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Conheça os caminhos da logoterapia para encontrar o sentido da vida
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Buscar o sentido da vida e um propósito que esteja alinhado a nossos interesses e valores é uma caminhada longa para muitas pessoas. Afinal, o que você quer, um emprego em uma multinacional? Viver em home office viajando pelo litoral brasileiro? Atuar com ONGs (Organizações Não Governamentais) e organizações comunitárias? Há múltiplos caminhos a serem seguidos e a Logoterapia nos ajuda a enxergarmos, com mais clareza, o que faz sentido para cada um.

Embora algumas pessoas possam desconsiderar o autoconhecimento como relevante para uma vida com sentido, você já imaginou o quanto pode ser difícil acreditar apenas na máxima “deixa a vida me levar”? Sim, a vida é imprevisível mesmo e os caminhos podem sempre mudar, mas, mais importante que isso é ser flexível, ter um projeto de vida, ter clareza dos motivos para viver e na medida do possível é considerar a si e outro na mesma proporção nas tomadas de decisão.

É difícil, eu sei, podemos nos perder ao longo desse processo, mas o auxílio e orientação de especialistas em saúde mental são indispensáveis nesse momento. Esse texto é para você que busca compreender melhor como essa abordagem funciona e quais as contribuições dela para a descoberta de sentido na vida. Mas, se já teve contato com a Logoterapia antes, que tal se aprofundar um pouco mais nisso conosco? 

O começo

Fundada pelo psicólogo vienense Viktor Frankl, a Logoterapia é uma das abordagens estudadas pela Psicologia que prioriza o encontro existencial e a busca de sentidos dos indivíduos. Apesar das aproximações com outros campos, a Logoterapia é menos retrospectiva e introspectiva. Ela privilegia a compreensão dos fatores  que motivam os seres humanos, definidos por Frankl como a busca do sentido existencial.

Além de ter se constituído como uma abordagem da Psicologia, conhecida como a terceira escola vienense, a Logoterapia logo se expandiu e passou a ser adotada por diferentes terapeutas e pesquisadores do comportamento humano. Suas contribuições para o entendimento de doenças e dos problemas psicológicos que nos afetam mostram caminhos resolutivos focados no diálogo socrático, derreflexão e intenção paradoxal, técnicas da abordagem que você verá mais adiante.

“Enquanto as abordagens clássicas apontam para o desejo, pulsão, inconsciente, id- ego e superego, no caso da Psicanálise, a Logoterapia enxerga o humano como um ser: bio-psico-espiritual“, explica o logoterapeuta João Paulo. Segundo ele, Frankl compreende o homem como um ser inteiro, único e irrepetível.

Qual o sentido da vida?

É comum que cada um de nós passe horas refletindo sobre seu propósito de vida e o que almeja conquistar, algo que nos traga satisfação. Viver uma vida que faça sentido é um dos elementos fundamentais para que cada pessoa esteja confortável consigo mesma. No entanto, em um mundo fragmentado e cada vez mais acelerado, se reconhecer enquanto indivíduo é cada vez mais complexo.

Vida com sentido não é apenas uma vida das sensações agradáveis e ausência de desconforto“, explica a logoterapeuta Marcela Bento. Ela destaca ainda que “o equilíbrio total em todas as áreas da vida o tempo todo não é saudável para o ser humano.” Pode parecer estranho e até um pouco desconfortável ler isso, afinal, estamos sempre em busca de uma pílula mágica que nos proporcione felicidade durante todo o dia.

No entanto, Marcela destaca que a angústia, o desconforto e a insatisfação com a vida são importantes para a manutenção da saúde mental. “Nos tiram da inércia, nos desafiam, nos amadurecem, envolvem renúncia e escolhas. Isso nos leva a sermos o que poderemos ser extraindo de nós o melhor e o máximo como ser humano“, justifica.

João Paulo destaca que a busca por um sentido ou propósito se dá por meio de valores estabelecidos pela abordagem. A criação, vivencial ou experiencial e a atitudinal são os três eixos que auxiliam os processos de autoconhecimento a partir da Logoterapia.

quadro com os três principais eixos da logoterapia. Alessandro Fernandes/ Vida Simples

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Você tem tomado boas decisões?

