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Mulheres que se cobram demais: como superar a culpa
Cathryn Lavery
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A sensação de estar sempre sendo insuficiente em alguma área da vida. A tarefa do filho que não conseguiu completar antes da aula, ou a louça que ficou suja no outro dia. Quem sabe até aquele livro que você tanto quer ler, mas nunca encontra tempo. Ou pior, as pressões estéticas sobre seu próprio corpo. Bom, quando o assunto é autocobrança feminina a lista é longa, mas é possível equilibrar esse sentimento e construir sociedades mais generosas e empáticas com as mulheres.

Parece conversa de vendedor de produtos milagrosos, não é? Afinal, problemas tão profundos e sérios como a autocobrança não se resolvem em um passe de mágica. Não existe fórmula, é verdade, mas também não se pode conformar-se com a realidade. “Podemos entender que uma autocobrança excessiva pode ter relação com uma equação que parece simples, mas é muito complexa: precisar ser amada + ter que ser infalível“, explica a psicanalista Ana Tomazelli.

Para driblar a lógica de funcionamento desse padrão mental é importante adotar caminhos como a terapia, estudos e práticas que incentivam o autoconhecimento, “além de muita paciência consigo mesma e um exercício profundo e comprometido de autoacolhimento“, complementa Ana Tomazelli.

O que causa a autocobrança?

A resposta não se resume a um único fator, mas sim a um conjunto de elementos sociais, políticos e culturais da sociedade em que vivemos. “Por inúmeros fatores culturais e ambientais, também temos visto um crescente número de mulheres que se sentem constantemente insatisfeitas com suas vidas“, destaca a médica Mariela Silveira. Ela explica que uma série de sentimentos ligados à incompetência e à síndrome do impostor partem de visões interiores e não refletem necessariamente o perfil daquela pessoa.

“É como se tivéssemos um patriarca interior, falando dentro da nossa cabeça e ditando as regras de como tem que ser. E as mulheres vão lidar com ele de formas muito diferentes – pagando preços, também, muito diferentes”, destaca Ana Tomazelli.

Embora a autocobrança seja algo interno, suas causas se tornam influenciadas pela realidade em que a mulher está inserida. Ambientes de pressão, machistas e que exigem delas uma carga de tarefas de cuidado pode provocar níveis de sofrimento psíquico prejudiciais. “A autocobrança feminina também vem da ausência de apoio masculino e da busca por um lugar de relevância e prioridade, em um contexto que, na maioria das vezes, é violento para com a mulher”, acrescenta a psicanalista.

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Antes mesmo de imergir a qualquer processo de autoconhecimento, somos ensinados a adotar um corpo padrão, o peso ideal. As mulheres, por exemplo, sofrem pressões por manter boa performance no trabalho, ser uma boa mãe, dona de casa e ainda são cobradas pelos cuidados com o marido. Ao mesmo tempo, é preciso saber como equilibrar a autocobrança e não permitir com que ela exista em excesso.

“O tempo é uma unidade de medida finita, não-renovável a cada dia e algumas necessidades físicas precisam ser respeitadas com prioridade – como dormir, por exemplo”, explica Ana Tomazelli. E mesmo que não seja possível fazer tudo ao mesmo tempo, é interessante organizar um planejamento semanal e trabalhar com métricas que não sejam tão rígidas.

“Então, ao invés de tentarmos eliminar a autocobrança, podemos aprender a usá-la a nosso favor, como uma régua, pois a disciplina também se constrói quando nos lembramos daquilo com o qual nos comprometemos”, defende Tomazelli.  Outra dica importante, desta vez da médica Mariela Silveira, é poder regular os episódios que trazem autocobrança. “É observar estes pensamentos e em que situações eles aparecem. Reconhecê-los (e até nomeá-los e registrá-los) pode evitar comportamentos destrutivos“, justifica.

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Dicas para equilibrar a autocobrança

Para a médica Mariela Silveira,  lidar com a autocobrança feminina sem apoio não parece ser o caminho mais interessante. Além de poder olhar para si com autocompaixão, respeitar seu corpo e suas necessidades físicas, é importante encontrar algum suporte. Isso vai desde a procura por um atendimento especializado até práticas integrativas e reflexões que promovem uma postura de maior acolhimento. Abaixo, a especialistas destaca o que podemos fazer nos momentos de autocobrança.

  • Avalie a importância do seu sofrimento e, se estiver comprometendo outros aspectos da vida, peça ajuda a um profissional de saúde;
  • Revise suas metas e verifique se elas são realistas e alinhadas com seus desejos e capacidades atuais. Faça uma autoavaliação das áreas da vida;
  • Identifique quais dimensões estão satisfatórias e quais precisam de aprimoramento;
  • Proteja os espaços de autocuidado em sua agenda e dedique mais tempo a eles, se necessário;
  • Liste suas qualidades e reconheça o que é único em você;
  • Coloque essa lista em um local onde você possa se conectar diariamente com o que escreveu;
  • Cultive a gratidão por suas qualidades e atributos: assim, você desenvolve sentimentos de automerecimento e autocompaixão, lembrando-se dessas virtudes todos os dias.

Como os homens podem apoiar as mulheres?

Ana Tomazelli, apesar de reconhecer a importância do autocuidado, vai além e questiona o papel dos homens em cultivar uma sociedade mais empática com as mulheres. “Uma pergunta interessante a começarmos a fazer é: que práticas de cuidado e reflexão os homens podem fazer para ajudar as mulheres a reduzir a autocobrança e cultivar uma maior compaixão?”, enfatiza.

Para a psicanalista, é importante também que as mulheres busquem grupos ativos de trabalho ou de geração de renda. “Fazer parte de grupos é sempre uma das minhas grandes recomendações para as mulheres”, orienta. Isso porque, segundo Tomazelli, é um lugar onde as mulheres podem receber reconhecimento pelas suas competências e a gentileza se torna mais importante do que a aparência.

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