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“Ou muda pelo amor, ou pela dor”: o que de fato nos traz mudanças?
Javier Allegue Barros
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Há um ditado que diz: ou você muda pelo amor, ou muda pela dor. Quem sou eu para questionar a sabedoria popular que tão bem expressa a essência humana em toda sua complexidade durante o processo de mudanças. Mas, vou me permitir, nesta minha coluna de hoje em Vida Simples, dar um senso de proporção mais adequado às duas opções do dito das ruas sobre o que de fato nos leva a mudança e, a partir dela, trazer uma reflexão de como o divino muitas vezes usa as situações de nossa vida para nos despertar.

Acredito que mais de 90 por cento das pessoas só tem mudanças suas vidas quando se deparam com a dor. O número é empírico, é verdade, mas pode se aproximar de algo factível a partir de uma constatação pessoal de campo que venho me propondo nesses últimos anos de minha jornada como um “ouvidor de histórias”.

Agora em dezembro estou completando 240 entrevistas no meu podcast, o 45 Do primeiro tempo, que fala muito sobre autoconhecimento, espiritualidade e transformação de vida. São quatro anos conversando com pessoas das mais diversas áreas: médicos, cientistas, filósofos, espiritualistas, religiosos, músicos, esportistas, astrólogos, empreendedores, escritores, engenheiros, físicos, donas de casa, pessoas comuns…. A lista é longa.

O divino é a vida em movimento

Decupando alguns episódios para um livro que estou escrevendo, defini um dos capítulos como “O divino é a vida em movimento”, onde trago relatos de muitos entrevistados sobre como a dor e as crises profundas de suas jornadas, serviram como uma espécie de renascimento de vida. É interessante observar que muitas vezes a mudança de chave e o redirecionamento existencial vem a partir de uma aceitação do que se está vivenciando, por mais difícil que seja o drama enfrentado, e não uma fuga dele, como normalmente fazemos.

A ironia é que a maioria dos seres humanos passa a vida evitando situações dolorosas. Não somos bem-sucedidos, mas estamos sempre tentando evitar a dor. Temos uma crença, talvez inconsciente, de que nosso maior crescimento em termos de consciência provém de momentos belos. Penso que certamente podemos dar grandes saltos em consciência de belos momentos em nossa trajetória, mas eu diria que a maioria das pessoas o faz em períodos mais difíceis. E exemplos não faltam.

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Despertar não é cor de rosa

Foi assim com a hoje professora de neurociência e psicologia positiva da PUC-RS, Caroline de Moraes que enfrentou um longo período de stress emocional que se transformou numa crise psicoespiritual no auge da sua vida adulta. No papo que tivemos ela contou sua dolorosa jornada que a levou a deixar seu trabalho numa grande empresa e buscar tratamento. Foi um momento de profundo mergulho na dor, mas que culminou com a transformação alguns anos depois. Hoje Caroline dedica sua vida a ajudar as pessoas a encontrarem seu verdadeiro propósito sem deixar de buscar a causa raiz que normalmente está por trás dos problemas.

Semelhantemente aconteceu com a empreendedora Nathalie Trutmann, responsável por trazer a Singularity University ao Brasil.  Ela sobreviveu a três burnouts, sendo o último deles um tanto devastador que quase a levou a um colapso mental que lhe trouxe muito pânico e medo. Nathalie me contou que muitas vezes quando não estamos dispostos a enxergar o que a vida está tentando nos mostrar, ela segue aumentando a intensidade até que estejamos propensos a ver o que precisamos ver. Seu processo de cura passou por um profundo mergulho interno que demorou mais de um ano.

“Ninguém vai bater mais forte do que a vida”. Disse o empresário e fundador da Academia Soul, empresa que desenvolve programas sócio emocional e meditação para crianças e adultos. Fernando Gabas esteve muito próximo da morte, mas precisou chegar quase lá para mudar os rumos de sua vida. Há pouco mais de 10 anos teve um AVC hemorrágico quando morava nos Estados Unidos. O Episódio fez com que despertasse para o que de fato vale a pena na nossa jornada: saúde física, domínio emocional e sentido e vida.

Aceitar os desafios e as mudanças

São inúmeros os exemplos de pessoas que chegaram quase ao limite de suas existências para que passassem por mudanças. Sei que chega a ser um clichê espiritual dizer que a vida é o nosso maior mestre, mas o fato é que só podemos saber o que significa o que estamos vivendo quando passamos por situações desafiadoras, quando permitimos que a vida mantenha um espelho para podermos nos ver claramente. Pensar que a “iluminação” só ocorre por meio de experiências maravilhosas é iludir a si mesmo.

Conversando com tantas pessoas nesses últimos anos pude constatar também que muitas vezes o que nos impede de achar sentido ao que nos acontece e, a partir do enfrentamento, buscar mudanças, são as crenças e rótulos mentais que definem tudo como “bom” ou “mau”. Me lembro do que me disse o Lama Padma Samten num papo que tivemos no ano passado. “Os rótulos sempre pressupõem uma perspectiva limitada e, assim, são verdadeiros apenas temporariamente e de modo relativo”, frisou.

Uma história de mudanças

No livro O Despertar de Uma Nova Consciência*, de Eckhart Tolle, ele traz uma pequena história contemporânea que ilustra bem o quanto enxergamos pouco sobre o sentido que nos acontece.

Ele conta que certa vez um certo homem sensato ganhou um automóvel caro num sorteio. Sua família e seus amigos ficam muito felizes por ele e chegam para comemorar. “Não é ótimo? Você tem tanta sorte”, diz um deles. O homem sorri e responde “pode ser”.

Durante algumas semanas ele se diverte dirigindo o carro. Até que um dia um motorista bêbado provoca uma batida num cruzamento e o homem vai parar no hospital, com vários ferimentos. Ao visitá-lo, a família e os amigos comentam: isso foi realmente uma infelicidade. De novo, o homem sorri e diz: pode ser.

Enquanto ele continua no hospital, certa noite ocorre um deslizamento de terra e sua casa é tragada pelo mar. Mais uma vez, os amigos aparecem no dia seguinte e observam: – Não foi mesmo uma sorte você ter ficado aqui no hospital? Novamente ele responde: – Pode ser.

O “pode ser” desse personagem sábio, explica Eckhart Tolle, significa uma recusa em julgar tudo o que acontece. Em vez de avaliar os eventos, ele os aceita e, dessa maneira, entra em alinhamento consciente com a ordem superior.

Aceitar mudanças é o caminho.

Um ótimo 2024 a todos os leitores que estiveram comigo neste ano. Vamos juntos, no amor ou na dor.

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