Fazer escolhas, trilhar bons caminhos e tomar decisões com discernimento nem sempre é fácil. Às vezes, pode ser que exista uma dúvida sobre o que realmente escolher para a vida, desde coisas simples até questões complexas, como o fim de uma relação ou uma transição de carreira.

A Logoterapia atua ajudando o indivíduo a tomar decisões conscientes, independentes, autênticas e com sentido“, explica Marcela Bento. Além disso, a psicóloga explica que a abordagem se diferencia por trabalhar a partir de uma visão tridimensional. Isso inclui a dimensão biológica (física), psicológica (cognitivo e outros aspectos envolvidos) e noética (espiritual).

A partir daí, a Logoterapia busca compreender que o ser humano é capaz de encontrar sentido fora de si, em algo ou alguém, por exemplo. Diferente de outras abordagens, que centralizam o indivíduo, a proposta é que o paciente tenha uma visão cada vez mais ampla da sua vida e do que a afeta. 

“A Logoterapia se interessa pelas frustrações existenciais, aspirações e potencialidades. Por isso, tem a finalidade de auxiliar o indivíduo a encontrar sentido em seu dia a dia e nas situações e na sua vida”, destaca Marcela.

Pilares da Logoterapia

Assim como outras propostas da Psicologia, a abordagem com foco na Logoterapia busca se firmar em três pilares: 1. Liberdade da vontade; 2. Vontade de sentido e 3. Sentido da vida. Marcela lembra que os atendimentos partem do princípio de que as pessoas são livres, responsáveis e produtos de suas escolhas.

“Na Logoterapia, a busca por sentido é a nossa motivação principal. Isso acontece mesmo em situações em que somos privados de necessidades básicas, ou seja, no pior momento da vida ainda queremos viver, almejamos uma condição melhor“, lembra Marcela. Trabalhar em cima desses pilares, segundo a logoterapeuta, ajuda com que tenhamos maior clareza sobre as escolhas e que caminhos são viáveis e seguros para serem trilhados.

O sentido da vida pode ser acessado por meio dos valores. Eles podem ser criativos, quando envolvem o que deixamos no mundo. No entanto, também podem ser valores de experiência, que dizem respeito ao que recebemos do mundo. Ou ainda, valores de atitude, que remetem à forma como enfrentamos e nos posicionamos diante de situações que não podemos mudar”, conclui Marcela.

Principais técnicas da Logoterapia

Para uma abordagem na clínica, a Logoterapia utiliza três técnicas principais, conhecidas como derreflexão, intenção paradoxal e diálogo socrático. Embora sejam nomes pouco conhecidos no senso comum, os métodos e práticas auxiliam na compreensão de si e resolução de problemas e conflitos internos.

A derreflexão, por exemplo, busca a autrotranscendênca do indivíduo e é muito importante em casos de autocobrança, distúrbio do sono e impotência sexual, segundo Marcela Bento. Além disso, a técnica faz um confronto com a hiper-reflexão, quando pensamentos excessivos sobre si.

Por outro lado, o uso da intenção paradoxal é uma técnica que promove o autodistanciamento e paralisa a angústia da expectativa. “Na Logoterapia, entendemos que a ansiedade e mecanismos fóbicos são mantidos pela evitação. Por isso, na intensão paradoxal o paciente é incentivado a se envolver com aquilo que mais teme, isso tira as forças dos temores”, explica Marcela.

Por fim, o diálogo socrático possibilita um conhecimento acerca do paciente, das suas dores, da busca pelo sentido da vida e dos sintomas que o afligem. “É por meio dele que acessamos o indivíduo”, conta Marcela. Além disso, a ideia é trabalhar com os questionamentos trazidos pelo próprio paciente e, a partir daí, ajudar a elaborar seus sentimentos e trazer clareza.

quadro com técnicas de logoterapia. Alessandro Fernandes/ Vida Simples

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