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Viagem pelas sensações: a jornada é mais que o destino
Livro conta sobre viagem pelas sensações. Arquivo Pessoal
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São muitos os motivos pelos quais fazer uma viagem. Se férias e descanso são os mais óbvios, há quem tome a estrada para “fugir” dos problemas, outros por uma curiosidade que nunca termina.

Há quem esteja realizando um sonho. E há quem tenha medo de sair rumo ao desconhecido e, por isso mesmo, acabe comprando uma passagem para qualquer lugar esperando encontrar pelo caminho alguma espécie de cura para aquele apego que às vezes atrasa a vida.

Tem também quem ainda nem saiba o porquê viaja. Vão na cola dos pais, que, conscientes da importância de explorar o que existe lá fora de casa, presenteiam os filhos com a sabedoria estradeira desde cedo.

Ultimamente, tenho conhecido muitos dos que viajam não por escolha, mas porque não têm outra saída para a felicidade a não ser deixar a casa para trás. Devo a esses migrantes algumas das histórias mais tocantes que conheci nos últimos dois anos.

Certamente, não conheço uma só pessoa que tenha escolhido viajar por não ter nada melhor para fazer. Mas sei que todos os tipos de viajantes convergem na percepção de que viagens são portais de transformação pessoal. Entra uma pessoa de um jeito do lado de cá, desponta-se outra do lado de lá.

O que ainda não conheci foi viajante que saísse de casa e voltasse sendo o mesmo.

Com a Cândida Carpena, autora de Sobre Crônicas de Uma Viajante — um livro independente desses que têm chegado na minha caixa de cartas — não foi diferente.

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O livro

Cada um dos 30 pequenos textos distribuídos na singela obra da Cândida revela uma percepção pessoal, um diálogo interno, uma observação qualquer sobre uma pessoa, um bicho, um cantinho… Sempre fora de casa, claro. Como viagens dentro da viagem. Sem a pretensão de mudar nada nem ninguém, apenas um mergulho a mais dentro do cenário.

Vem tudo contado dentro de uma capa gostosa de ver. Tão gostosa, que deu vontade de abrir e folhear assim que abri a portinhola do correio e cortei o envelope: um desenho colorido que revela, acredito, uma cidadezinha no interior de Goiás. Em primeiro plano, as mãos da autora com sua caneta e seu caderninho. Eu ia perguntar onde ficava aquele lugar, mas aí, depois, achei melhor não. É que o livro da Cândida não é sobre destinos.

A Cândida viaja, sim, mas não nos conta exatamente sobre o lugar. Ela viaja é pelas ideias, pelas sensações e pelos sentimentos que brotam nela durante a jornada. Então, eu quis adivinhar onde ficava a cena da capa. Foi uma brincadeira comigo mesma durante a leitura.

O destino visto da garupa

A autora roda o mundo pelos detalhes enquanto senta na garupa do triciclo que a leva com o marido pelo Brasil. Quando vai de motorhome é no banco do carona. Às vezes ela voa — na garupa de um paraglider. Só não mergulha. Porque não gosta. Assim, enquanto deixa o controle na mão do companheiro, ela nota coisas. E as descreve. E quando a gente percebe, viajou na conversa dela e não se deu muita conta de onde está.

Ah, tá bom! Talvez ela tenha dito uma vez ou outra o nome do destino…Maceió no Alagoas, Morretes no Paraná, uma estrada gaúcha, uma certa Praia da Guarita? Sei lá… Eu estou mesmo é prestando atenção no cachorro Luís Paulo que apareceu na praça do coreto de uma cidade histórica (parece que de Goiás ou do Tocantins) e ficou lá de anfitrião dos turistas. Ou estou viajando nos pensamentos dela, enquanto discorre sobre as vantagens de ser garupa de moto recebendo no rosto o vento gelado de uma serra enquanto cruza um estado no Sul.

Viagem pelos sentidos

Definitivamente, a bússola dos capítulos deste livro é desorientada. Mas não me faz falta porque quando a autora narra uma refeição em restaurante de beira de estrada, cá com minhas referências, imagino onde esteja. Panelas de barro em cima do fogão à lenha de tijolos aparentes e a hospitalidade da cozinheira, o cheirinho daquele tempero… Só pode ser em Minas, gente! Minha família é de lá. Conheço bem o cenário e o jeitinho das pessoas que ela descreve. Ela menciona estar perto da terra do biscoito, então talvez eu esteja certa… Mas passo para o outro capítulo sem resposta. Não importa. Já viajei aqui.

Na orla de alguma praia, uma cena engraçada. Um menino dança ao som de Michael Jackson e a coisa toda cresce a ponto da calçada virar palco para quem mais passar ali e quiser exibir uns passos também.

Numa cidade perto do rio São Francisco, uma senhora vende belas peças de toalhas, guardanapos e panos pintados…Não há fotos, mas sei que são bonitos pela descrição de Cândida e pelos singelos desenhos em preto e branco que acompanham as histórias ao longo do livro.

Para quem é este livro?

Sobre Crônicas de uma Viajante é como uma dessas prosas que a gente tem sobre coisas curiosas que aconteceram no caminho, nas paradas, numa visita rapidinha à família que mora noutra região. Uma conversa despretensiosa com alguém que cruzou nosso caminho.

É uma leitura para deixar ali sugerida na mesa de canto ou de centro da sala. Na cabeceira da cama. É um descanso gostoso na correria do dia a dia.

A grandeza de escrever um livro sobre viagem

Desde que tenho recebido publicações de escritores de viagem na minha caixa de cartas venho refletindo sobre como escrever um livro é ponto de virada na vida de uma pessoa.

Além de um ato de coragem e exposição, é uma forma de lançar contribuição ao mundo com pequenas sementes de conhecimento e descontração.

Então, se você for autor de um livro de viagem e quiser enviá-lo para mim, entre em contato pelo meu perfil — pode ser a oportunidade de aparecer aqui na coluna.

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