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Brincar na infância é essencial para ser feliz e criativo
Maxime Bhm
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Essa cena já é mais comum do que se pode imaginar: é o momento do intervalo na escola, mas em vez de correrem para o ar livre, brincar de pega-pega ou se aventurar em jogos imaginativos, as crianças estão sentadas em silêncio, hipnotizadas por tablets e smartphones.

A exposição de crianças em excesso à tecnologia é um fenômeno global e exige uma grande rede de apoio que inclui pais, escolas e governos para que exista mais estímulo ao brincar e à educação lúdica. Autor de Playfulness: trilhas para uma vida resiliente e criativa! (DVS Editora), o psicólogo Lucas Freire destaca a importância do brincar nas diferentes fases da vida, inclusive entre adultos.

As brincadeiras possuem um grande impacto no desenvolvimento integral do ser. Elas são decisivas para se criar conexões importantes no cérebro e podem ser grandes aliadas na aprendizagem e no exercício da criatividade. Entretanto, brincadeiras e horas de lazer que não envolvam o uso de aparelhos digitais estão mais escassas nos lares, especialmente por conta do ritmo de vida acelerado e das demandas que se acumulam.

Por uma infância do brincar

“[O filósofo] Giles Lipovetski descreve nossa época como a ‘era do vazio’, uma sociedade pós-moderna caracterizada pelo consumismo, pelo individualismo e pela superficialidade”, aponta Lucas. Mesmo as possibilidades de hiperconexão por meio das redes sociais tem transformado as pessoas cada vez mais em indivíduos solitários e pouco propensos a estímulos criativos. E esse afastamento tem começado ainda na infância. Apesar de uma atividade natural das crianças, o brincar sofre cada vez mais negligência pela introdução de telas.

Para o educador e pesquisador Junior Cadima, o crescimento no uso de tecnologias digitais já era evidente. Por outro lado, a pandemia e o isolamento físico potencializaram os momentos de conexão digital, seja para o trabalho, nas aulas online ou em atividades antes realizadas presencialmente. A gente não pode colocar a tecnologia como uma vilã, mas como uma aliada, porque podemos usá-la ao nosso favor”, descreve. 

Embora faça esse apontamento, o educador traz importantes ressalvas sobre a necessidade do uso saudável de telas. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), por exemplo, orienta que até os dois anos de idade os bebês não devem ter acesso a smartphones, televisão ou outros aparelhos.

Nesse momento da infância, há um intenso desenvolvimento da criança que pode sofrer prejuízos pelo uso de telas“, explica Cadima. “A gente precisa oferecer experiências – principalmente sensoriais – de sentir texturas diferentes ou ter a oportunidade de ouvir as pessoas”, acrescenta.

A questão principal, para o pesquisador, é que haja uma mediação efetiva entre as atividades com tecnologias digitais e os exercícios lúdicos. Não significa que a tecnologia não exerce um papel importante no desenvolvimento infantil. Pelo contrário, há hoje aplicativos, programas e jogos educativos importantes que não existiam no passado.

“É importante olhar para o mundo tecnológico de forma atenta e sempre criar o diálogo com a criança. Uma situação é você deixar ela o tempo todo no eletrônico e outra é você estabelecer combinados com ela”, destaca. 

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A importância de brincar na infância

Para Lucas Freire, há interessantes descobertas nas pesquisas em educação que revelam a necessidade de atividades ao ar livre que estimulem o desenvolvimento intelectual e motor. Ele mostra que o Dr. Stuart Brown, fundador do National Institute for Play, defende que “brincar tem um papel importante em diversas áreas do desenvolvimento humano, incluindo habilidades cognitivas, físicas, sociais e emocionais“, explica Lucas.

E não é só durante a infância que o resgate do lúdico deve ocorrer, mas também na vida adulta. O playfulness, segundo o escritor, estimula um estilo de vida mais dinâmico, criativo e que direciona as atividades diárias para um propósito, já que costumam trazer satisfação e alegria.

“O método Playfulness incentiva a reintrodução do ‘tempo de brincar’ nas rotinas, um tempo dedicado à exploração, à criatividade e ao aprendizado autodirigido”, explica.

“A brincadeira não é apenas uma maneira de as crianças se divertirem. É, na verdade, um mecanismo crucial através do qual aprendemos, nos desenvolvemos e exploramos o mundo“, enfatiza Lucas Freire.

Ele revela que o engajamento em atividades criativas pode reduzir o estresse, melhorar o humor, aumentar a autoestima e promover a conexão interpessoal.

Em defesa do brincar

O surgimento e consumo cada vez maior das redes digitais implica em novas e diferentes mudanças na sociedade.  Mas isso não significa que haverá um desaparecimento do lúdico. “O universo lúdico sempre terá espaço, mas depende do adulto e do que será a oferta“, explica Junior Cadima. Mesmo que um acabe por se sobrepor ao outro, acreditar que o lúdico deixará de existir é um tanto ingênuo, como sugerem os especialistas.

Devemos nos esforçar para criar um ambiente que nutra a curiosidade, a alegria, a interação, a resiliência e a criatividade –  ingredientes básicos do brincar“, defende Lucas Freire.

Eles mostra que os momentos lúdicos podem estar presentes entre o intervalo do jantar e o período de ir para a cama, aos fins de semana ou em momentos que se adaptem à rotina da família.

“Uma casa ou escola amigável para brincar é aquela que oferece oportunidades para a criatividade. Pode ser um quintal onde as crianças consigam correr e brincar, um quarto com livros e brinquedos ou uma cozinha para experimentar e criar”, finaliza.

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