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Você precisa conhecer esses sabotadores emocionais
Noah Buscher | Unsplash
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Sabe o que são compensadores emocionais? Aquilo que você acredita que precisa ser está sabotando a sua potência.

Há uns anos li a seguinte frase: “todo o sofrimento existe porque estamos acreditando num pensamento não questionado”.

Isso mudou radicalmente a minha forma de me relacionar com as regras impostas pela minha mente. De fato, os nossos pensamentos automáticos estão constantemente a encadear-se uns nos outros, narrando um emaranhado de histórias sobre nós e o mundo. Muitas dessas histórias acabam por se tornar crenças centrais sobre quem podemos ou não ser. Como o mundo é ou deveria ser.

É certo que essas ideias cristalizadas são essenciais nos primeiros anos de vida. Funcionam como um software que nos ajuda a organizar internamente e a encontrar alguma previsibilidade no meio.

Seja como for, acredito que, enquanto adultos, é nossa responsabilidade começarmos a questionar muitas dessas histórias.

Precisamos aprender a escolher entre aquelas que nos são úteis e as que se tornaram obsoletas. As que nos fortalecem e todas as que nos limitam. As que são verdadeiramente nossas e aquelas que apenas nos foram transmitidas.

Desconstrua-se… E permita-se ser quem verdadeiramente É

O psicólogo humanista Abraham Maslow escreveu que “o que é necessário para mudar uma pessoa, é mudar a sua consciência de si mesma.”

Aquilo que acredita sobre quem você é (ou precisa ser) diz muito sobre a forma como se comporta no mundo. Sobre o que você acha que merece e o que acredita que pode ou não fazer.

Projeto em progresso

Temos uma ideia de que “crescer” é tarefa apenas circunscrita à infância e “mudar” é coisa de quem não mede os riscos. Acreditamos que se “somos assim”, vamos “ser sempre assim”. Mas, deixe-me contar-lhe um segredo: você nunca esteve pronto nem nunca estará.

Você é um projeto, nunca um produto acabado. Na verdade, você não estava pronto nem quando nasceu. Não tinha dentição, o seu cérebro ainda não estava desenvolvido a cem por cento, nem uma série de outros órgãos do seu corpo. Você nasceu, só que não porque estava pronto ou completo. Você nasceu porque simplesmente não tinha mais espaço dentro da barriga da sua mãe para continuar a se desenvolver.

Ao longo da sua vida vai acontecendo a mesma coisa. Você precisará dar-se permissão para fazer coisas diferentes, mesmo que não se sinta pronto, porque simplesmente chegou a hora. Porque o lugar confortável onde estava, deixou de lhe permitir continuar a se desenvolver.

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O que são compensadores emocionais?

Já escrevi anteriormente sobre isso: na nossa infância, dependemos fortemente dos adultos à nossa volta para sobrevivermos ao mundo.

Depositamos nos nossos cuidadores toda a responsabilidade de preencherem as nossas necessidades básicas e socioafetivas. Confiamos neles para nos darem direção, validação, segurança e encorajamento.

Se não obtemos esse suporte e orientação emocionais, aprendemos a desconfiar dos outros e/ou a ver-nos como defeituosos. Nesse sentido, acabamos por desenvolver frequentemente atitudes para compensar a nossa “falta de valor”. Para encobrir os nossos “erros” e esconder as nossas “falhas”.

A essas atitudes chamo de “compensadores emocionais”. São regras pessoais, que funcionam como estratégias de sobrevivência. Repetimos essas ordens na tentativa de compensar nossas feridas e lacunas.

Criamos uma identidade adaptada para nos sentirmos mais pertencentes, adequados, integrados. Nesse contexto, cada pessoa desenvolve os seus padrões a partir de suas próprias vivências, preenchendo crenças como “só terei valor se…tiver determinado comportamento”.

Conheça, então, os cinco principais compensadores emocionais e descubra se se identifica com algum deles.

1. “Seja Ocupado!”

Esse compensador diz respeito a pessoas que precisam fazer muita coisa num único dia para se sentirem bem. Agitados, esses indivíduos acham que estão sempre sem tempo e que precisam fazer mil coisas ao mesmo tempo para se sentirem produtivos.

Esse compensador é comum em todos aqueles que entendem que o seu valor está na quantidade de coisas que fazem. E no quão ocupados parecem estar.

Geralmente, esses são indivíduos que têm uma lista enorme de afazeres e que ficam profundamente angustiados por não conseguirem dar conta de tudo. Tornam-se impacientes, ansiosos, sobrecarregados e têm dificuldade em escutar e elaborar seus próprios sentimentos. No fundo, não têm tempo para eles. Ocupam-se para sentirem que têm tudo “sob controle”, mesmo que, internamente, se sintam pouco preenchidos de si mesmos.

