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Muito além de sentar e fechar os olhos: conheça a meditação raja yoga
Stephanie Greene
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Sinto que nasci duas vezes. A primeira, em maio de 1989. A segunda, quando conheci a meditação durante o tratamento de quimioterapia.

Na coluna passada, escrevi sobre como essa ferramenta me ajudou a aliviar as dores físicas que sentia por causa das medicações fortes. Agora, faço um convite para que você também experimente esse artifício, que vai muito além de sentar e fechar os olhos.

Quem explica sobre a meditação raja yoga é Luciana Ferraz, que pratica e ensina meditação há 44 anos. Ela é Socióloga de formação e Coordenadora da Brahma Kumaris Brasil – um movimento espiritual dedicado à transformação pessoal e à renovação do mundo. 

Confira a entrevista que fiz com ela:

Marcela Varasquim: Muitas pessoas têm uma visão equivocada da meditação – acreditam ser algo difícil, que exige extrema paciência e concentração. Afinal, o que é a meditação? E por quem pode ser feita?

Luciana Ferraz: A prática da meditação nos leva a ter mais autocontrole e soberania sobre os nossos pensamentos, o que significa sermos capazes de educar a nossa mente para pensarmos e sentirmos de forma benéfica para o nosso próprio bem-estar e desenvolvimento. A prática de meditação não é difícil, exige apenas que tenhamos atenção no nosso processo de pensar, e sim, ela exige uma certa disciplina.

A mente é comparada a um cavalo selvagem, indisciplinado, e nós precisamos educar nossa mente da mesma forma como quando começamos qualquer atividade física. A prática de concentração no início pode requerer disciplina, atenção, mas com o tempo fica mais natural. Qualquer pessoa pode praticar meditação, obviamente com as devidas peculiaridades.

A meditação para uma criança é diferente para um adulto. A meditação para uma pessoa doente fisicamente é diferente da feita para uma pessoa saudável. A pessoa doente pode meditar inclusive deitada. Uma criança pode meditar fazendo jogos, atividades, ou mesmo em silêncio, por um curto período. Acredito que a única observação que podemos fazer é que no caso de um problema mental, como a esquizofrenia, em que a pessoa já tem dificuldade em se conectar com a realidade, então a meditação não é aconselhável. Podemos aconselhar nesse caso uma prática de criar pensamentos positivos durante as ações. 

Marcela Varasquim: A meditação não é apenas sentar e silenciar a mente. Ela envolve um novo olhar para o mundo – a partir da consciência da alma. O que é a consciência da alma e como encontrá-la?

Luciana Ferraz: A meditação da linha raja yoga não é meramente uma técnica, mas sim uma mudança de consciência. Conforme você entende quem é você, como funcionam seus pensamentos, sentimentos, e passa a desenvolver atitude de virtudes ao lidar com as situações na vida, você vai aplicando a prática da meditação ao seu dia a dia, à sua interação com as pessoas, às suas atividades corriqueiras, diárias, às suas atividades profissionais.

Portanto, a meditação do raja yoga é uma postura diante da vida, em que você entende que você é uma alma e tem um corpo. Assim como um motorista que tem um veículo, e ele aprende a comandar esse veículo de acordo com as decisões que ele toma. Então essa consciência espiritual de ser a alma usando o corpo, a alma usando os órgãos dos sentidos, é na verdade a proposta e a meta de uma prática de meditação que, na verdade, é essa mudança de consciência e de atitude. 

Marcela Varasquim:  Entendo as tribulações como inerentes à vida – é impossível viver sem ter problemas. O processo de aceitação dessa realidade é um primeiro passo para enfrentar as dificuldades?

Luciana Ferraz: A filosofia do raja yoga não pinta o mundo como se fosse cor-de-rosa. Ao contrário, entende que nós estamos em um momento da historia da humanidade em que o ser humano está mais enfraquecido espiritualmente, e portanto lhe faltam virtudes e poder interno para enfrentar situações que estão à sua volta. São crises ambientais, econômicas, é o corpo com problemas de saúde. Enfim, podemos nomear todas as dificuldades que existem no mundo e ainda assim não chegaríamos ao fim da lista.

O que temos que fazer é reconhecer as dificuldades que estão à nossa volta, e reconhecer que não podemos mudar o ambiente externo. Mas podemos mudar nosso posicionamento interno, não apenas para aceitar de uma forma passiva tudo o que está acontecendo, mas para saber lidar com todas essas situações. Existe uma mudança de comportamento, e atitudes que vão nos ajudar a fortalecer diante dos problemas e dos obstáculos. Então, você acaba se estressando menos porque não tem tantas expectativas de que o mundo seja exatamente como você sonharia. 

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Marcela Varasquim: A aceitação da vida como ela é pode estar associada a alguma virtude? O que são virtudes e como elas nos ajudam no enfrentamento das dificuldades?

Luciana Ferraz: A filosofia do raja yoga acredita que quando nós chegamos aqui no mundo físico, nos nossos primeiros nascimentos, nós somos uma alma pura, recarregada de poder espiritual, em harmonia e alinhada com as melhores qualidades que possuímos. Esse é o nosso estado natural e original que vai sendo perdido conforme vamos entrando em interação com o mundo à nossa volta e não tendo a consciência exatamente do que está se passando.

