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Sentimentos diferentes podem caminhar juntos quando há amor
Nik/Unsplash
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Sempre achei que sentimentos andassem em pares. Feito queijo com goiabada. Só que nos últimos tempos a vida tem se mos­trado estranha. E feito bagunça na minha teoria de pares perfeitos.

É que tenho vi­venciado a alegria e a dor. O amor e a tris­teza. No princípio, achei loucura. Ninguém nos ensina que sentimentos diversos po­dem conviver com desenvoltura.

Rotinas e sentimentos que mudam

Papai tem passado seus dias deitado no sofá. Assiste TV, faz palavras-cruzadas, dorme. Muito. Ele nunca parou. No sítio da família, colhia frutas, dava banho nos cachorros, limpava a piscina, plantava, po­dava, varria a varanda.

Percebê-lo se ape­quenando no sofá é angústia que não sabe por onde escapar. Perguntei a ele como era envelhecer. “Difícil.” Pedi que explicasse. “Não ter mais os amigos, não poder andar por aí. As pessoas me fazem falta, filha.”

As palavras reverberam em mim. Impotência. Sexta à noite. Me arrumo como quem vai para a primeira festa. Bailinho. O desejo de ser convidada para dançar uma música lenta. Marcos, o namorado, iria tocar com o irmão para comemorar o aniversário de ambos.

Saio de casa já atrasada. Che­go ao bar, entro sem jeito. Nossos olhares se cruzam. Ele sorri. Devolvo. Estou aqui. Onde sempre quis estar. Com ele. Marcos é tímido, generoso, companheiro. Quando nos abraçamos, me sinto em casa.

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Estamos no bailinho da vida

Quando nossos corpos se encontram, flutuo. No bailinho da vida, estou. Nesse amor que é um não lugar, porque pode ser todos. En­quanto ele toca, danço, festejo.

Angústia pelo fim, esperança de reco­meço. Uma dualidade que consome, ora pende para um lado, ora para o outro. Mas há um sentimento que une os extremos: o amor. É um privilégio, por mais doloro­so que seja, ser companhia para os meus pais no final da estrada deles.

Sou a mão que acompanha, em um difícil exercício de observação do fim, um ponto no qual todos iremos chegar – mas que evitamos pensar. É corajoso – para mim e para o Marcos – mergulhar no profundo de uma nova re­lação, após recolhermos nossos pedaços. Estamos na mesma estrada – eu, ele, meus pais. A diferença é que alimentamos a nos­sa fé em uma jornada ainda longa.

Tristeza, alegria, paixão, dor e angústia. Não existem, afinal, pares perfeitos. Há apenas o caminho, que todos nós atraves­samos. Juntos, em pontos diferentes. Tal­vez esse seja o sentido. Imperfeito. Imper­manente. Bonito. Necessário.

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Conteúdo publicado originalmente na Edição 261 da Vida Simples

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