Muitas vezes, para sermos capazes de mudar comportamentos, precisamos mudar nossas percepções. Acredito, por isso, que uma forma de flexibilizarmos esse padrão, é introduzindo novas regras no nosso sistema interno. Nesse sentido, partilho algumas afirmações que ajudam essas pessoas a sair desse compensador:

  • Posso fazer as coisas devagar.
  • Posso fazer uma coisa de cada vez.
  • Tenho o direito de desfrutar de cada coisa que faço.
  • Tenho o direito de não fazer nada.
  • O meu valor não está na quantidade de coisas que faço.
  • Quando vivo apressado não consigo usufruir dos benefícios de estar vivo.

2. “Seja Agradável!”

Esse grupo de pessoas, vive com uma enorme ansiedade em servir e ser útil. Têm dificuldade em dizer “não” e são pessoas que acabam por entender que a demanda do outro é mais importante que a sua. Isso acontece porque tentam fugir da dor de não se sentirem necessárias ou importantes. Assim, para quem usa esse compensador, a forma de tentarem fazer parte da vida dos outros é tornando-se utilitários. Isso porque não se sentem bons o suficiente para serem amados sendo como são.

Embora não pareça, a busca de querer sempre agradar, corresponder ou ajudar a alguém, pode tornar-se uma atitude autodestrutiva. Especialmente pelo fato de a pessoa estar desconectada de si mesma. Enquanto vive em função desse compensador, o seu processo emocional fica abandonado.

Por norma, essas pessoas têm tendência para viver a dependência de que o outro as aprove já que elas mesmas não conseguem fazê-lo. Caminham pela vida carentes e inseguras, projetando as suas soluções no valor que os outros lhe dão. E uma forma de se sentirem seguras, é estando sempre ao serviço. Doando-se. Correspondendo com expectativas alheias e ocupando o lugar de salvadores do outro.

Se você se identifica, saiba que as afirmações que poderá utilizar para se libertar gradualmente desse sistema emocional adoecido, são:

  • Posso me agradar a mim mesmo.
  • Posso receber do outro.
  • Tenho o direito de pedir ao outro.
  • Posso colocar limites.
  • Posso ter prazer fazendo coisas por mim.
  • Pensar em mim não é egoísmo.
  • Posso ser amado dizendo que ‘’não’’.
  • Não preciso agradar para ter valor.
  • Posso ser amado sem dar nada em troca.

3. “Seja Esforçado!”

Essas são pessoas que têm a tendência de achar tudo na vida muito difícil e duro. Sentem que o sacrifício lhes devolve o sentimento de merecimento.

Por se sentirem inseguras consigo mesmos, esses indivíduos têm a tendência de estarem sempre se justificando. Muitas vezes, utilizam o padrão de vitimização como forma de encontrarem suporte emocional.

De alguma forma, essas pessoas vivem uma proibição do sucesso, ou seja, acabam sempre por se sabotar ou sofrer demasiado para conquistar algo. A dor dessas pessoas pode ser o medo de não serem amadas ao serem o centro e ao ocuparem seu lugar no mundo. Ao serem bem-sucedidas ou ao conquistarem algo sem esforço. Por norma, mantêm-se sempre em segundo plano e correm mais do que os outros… para chegar no mesmo lugar.

Esses indivíduos, podem ter internalizado a crença de que viver de forma leve é errado ou sinal de egoísmo. De que a conquista de algo nunca vem sem um grande sacrifício. De que é preciso suar para provar ser digno de valor. De que ser o centro é mau ou errado.

As afirmações mais potentes para essas pessoas são:

  • Posso sentir prazer em terminar o que comecei.
  • Tenho o direito de vivenciar a recompensa pela conclusão de algo.
  • Tenho direito ao sucesso.
  • Posso ser amado sendo vitorioso.
  • Posso conquistar de forma leve e suave.
  • Posso ocupar o meu lugar no mundo.
  • Posso brilhar.
  • É bom estar no centro e ser visto.
  • Posso ganhar.

4. “Seja Perfeito!”

Essas pessoas têm tendência a se focarem no erro, dedicando-se em demasia aos detalhes para evitá-lo. É comum acreditarem que nunca nada fica bom o bastante, vivendo com um sentimento de que “falta algo” ou “podia ser melhor”. Facilmente se criticam e se julgam (e essas críticas não são só autodirigidas: são pessoas com uma tendência a serem persecutórias com outras pessoas).

