Despertar para a essência exige tempo e dedicação
O que acontece quando você deixa de ser quem pensa que é? Saiba a importância de resgatar a sua verdadeira essência e entenda como esse é um longo caminho de autoconhecimento
Quantas vezes você já se perguntou se as escolhas que fez na vida realmente refletem a sua essência? Jornadas autênticas deveriam ser naturais, mas a manifestação coerente de quem somos frequentemente surge como uma rara sobremesa, como um crepe de Nutella, saboreada após inúmeras rotas fracassadas.
Jamais esqueci de uma entrevista do ator argentino Ricardo Darín em que ele contou sobre a recusa de um papel em Hollywood. A insistente produtora disse que não aceitaria “não” como resposta, e que dinheiro não seria um problema. Mas Darín manteve-se fiel ao seu desinteresse, sem se deslumbrar com o que parecia irrecusável.
Na época, ele ansiava voltar para casa após seis meses fora. Vivia bem o suficiente, com mais do que necessitava. Era querido em seu país, tinha uma família incrível e tomava dois banhos quentes por dia. “Para quê mais?”, refletiu, “a ambição pode nos levar a um lugar muito escuro e desolador”. Um farol de sensatez em meio ao brilho ofuscante de Hollywood.
Buscar a essência não é algo trivial
Com frequência, seguimos caminhos que parecem corretos, mas são moldados por expectativas externas. Fazemos escolhas artificiais e superficiais, sem sequer notar.
Isso pode levar a uma insatisfação profunda, como confessa Tennesse Williams em A Catástrofe do Sucesso, em que se mostra saudoso da sua obscuridade (e criatividade) perdida ao chegar ao Olimpo do showbiz norte-americano.
Ambições inautênticas até parecem fazer sentido por um tempo, enquanto a vaidade e o cinismo vão gradualmente nos corrompendo. Profissionais cronicamente insatisfeitos, casamentos sem afinidades, acúmulo sem desfrute, e até mesmo pais arrependidos, revelam o perigo da autoconsciência anêmica.
Pense na última vez que você tomou uma decisão importante baseada no que os outros esperavam de você. Valeu a pena?
Reconheça falsas ambições
Segundo Rudolf Steiner, filósofo e educador austríaco conhecido por fundar a antroposofia, a vida se revela até os 42 anos. Depois disso, é retrabalho.
Nossos dramas e dilemas vão se apresentando em ciclos de sete anos, e somos chamados a nos descobrir, experimentar e desenvolver ao longo dessas fases. O que poderia então nos levar ao autoexílio e esquecimento? E, mais importante, qual é o caminho de volta?
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Acolha o que você não é (e encontre sua essência)
Depois de alguns anos como executiva, com crescimento rápido e precoce, fui estudar Liderança Criativa na Alemanha, convencida de que deveria me preparar para mudar de nível na carreira. Não esperava, contudo, que o efeito colateral dessa experiência seria justamente cancelar minha carreira – ou melhor – o tipo de carreira que eu tinha até então.
Mais do que estar à frente de equipes e projetos, descobri que queria (me) liderar com mais criatividade, autonomia, autoria e essência.
Notoriedade ou segurança nunca foram demandas genuínas minhas – mas pareciam ser. Carreiras e negócios também deveriam poder morrer, dando lugar à algo mais alinhado com o que sempre fomos.
Fracasso pode ser virtuoso
O conceito de Tendência Atualizante, criado pelo psicólogo humanista Carl Rogers, pressupõe que todo organismo é movido por uma inclinação natural para crescer e realizar seu potencial máximo.
Animais, plantas e seres humanos estariam destinados – necessariamente – à atualização e ao crescimento.
Como seres bio-psico-sociais, temos diversas possibilidades de florescimento. Só que com o tempo e a maturidade, as conquistas podem simplesmente mudar de sabor. Não é qualquer sucesso que interessa, nem qualquer cansaço que vale à pena. Afinal, desilusões são catalisadoras para o crescimento autêntico.
Reescreva as expectativas
Turbulências e desilusões desafiam a nossa autoimagem, mas podem ser setas para sairmos da autoalienação, realinhando nossa trajetória.
Quem afirma que “largou tudo”, na verdade, se desfez do que não era para ser. E se até as bússolas tem uma margem de erro, imagine você, que me lê.
Quais são as suas motivações intrínsecas? E quais expectativas da família, amigos, trabalho, e até de Hollywood, você tem absorvido sem filtro?
Num mundo de pratos feitos e apressados, o “seja você mesmo” é uma receita de difícil preparo. Portanto, para transbordar, é preciso desfazer-se do que nunca foi seu.
Por sinal, quantas vezes você acha que reescrevi este texto? Taí uma informação impublicável – e essencial. Que venha o crepe de Nutella.
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– Assumir que temos preconceito é o início de uma bela caminhada
– Estamos impregnados de futuro, mas de qual?
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