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O dia em que descobri que sorrir pode mudar tudo
Clara Hebron
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Sorrir faz bem. Não sou só eu que estou afirmando. São inúmeras as pesquisas e estudos que comprovam que abrir um sorriso tem consequências positivas pro corpo e pra mente. 

Mas confesso que, apesar de ter consciência que o sorriso é uma (re)ação que expressa possíveis sentimentos positivos, nunca havia parado pra prestar realmente atenção no que acontece quando ganho um sorriso de alguém. 

Especialmente se este vier sem eu o provocar ou esperar. 

Até que um acontecimento me levou a nunca mais parar de pensar sobre isso. E fez com que minha relação com o ato de sorrir mudasse completamente.

Tudo começou com a busca pela endorfina

Faz mais de duas décadas que a corrida de rua faz parte da minha rotina matinal. É um exercício que posso fazer de qualquer lugar do mundo, no horário que eu bem quiser e sem nenhuma taxas de adesão ou plano anual. Basta um par de tênis e uma dose (às vezes, enorme) de força de vontade. 

Apesar de ter se tornado um hábito, correr sempre foi uma intensa mistura de “amor” e “ódio”. Não é facil sair da cama cedo, vestir a roupa e sair trotando pelo asfalto das cidades onde eu vivo. Faço tudo isso porque, por mais desafiador que seja, sei que vou me sentir muito bem num futuro próximo – quando estiver voltando pra casa, é claro. Pelo menos, pra mim, é assim que funciona.

Quem eu era antes 

Por muitos anos, fui o tipo de pessoa que corre evitando cruzar o olhar com tudo e todos. Colocava uma música alta e animada no ouvido – na esperança de fazer o tempo passar mais rápido – e passava 40 minutos ignorando os seres humanos do caminho. 

Se me perguntar o porquê, eu não sei responder ao certo. Vergonha? Timidez, quem sabe? Ou será que era simplesmente pelo de fato de estar absurdamente imersa nos meus próprios pensamentos a ponto de não querer perceber nada além de mim? 

O dia em que tudo mudou

Estava passando alguns meses em São Paulo, onde minha pista de corrida era a Avenida Sumaré. Naquela manhã, como era de costume, saí me arrastando pra mais uma sofrida busca pela endorfina que vem após o término da prática. 

O sol estava começando a dar as caras e, até aquele momento, eu havia cruzado com poucas pessoas. Obviamente, evitei trocar olhares com estes outros esportistas que, corajosamente, também enfrentavam a subida e descida do percurso. 

Faltava menos da metade pra que eu terminasse minha sessão de tortura terapêutica matinal quando, por descuido meu, olhei diretamente nos olhos de um corredor que vinha na direção oposta. E o que aconteceu na sequência deve ter durado dois ou três segundos, no máximo. Nessa pequena fração de tempo, minha vida mudou.

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Quem me tornei depois

Um sorriso apareceu no meu caminho, vindo daquela pessoa que eu nunca tinha visto na vida. E, mesmo com fone de ouvido e música no talo, entendi que ele disse “bom dia” antes de cruzar por mim. Como reflexo inconsciente, eu respondi “bom dia”. E, quando percebi, havia um sorriso em mim. Uma expressão que havia roubado o lugar da provável cara de martírio que antes estampava meu rosto.

Fiquei assustada. Por que eu estava sorrindo? Como havia saído de mim um “bom dia” espontâneo? O que estava me fazendo seguir em frente ainda carregando aquele semblante sorridente comigo?

Não conseguia mais pensar em nada além do impacto positivo que aquele encontro aleatório com um desconhecido havia me proporcionado. 

Couple of Things (@coupleofthings)

Quem sou hoje

Passei dias, meses, anos pensando sobre esse encontro. Aquela pessoa, que com certeza não faz ideia do impacto que aquele mero ato teve em mim, mexeu sem querer nas profundezas do meu ser. 

Me provocou a sair de mim e olhar o outro. Me fez querer retribuir o que eu recebi, sem pedir. Me inspirou a distribuir algo que, quando mais eu dou, mais eu ganho. Um mero sorriso. E um simples bom dia. 

Desde então, quando saio pra correr nas madrugadas, seja em São Paulo, em Floripa, na França ou onde quer que eu esteja morando, olho nos olhos de cada pessoa que passa por mim. Sorrio. Digo bom dia. Em algumas corridas matinais, cruzo com tanta gente que chego a distribuir mais de 60 “bom dias” pelo caminho, que voam de mim junto com os sorrisos leves. E o que vejo acontecer bem na minha frente é mágico.  

Numa fração de segundos, a expressão das pessoas muda. É como se elas, ao receber algo que não pediram, inconscientemente devolvam na mesma moeda – ou seja, sorrindo de volta. E muitas vezes, respondem docemente ao meu bom dia, saindo do labirinto mental em que estavam imersos e retornando ao momento presente.

Quem quero ser

Sorrir pra um desconhecido não só é uma ponte que conecta ambos os lados. É também um ato que proporciona algo que buscamos o tempo todo – às vezes, sem perceber: o reconhecimento. 

Ser visto, percebido, notado pelo outro. Mesmo que por um breve instante, mesmo que por uma pessoa aleatória na rua. Este momento em que estabelecemos contato através de um sorriso tem potencial pra transformar positivamente o dia de alguém – ou até, como aconteceu comigo, toda uma vida. 

Descobri assim que sorrir é contagioso. Sorrir é viciante. Mesmo que dure pouco no rosto, o seu impacto verdadeiro é duradouro, sentido dentro de cada um – de quem dá e de quem recebe. 

Nunca mais economizei sorrisos. E pretendo seguir os entregando por onde passo pra, quem sabe, pra despertar em mais pessoas a importância que este simples ato tem. 


DIANA BOCCARA é autora do livro “Mínimo Essencial”, filmmaker, minimalista, e integra o duo  Couple of Things ao lado de seu marido Leo Longo. Desde 2015, vivem itinerantes pelo mundo, filmando séries como “What If Collab” (disponível no Amazon Prime Video) e “A Volta Ao Mundo em 80 Videoclipes” (disponível na Globoplay). Suas histórias já foram contadas nos palcos do TEDx e SXSW. No instagram, o casal divide um pouco mais dos bastidores de uma vida na estrada. E aqui na Vida Simples, eles compartilham aprendizados que uma vida com menos excesso lhes trouxe. 

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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