São os famosos “perfeccionistas”: indivíduos que colocam metas muito altas ou exigentes e que não se permitem à falha. Por norma, o que está por detrás desse mecanismo de defesa, é uma criança ferida que se vê inferior e insegura. Para compensar quem é, precisa buscar a perfeição. Esse compensador é também utilizado quando a pessoa aprende desde cedo que só receberá afeto se tiver bons resultados. Crianças educadas por adultos também eles perfeccionistas, acabam por desenvolver a tendência de se tornarem hiperexigentes consigo mesmos.

Se você tem esse compensador, lembre-se que o perfeccionismo nos tira a possibilidade de sermos humanos. Porque sermos humanos fala sobre imperfeição. Quanto respondemos à ordem emocional “Seja Perfeito!” vemos os erros como ameaças, adoecendo ou paralisando diante desse risco.

Algumas afirmações que poderá utilizar para si mesmo, caso se identifique com esse compensador:

  • Posso errar.
  • Errar é humano.
  • É através do erro que posso crescer.
  • O erro ajuda-me a evoluir.
  • Não preciso punir-me quando erro.
  • Não sou uma pessoa má por ser imperfeito.
  • Posso ser amado na minha imperfeição.

5. “Seja Forte!”

Esses são aqueles indivíduos que carregam o mundo às costas. Têm medo da sua fragilidade e, por isso, reprimem suas emoções e necessidades, fazendo-se de fortes, independentes e invencíveis. Entendem que o seu valor está na sua dureza, rigidez e resistência. São pessoas ansiosas por mostrar que são capazes, que dão conta, que aguentam. Por isso, têm tendência para centralizar tudo, puxando toda a responsabilidade para si mesmas, inclusive assuntos da vida de outras pessoas.

O seu maior prazer é dizer que conseguiram, portanto, vivem os desafios de forma compulsiva para provarem a dureza da sua carapaça.

Essas pessoas sentem-se fracas quando são vulneráveis, por isso, passam a vida inteira a fugir das próprias demandas e necessidades. Na verdade, não se autorizam a ter necessidades. São, portanto, pessoas que costumam estar sobrecarregadas, estressadas e até agressivas.

Algumas mensagens e afirmações que ajudam pessoas com este perfil, são:

  • Posso ser vulnerável.
  • Posso ser amado na minha fragilidade.
  • Posso pedir ajuda.
  • Não preciso dar conta de tudo.
  • Não tenho de me endurecer para provar nada.
  • Posso confiar no outro e posso ficar triste.
  • Posso sentir dor e ser forte ao mesmo tempo.
  • Posso mostrar as minhas inseguranças e limitações e isso não me retira valor.

O que fazer após identificar seus padrões?

Note os compensadores com os quais, eventualmente, se identifica. Leia as afirmações que ajudam a flexibilizar as crenças que sustentam esses mecanismos de defesa. E note também o efeito que têm em si.

Essas afirmações funcionam como um bálsamo para a alma. É como se alguém nos desse a permissão de desmoronar e percebêssemos que, afinal, temos direito à nossa humanidade.

Todos nós, de algum modo, aprendemos a compensar comportamentos e características nossas, em nome da aprovação e da obtenção de afeto.

É natural. É instintivo. É um mecanismo protetor.

No entanto, repito: adultos saudáveis são aqueles que assumem a responsabilidade por se conhecer e reconstruir. Não o fazem para mudar quem foram, mas para se permitirem ser, cada dia mais, quem quiserem ser.

Lembre-se que quando alimenta esses compensadores emocionais, você vive com a convicção de que não pode mostrar sua humanidade, nem aos outros, nem a si mesmo. Vive reprimindo-se. Se continuar a fazê-lo, depois de algum tempo, começará a sentir-se “fragmentado”. Como se não fosse dono do seu próprio “eu”. Esse é o maior indicador de que chegou o momento de se autorizar a desconstruir quem achava que precisava ser. E então se permitir seguir mais o que vem de sua própria natureza: humana, imperfeita… e com um valor inviolável.

Continue com a Márcia: Quer aprender a lidar com as emoções? Conheça o primeiro passo


MÁRCIA INÊS COELHO é terapeuta e especialista em inteligência emocional. Ensina pessoas e grupos a gerir suas emoções, a reconstruir a sua autoestima e a conectar-se com uma vida mais livre, leve e autêntica. Compartilha diariamente os seus textos e conteúdos de educação emocional em seu perfil no Instagram (@marciainescoelho).

Leia todos os textos da coluna de Márcia Inês Coelho em Vida Simples.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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