Imagine que à noite você tenha tido um sonho muito bonito e que, no dia seguinte, você compartilha com a família. Logo depois você sai, vai trabalhar e novamente compartilha com os colegas. À tarde, vai na academia e conta o sonho para os outros alunos. O sonho que você contará à noite certamente será muito diferente do sonho que você realmente sonhou. Conforme nós vamos nos afastando do que passou, vamos nos esquecendo, modificando, incluindo elementos. E é mais ou menos assim que acontece com a alma humana.

No primeiro nascimento na Terra, ela está fresca e acordada para a realidade. Mas conforme toma sucessivas reencarnações, ela vai se esquecendo das suas qualidades verdadeiras. Por exemplo, o amor vai virando apego. O autorrespeito ganha coloração de arrogância, a firmeza ganha aspectos de raiva, a felicidade desenvolve nuances de avidez e consumismo. A meditação dá a força e o poder de recuperar essas virtudes, essenciais para lidarmos com o nosso dia a dia. 

Marcela Varasquim: Meu encontro com a meditação foi durante meu tratamento com quimioterapia. Estávamos na pandemia e, por causa da imunidade baixa e dos efeitos colaterais, fiquei reclusa em casa por 5 meses. Quando meditava, sentia leveza no meu corpo físico e as dores diminuíam. Foi a partir desse momento que fiquei maravilhada com a meditação e comecei a estudar mais, até conhecer a Brahma Kumaris. Como outros pacientes podem usar a meditação para receber benefícios e desenvolverem mais paciência e resiliência em seus tratamentos?

Luciana Ferraz: Uma preocupação grande da Brahma Kumaris é trazer uma meditação como ferramenta para ajudar as pessoas nos momentos de dificuldade. É um pensamento recorrente que temos de levar a meditação para ser útil às pessoas por exemplo quando estão nas suas sessões de quimio e radioterapia, para que elas possam escutar essas meditações durante seu tratamento. É por isso que desenvolvemos um aplicativo gratuito de meditação chamado Medita BK. Essas meditações também estão no Spotify. Além disso, a Brahma Kumaris reúne palestras diversas no YouTube, livros e apostilas que são produzidos por nossa editora. Nós também organizamos programas específicos para associações e hospitais. 

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Marcela Varasquim: Vejo muitas pessoas hoje procurando alternativas para tratar ansiedade, estresse e depressão. É possível inserir a meditação no tratamento de doenças mentais? De que forma ela ajuda?

Luciana Ferraz: Definitivamente. A meditação traz muitos benefícios, acalmando a pessoa, trazendo leveza interior e ajudando a desenvolver a resiliência diante de tantas situações adversas. Ela aumenta nossa autoestima, nosso sentido de autovalorização e autorrespeito, o que sem dúvida traz mais força interior. Naturalmente, a meditação ajuda nos casos de depressão, já que aumenta a produção de endorfinas e ajuda a equilibrar certos hormônios importantes. Ela pode, em alguns casos graves, não eliminar a necessidade de um acompanhamento médico e do uso de medicamentos, mas certamente o paciente que medita tem melhor resposta a esses medicamentos. 

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Marcela Varasquim: Que recado você deixaria para as pessoas que ainda têm certa resistência em conhecer a meditação, mas precisam de uma vida mais equilibrada? Como elas podem começar nesse universo?

Luciana Ferraz: Acredito que algumas pessoas possam ter resistência à meditação porque muitas vezes a confundem com prática religiosa. Ou porque elas já têm a religião delas e sentem que não querem mudar. No caso, a meditação é diferente de religião. Ela está incluída no campo da espiritualidade, que é o desenvolvimento e fortalecimento do espírito. Existem muitos estudos que comprovam os benefícios da meditação na saúde.

Ao atuar na sua mente, você está regulando seu funcionamento cerebral, e consequentemente está produzindo substâncias e hormônios que farão bem a todo seu universo físico, mental, emocional e espiritual. A meditação também pode ser uma alternativa às pessoas que não querem se entregar à religião, de forma que a pessoa entende que está conectada a uma força maior, e essa força irradia todo o poder e qualidades que ela precisa para desempenhar melhor suas funções.

A meditação pode ser praticada mesmo professando outras religiões, ou nenhuma. É bem verdade que existem algumas práticas adicionais que tornam a meditação mais produtiva ou eficiente. Por exemplo, se você cria rotina de horários e medita todo dia antes de começar as atividades, essa constância vai trazer um benefício muito maior do que meditar esporadicamente.

O mesmo acontece se você meditar de noite, como uma espécie de higiene espiritual. Isso vai trazer melhor sono, e por consequência cria um círculo virtuoso que vai trazer benefício na sua vida. Um outro aspecto que ajuda também é mudanças de hábitos alimentares: uma alimentação mais integral e natural, tendendo à vegetariana, é livre de sofrimento e cria harmonização maior com suas próprias células e com o ambiente à sua volta.

Quando você muda certos hábitos de consumo e deixa hábitos de luxo e desperdício, cria mais equanimidade com as pessoas e com o meio ambiente, e quem acaba ganhando é você. Eu acredito que para viver neste mundo difícil que nós vivemos, não existe a possibilidade de lidar melhor com os obstáculos se você não investir em si mesmo. Em resumo, a meditação é um investimento importante na sua forma de pensar, de sentir e viver. Eu não sei se eu teria conseguido lidar com tantas perdas e doenças na minha vida se eu não tivesse essa ferramenta. Om Shanti!


Sobre a Brahma Kumaris

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