos anos de nossa sociedade não foram regidos pelo amor e carinho para si e para o próximo…

As pequenas e grandes violências da vida doméstica, no núcleo familiar, entorpecem toda uma sociedade. Dia a após dia, de pouco em pouco, a falta de indignar-se e a falta de sentir-se satisfeita consomem a felicidade e a vida de toda uma nação. 

Não é à toa que o artigo de hoje tem tantas perguntas para nós. Porque para saber sentir-se satisfeita ou indignar-se com uma situação, precisamos, antes de tudo, perguntar. 

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Os-que-não-vemos

O silêncio dos-que-não-vemos é algo que aprendemos desde crianças. Aprendemos a deixar de ver o sofrimento dos outros e a silenciar de alguma forma todos aqueles que não fazem parte da nossa bolha, seja por omissão (fugindo ou evitando) ou por ação (combatendo ou agredindo). Não aprendemos a olhar e a cuidar da nossa própria dor, como podemos então perceber, sentir e nos sensibilizarmos da dor do outro? 

Quando nossos sentimentos de indignação ou satisfação são silenciados, perdemos a capacidade de aprender a perguntar sobre eles. Deixamos de saber sentir e, quando não sabemos, nem querer ver queremos. O sofrimento do outro também desaparece da nossa visão

Quando a sociedade vê um líder dizendo que vai acabar com terras indígenas e não se indigna com isso naquele momento, o resultado que vemos é a barbaridade do genocídio ocorrendo pelo descaso de todos. Isso não ocorre apenas com a triste situação dos Yanomami, mas o mesmo acontece com toda população de rua que são “limpos” da vista da sociedade por desaparecerem em algum momento (seja por morte ou por qualquer outro motivo). 

Os desejos mundanos e a nossa felicidade

No Budismo aprendemos que os desejos mundanos são o veículo para a iluminação. Em outras palavras, quando temos desejos, quando colocamos as nossas vontades no mundo, temos a oportunidade de atingir a iluminação

Logo, quando penso, existo, e, se existo, eu posso sentir satisfação plena. Ter consciência das vontades significa saber quando está satisfeita ou quando está incomodada com algo. Indignar-se ou demonstrar satisfação é permitir que o seu sentir EXISTA, seja qual for a forma, chorando ou rindo. 

Assim, se eu existo, sou capaz de atingir essa tal iluminação ao colocar em prática uma percepção despida de preconcepções sobre as nossas emoções e dos outros – falei mais sobre isso aqui nesse link

Indigne-se

Ao indignar-se ou ao sentir-se satisfeita, sinta isso. Aprecie esse turbilhão de sentimentos. Permita que sua criança chore, que se jogue no chão indignada com algo, que faça a “birra” que for! Permita. Permita-se.

Ao sentir seus desejos jorrando de si para o mundo, você abre a porta para a sua iluminação. A sua iluminação joga luz sobre o mundo ao seu redor, mas, antes de tudo, ilumina a si mesma e ao seu caminho. Contamine esse mundo com amor e carinho, com todo o seu sentir.

Um Livro, Um PodCast e um Filme

  • Homens Pretos (não) choram, do Stefano Volp: fala sobre a vulnerabilidade do homem, se esse homem pode chorar ou não. É um livro dedicado ao universo masculino para uma lista de leitores que não inclui apenas o homem preto, mas também o homem branco e todas as mães de meninos e meninas. Vale a pena mesmo. 
  • PodCast Quadro de Empregada: relativamente novo no mercado, mas vem com um belo histórico de engajamento social e estudo das idealizadoras @isaura_benevides, @leidiane_santos_pereira e @jana_retratos
  • Série For Life – Lutando por Justiça: inspirado na história real de Issac Write Jr., um ex-presidiário que se tornou advogado. Além da trama, a história mostra como o amor pode resistir a tantas adversidades ao mesmo tempo em que também mostra o defeito de uma sociedade que não se indigna com algumas realidades.

Para você!

De tudo que aqui dividi, eu espero que toque o seu coração da melhor forma possível, a seguinte mensagem:

Não importa o que eu faça, o meu futuro não está sob meu controle; porém, meu futuro está diretamente ligado ao que eu semeio hoje. 

Seja sempre sua melhor amiga. Seja a pessoa fantástica que você é! Eu acredito em você, acredite em você também.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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