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Um convite à generosidade e à cura
Juliane Liebermann
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Cada ato de generosidade é um convite à generosidade. Cada ato de cura é um convite à cura. Cada ato de coragem é um convite à coragem. Cada ato de altruísmo é um convite ao altruísmo. Você já sentiu esse convite ao presenciar atos dessa natureza em algum momento da vida? 

Neste ano, completo 35 anos de jornalismo. Ao longo desse período poderia citar grandes coberturas e eventos marcantes que presenciei em minha vida, mas ao remexer recentemente nos meus cadernos antigos para um livro que estou escrevendo – sempre tive o hábito de manter um diário de anotações de muitas reportagens que fiz – me deparei com um relato de uns 15 anos atrás que reforça esse “convite” a que me refiro acima e sobre o qual quero refletir com vocês nesta minha coluna de hoje em Vida Simples, afinal, carregamos dentro de nós uma semente do belo que também pode germinar no outro. 

O problema é que normalmente ficamos esperando um sentido maior nas coisas e nos atos que nos cercam, queremos sempre que alguém legitime o que o nosso coração já sabe em essência. 

Bom, deixa eu voltar as memórias e as minhas anotações… 

O que é ser rico?

O relato era sobre a cobertura de um acidente de trem no Peru, na região do Vale Sagrado. Eu estava de plantão na reportagem num final de semana qualquer e, por telefone mesmo, conversei com algumas pessoas que me contaram que muitos viajantes e turistas ficaram isolados nas montanhas no inverno, sem comida nem aquecimento. Muitos poderiam ter morrido naquela noite do acidente se não fosse pelos camponeses das vilas do entorno que foram até o local levando comida e cobertores para aquecê-los. Eram pessoas pobres e muitos levaram seus próprios cobertores e pertences. 

Relendo minha descrição da época sobre o episódio, um forte sentimento me veio à tona no momento. Fiquei pensando como minhas próprias inseguranças me parecem pequenas demais. Como minha generosidade ainda é minúscula… 

Meu coração abriu como se quisesse me dizer algo. 

Se aqueles camponeses indigentes podem doar o pouco que tem, então certamente eu não preciso ficar tão preocupado com meu futuro financeiro… Eu posso dar também e vai ficar tudo bem.

Outra maneira de interpretar essa história também é entender que aqueles moradores andinos pobres são muito mais ricos do que eu, do que você e de muitos de nós que ainda não conseguimos enxergar além do muro que nos aprisiona.

Talvez esses camponeses tenham o que nós, em busca do dinheiro, sucesso e de uma segurança ilusória, estamos querendo atingir de alguma maneira.

Penso que ainda temos muita dificuldade em ver sentido e grandeza em pequenos gestos, mas são eles que mudam o mundo e nos convidam a olhar para a vida e sentir nela toda sua potencialidade.

A vida nos convida a todo momento, só precisamos nos permitir, ou melhor, confiar.

Um convite à cura

Dos diários antigos de anotações até as recentes gravações do meu podcast, tenho procurado estar sempre atento aos recados que a vida me oferece e quase sempre em forma de convite.

Num dos últimos episódios do 45 do Primeiro Tempo, a ex-engenheira e hoje terapeuta Márcia Bello, me contou sua história de transformação de vida a partir da superação de uma grave doença quando tinha 25 anos. Ela teve um problema no útero que provocou uma infecção bacteriana do líquido ascítico em seu abdômen.

Extremamente debilitada e sem andar, ficou por mais de um mês numa cama de hospital. Os médicos não conseguiam encontrar uma cura e a morte era uma possibilidade real. Todas as alternativas, incluindo a melhor excelência laboratorial, haviam sido tentadas sem sucesso.

Certa noite, Márcia disse que teve um despertar em seu quarto. Era como se alguém quisesse lhe dizer alguma coisa sobre seu estado de saúde. Foi quando sentiu um forte impulso de conversar com seu corpo, de tentar entender o porquê havia chegado àquela situação.

“Conversei com o meu corpo, perguntei muitas coisas sobre minha vida, meu passado foi quando então comecei a receber respostas num nível bem sutil, numa percepção de clareza incrível. Difícil de explicar em palavras, mas fez muito sentido pra mim”, relatou.

