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TDAH na infância: acolher as crianças é essencial
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O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), de caráter neurobiológico, afeta pessoas no mundo todo e é mais presente durante a infância, período em que se desenvolve e pode persistir para a vida a adulta. Os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que cerca de 5% de toda a população mundial convive com o TDAH. No Brasil, são cerca de 2 milhões de pessoas, segundo a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA).

Com as informações, pesquisas e o crescimento do debate na sociedade sobre o transtorno, o número de casos diagnosticados e um cuidado mais atento ao acompanhamento das crianças com TDAH são recebidos de forma positiva pelas famílias, ainda que haja desinformação e desconhecimento sobre como lidar com os filhos nesse espectro.

“Seu filho não é normal”

Talvez essa frase seja muito ouvida pelos pais de crianças com TDAH, ou por parentes, amigos e até desconhecidos. Nos acostumamos a enquadrar o comportamento social das crianças e adultos de forma a estigmatizar pessoas que convivem com distúrbios ou transtornos psicológicos, especialmente aqueles que afetam o comportamento em sociedade.

Crianças diagnosticadas com TDAH costumam ser mais agitadas, têm mais dificuldade de concentração e são mais enérgicas do que a média. “Infelizmente, essas crianças muitas vezes são vistas como crianças ‘preguiçosas, bagunceiras, sem educação’, quando na verdade são ‘criativas, intensas e curiosas’”, explica Mariana Casagrande, neuropsicopedagoga clínica e institucional.

Embora esses sejam os comportamentos mais populares de uma criança com o transtorno, é importante lembrar que o problema é muito mais complexo e não se limita apenas a essas características, como mostra o médico Drauzio Varella em seu podcast, o DrauzioCast. Para a o psiquiatra Daniel Segenreich, entrevistado no episódio, esses comportamentos são comuns a todas as crianças, mas o problema é quando eles se tornam intensos, o que gera comprometimento no desenvolvimento infantil.

Por hora, é importante lembrar que, antes mesmo do diagnóstico, o acolhimento dessa criança, seja ela um filho, parente, aluno ou vizinho, é fundamental para que ela possa se sentir segura. Mariana Casagrande explica, por exemplo, que um dos caminhos é buscar grupos de pais, vivências ou grupos de estudos para que existam trocas.

Outra alternativa é compreender a individualidade de cada um, já que a falta de atenção e a perda de foco são mais frequentes e intensas em crianças com TDAH. “Será que uma lição de casa que é mais longa pode ser dividida em 2 ou 3 partes? Será que ela tem que ser feita na mesa ou essa criança sente melhor fazendo no chão?”, questiona Aline De Rosa, especialista em desenvolvimento infantil integrativo.

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Um bom diagnóstico é possível

Há dois pontos a se levar em conta na difusão das redes sociais e da internet. O primeiro, positivo, é que temos informações na palma da nossa mão em uma diversidade de fontes. Já o segundo, por um lado mais negativo, é que nem sempre esses conteúdos são confiáveis ou aprofundados. O crescimento de vídeos no TikTok sobre o assunto fazem com que pais autodiagnostiquem os próprios filhos sem antes procurar uma equipe multidisciplinar capacitada para investigar os sintomas.

Por isso, é importante lembrar que o diagnóstico de TDAH é dimensional, mediado pela aplicação de escalas quantitativas com o uso de questionários, embora os exames de precisão sejam ainda muito difíceis, já que cada pessoa tem comportamentos e características muito particulares.

É comum que sejamos ansiosos, agitados, alguns mais desastrados do que outros, e por isso precisamos ter cuidado para não enquadrar pessoas com esses comportamentos no espectro do transtorno sem um olhar mais aprofundado. “Precisamos ter o cuidado de não ‘diagnosticar como patológico’ coisas que são normais do desenvolvimento infantil e, principalmente, saudáveis para cada fase da vida. Uma boa equipe profissional sempre poderá lhe orientar se determinado comportamento está dentro do esperado da fase ou não”, explica Mariana Casagrande.

Mudanças ambientais e de hábitos para a família

Mas, se o seu filho ou a criança com quem convive foi diagnosticada com TDAH, é importante lembrar que os adultos também precisam enxergar comportamentos que podem prejudicar o bem-estar dos pequenos. Pais, cuidadores ou parentes próximos que vivem uma rotina extenuante e agitada podem intensificar ainda mais os sintomas das crianças, que se espelham no estilo de vida das pessoas ao seu redor.

“É importante que os pais consigam descansar, fazer pequenas pausas, manter um ritmo de casa com expansão de atividades fora desse ambiente como atividades calmas, com contato com a natureza, um brincar livre sem ser direcionado pelo adulto. Tudo isso vai facilitar que essa criança se escute”, conta Aline De Rosa. A especialista lembra que esses momentos são importantes para que haja uma conexão maior entre pais e filhos, além de facilitar a percepção da criança com seus sentimentos.

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Tratamento

O tratamento para o Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade é multidisciplinar e demanda uma equipe que pode incluir psicólogos, psiquiatras, fonoaudiólogos, entre outros. A importância desse acompanhamento é essencial, especialmente pelo fator neurobiológico do TDAH. Então, se não tratado, os sintomas podem se intensificar e atrapalhar ainda mais a vida de quem convive com o transtorno, especialmente nas fases em que estamos nos descobrindo, como a adolescência e a juventude.

As principais formas de lidar com o TDAH são com acompanhamento profissional ou uso de medicamentos sob prescrição médica. No entanto, é importante lembrar que o uso de fármacos não é necessário em todos os casos e nem sempre é utilizado até o fim da vida, por isso é importante buscar um médico psiquiatra especialista no tema.

“O que eu costumo perceber é que algumas famílias tomam primeiro um susto quando eu falo sobre medicação”, explica o psiquiatra Daniel Segenreich, em entrevista ao DrauzioCast. “Quando a gente começa de maneira abrupta as pessoas sentem tanto medo que isso pode afetar o tratamento“, acrescenta o especialista. Para Daniel, apesar de o Brasil ser um país com centros de excelência em pesquisas sobre TDAH, ainda há muita desinformação no senso comum, o que dificulta a aceitação de determinados tratamentos.

Promoção da diversidade

Estarmos abertos à diversidade e à inclusão nos diferentes espaços da sociedade é fundamental para que as crianças sejam acolhidas e se sintam respeitadas em suas particularidades e interesses. Para Aline De Rosa, uma das principais ações é abandonarmos os rótulos e as adjetivações negativas, como “criança birrenta”, “desastrada”, “chorona”, “sem atenção”. Isso vai construir a própria autoimagem durante a infância e perdurará durante a vida adulta.

Tendemos a achar que somos o que as pessoas sempre nos designaram ser, então, muito cuidado ao comunicar algo a uma criança. “Assim como cada criança é um ser único, os pais e professores devem ter essa capacidade de conexão com a individualidade das crianças. Nós devemos ter tempo para observar e poder desvendar o que ela está mostrando ao invés de rotulá-las”, explica De Rosa.

Já Mariana Casagrande lembra que a lei 14.2554/2021 estabelece que haja assistência integral aos estudantes com TDAH, como apoio da família e suporte de uma equipe de saúde, além da capacitação dos professores para um olhar mais atento à educação das crianças com transtorno. “Em meus 18 anos de experiência clínica, todos os casos que tive de sucesso dentro do TDAH são aqueles em que família, escola e equipe de saúde trabalham juntas e alinhadas para o bem da criança“, conclui Mariana.

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