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Você não é o seu passado. Você é o seu presente
Morgan Housel
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“Cuidado, Patrick, você não é o seu passado, você é o seu presente. O seu passado te ajudou a chegar até aqui, mas você não é mais ele…”, foi o que me disse recentemente, num papo pós-gravação no meu podcast, a Márcia Lerina, uma especialista em liderança e novas relações de trabalho.

Eu contava a ela sobre uma certa dificuldade que ainda enfrento de me sentir seguro profissionalmente nos novos caminhos que venho trilhando em minha vida depois que resolvi, aos 45 anos de idade, deixar para trás uma carreira de relativo sucesso após duas décadas numa mesma empresa, para repensar minha jornada.

Sinto que tem algo dentro de mim que ainda resiste, me segura num nível mais profundo, é como se eu dirigisse hoje meu próprio carro pelas estradas que escolho (o que é ótimo, tenho liberdade), mas com a sensação de guiá-lo muitas vezes com o freio de mão puxado. Percebo que falta ainda uma engrenagem mais natural nas trocas de marchas de minha vida. O bom é que não deixo de colocar o “óleo do tempo” aos poucos no câmbio que dita o ritmo de minha jornada.

Como escrever me ajuda a concatenar melhor as ideias, decidi refletir com vocês nesta minha coluna de hoje de Vida Simples sobre como podemos mudar ou escolher novas direções para nossa vida sem deixar com que o passado sabote o nosso “chamado interno”, ou melhor, sem achar que o caminho que escolhemos hoje ou a maneira como vemos o mundo depois de vivê-lo por um período, esteja desalinhado com o que a vida realmente quer de nós. Ela nos empurra na direção da evolução. O problema é que muitas vezes não confiamos em nossas escolhas. 

Diálogos internos

O motivo do alerta para eu tomar cuidado para “não ser o meu passado”, se deu exatamente pela minha idade e pela fase atual de mudanças em minha vida. Márcia me dizia que por eu ainda não estar totalmente seguro e estável na nova jornada profissional, existe uma tendência natural da nossa mente, com o passar do tempo, de nos jogar para o lugar onde “colhíamos sucesso”, onde “éramos bons” ou “você é bom naquilo que fazia e não nisso que busca“. Os diálogos internos são intermináveis. Aliás, quem não os têm?

Acontece que muitas vezes não é fácil sustentar as novas escolhas, o que em alguns casos pode descambar para caminhos não muito legais como, por exemplo, se apropriar de um certo vitimismo, achando que a culpa pelo nosso insucesso está sempre no outro ou, então, para problemas de ordem emocional, como a depressão, burnout e por aí vai. São as doenças de nossos tempos e elas estão crescendo assustadoramente.  

Mas eu quero avançar um pouco mais em outra frase colocada pela especialista que, se conseguirmos compreendê-la em sua totalidade, podemos operar mudanças: “Você é seu presente“. 

Uau, aqui está a chave, mas colocá-la na fechadura e abrir a porta para um mundo de novas possibilidades, deixando o coração apontar a direção, exige fé. 

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Vida em movimento

Quando olho a minha jornada em perspectiva, vejo que hoje muitas coisas mudaram na minha maneira de ver o mundo e de entender a vida, o que não quer dizer que as coisas em si e ao meu redor mudaram junto comigo. Deixa eu ser um pouco mais específico e trazer um exemplo no âmbito do trabalho

Chegou um determinado momento na minha vida profissional que o que eu fazia como rotina de trabalho não era mais o que eu acreditava. Mas eu fazia. Acontece que durante um tempo é possível sustentar essa incompatibilidade, afinal, lidar com esse estranhamento exige uma depuração mais atenta antes de qualquer decisão. Sou daqueles que entendem que cada um tem seu tempo. Mas chega uma hora que o coração aperta e o desajuste incomoda. Permanecer nesse lugar ainda é uma possibilidade, mas desconfio ter prazo de validade.

Hoje, quando me perguntam como eu estaria se ainda continuasse no meu antigo trabalho sem “ser o meu presente”, ou seja, sem ser honesto comigo mesmo e inteiro no que faço. Digo que só posso buscar algum tipo de resposta para essa pergunta na minha intuição e ela me diz que talvez eu não estivesse mais aqui hoje para escrever esse artigo. Forte né?

Permita-se sentir

Penso que esconder ou reprimir o que está emergindo dentro da gente no processo natural de evolução e expansão da vida para “permanecer” no que não somos mais, traz consequências, assim como também traz consequências às escolhas e os caminhos que buscam outras direções sem saber para onde elas nos levarão. A diferença, no entanto, é que uma coloca a vida em movimento enquanto a outra a estagna. 

O que eu quero dizer neste texto é que não temos garantia de nada, mas existe o “presente”, o confiar na vida e na fluidez dela

Por mais que eu ainda busque essa segurança — aliás, estou cada vez mais convencido que ele não existe — tenho comigo que a vida é aquilo que acontece enquanto fazemos planos. E aqui ampliamos mais um pouco esse…. “você é seu presente”.

Viver no agora, no único instante que realmente existe, faz muita diferença. Mas, para estar neste “presente”, não podemos jogar fora o mundo que poderia ter sido

Lidar com o medo

É interessante observar que nos momentos em que a dúvida nos ronda muitas vezes é o passado de alguma forma pedindo passagem e, normalmente, para nos sabotar. E ele está diretamente ligado a um certo medo do novo. Sei bem o que é isso nesse meu quase meio século de vida, na qual já tive que operar algumas mudanças. Estou falando aqui hoje sobre mais uma em minha vida.

Quando vamos contra o nosso pressentimento de que mudanças precisam acontecer, difíceis, em muitas das vezes, racionalizamos uma espécie de “covardia”. “Melhor o mal conhecido” dizemos, “que o diabo que não conhecemos”. E assim podemos jogar fora a verdade que a vida está pedindo da gente. 

Essa é a hora que recorro ao escritor e jornalista Norman Cousin, que escreveu no século passado sobre sentir medo da coisa errada: “a grande tragédia da vida não é a morte, mas o que morre em nós enquanto estamos vivos“. Interessante que dezoito séculos antes, o imperador romano Marco Aurélio escreveu: “Não é a morte que um homem deve temer; ele deve ter medo de nunca começar a viver“.

Hum, acho que entendi o que é esse “Você é seu presente”. E você? 

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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