No dia seguinte, sem saber de nada, uma enfermeira chegou com algumas revistas sobre terapias alternativas, autocura e alimentação aiurvédica. Márcia contou que começou a ler e não parou mais. Os dias foram passando e ela estabeleceu uma forte conexão mental de cura com o seu corpo. Dali algumas semanas ela estava melhor e deixou o hospital para continuar o tratamento em casa. 

Bom, deixa eu dizer porque estou compartilhando esse relato em forma de convite. De certo não é para argumentar a favor da insuficiência da medicina moderna, tão pouco para incentivar a todos a buscarem alternativas holísticas como melhor forma de cura

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Eu ofereço essa história por conta do que ela diz sobre o futuro e do que é possível.

Penso que o grande problema é que temos uma história de mundo herdada que obscurece de nós as fontes de esperança genuína. Pintamos um mundo muito mais escuro do que realmente ele é. 

E é por isso que essa história de cura “medicamente impossível” é tão libertadora. Isso liberta a parte de mim que sabe que a vida e as possibilidades são maiores do que me disseram. 

Se a cura através da força mental é possível, o que mais é impossível? Que informações devemos negar para manter a lógica do desespero?

Quem chegou até aqui nesta minha reflexão pode escolher livremente o que fazer dessa história que acabei de contar, se deve ou não acreditar nela.

Obviamente que o meu relato não prova nada. Eu poderia estar inventando a história. A Márcia também… 

Mas essa história não está sozinha. Nestes quatro anos de podcast conversei com muitas pessoas que tiveram ao menos uma experiência, geralmente muitas, que desafiam a explicação convencional. Chamamos esses eventos de milagres. Mas eu penso que milagres são convites para olharmos o mundo de outra maneira. 

Tem muita coisa acontecendo, só precisamos dar espaço e fazer o movimento. 

Um convite à ação

Revisitando minhas anotações sobre os camponeses do Peru e o convite que nos leva  ao altruísmo, resgatando também a entrevista com a Márcia Bello e o chamado que ela nos faz sobre o poder da cura, senti de trazer, para finalizar este texto, uma história da minha avó, que entendo como sendo um convite a ação, um convite a olharmos os acontecimentos de forma mais ativa. Em tempos em que reclamar se tornou desculpa nacional para não agir, pode ser um bom exemplo para não ficarmos esperando que o mundo mude.

Certa vez o muro da casa em que morávamos em Tupã, no interior de São Paulo nos anos 90, foi todo pichado na madrugada com desenhos e rabiscos. Dona Nena ficou bem sentida quando viu, mas continuou a regar as plantas e limpar o quintal enquanto matutava em seu silêncio sobre o ocorrido

Horas depois  uma tia minha se juntou com a vizinha da frente  da casa de minha avó e as três passaram a tarde tomando café na cozinha.

Claro que a “obra de arte” em forma de pichação no muro branco de casa de minha avó foi o tema da conversa. Minha tia, sempre pautada pelos telejornais policiais, não teve em dúvida em apontar “os maconheiros da Vila Industrial” como autores da ação. 

Já Neide, a vizinha da rua,  optou por seguir a corrente dos que já não tem dúvida nenhuma que o mundo está perdido e que a juventude não tem futuro. 

Resolutiva

Ali, entre um café e outro, uma fatia de bolo de fubá ou um pão de queijo, novos culpados pela pichação surgiram e outras teses nasceram da conversa naquele chá da tarde.

Em dado momento minha avó, que optara mais pelo silêncio introspectivo enquanto Neide e minha tia tagarelavam, levantou da mesa, pegou sua bolsinha de pano que servia com carteira e saiu sem dar muita explicação. Dali 15 minutos, ela voltou com uma lata de tinta e um rolo de pincel em mãos.

Dona Nena optou não por buscar as causas e sim por agir sobre os efeitos. Para minha avó, nessa altura do campeonato, pouco importava os motivos e quem havia pichado seu muro. O que interessava era deixá-lo branco do jeitinho que tanto prezava. 

Minha avó teve uma ação voltada para o futuro, nos convidando a olhar para vida com mais protagonismo. 

Saudades da Nena.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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