Cuidado com as listas de fim de ano
Mais do que ajudar, as listas de fim de ano podem acabar causando sofrimento. Conheça um caminho mais saudável para fazer as mudanças que deseja.
Tem algo que se repete todo fim de ano: as listas. As listas que muitas pessoas fazem com promessas para o próximo ano. Essas listas podem ter muitas características, mas tem uma que chega a ser cruel. São aquelas que acabam por gerar ansiedade e um sentimento de fracasso. “Eu devia ter feito e não fiz, mas no próximo ano eu vou conseguir”.
Emagrecer, ir à academia, cuidar melhor do meu dinheiro, ter mais tempo de descanso, dizer não para o que já se sabe que não está fazendo bem, fazer aquele curso de inglês para ter um currículo melhor, viajar, ler todos os livros comprados… São tantos os itens escritos de forma tão clara que faz parecer fácil conquistá-los no próximo ano.
Interessante notar que as listas transmitem um ar de positividade, de se querer melhor, de que aquilo realmente vai fazer bem. E é verdade. Não há dúvidas de que cuidar da saúde, da vida financeira, dar espaço para o lazer, ler (para quem gosta) fazem um bem danado. Conscientemente, se sabe disso tudo. Porém, se a pessoa não está conseguindo, não adianta nada ela ficar fazendo promessas e se forçando a conseguir para depois não conseguir e sentir mal, culpada e fracassada.
Compreenda as causas que impedem a mudança
Um caminho melhor seria entender “por que eu não consigo emagrecer”, “por que eu não consigo ir à academia”, “por que eu não digo ‘não’ ao que me faz mal” e assim por diante. Tentar compreender as causas é o que realmente pode levar às mudanças. Por quê? Porque a lista reflete o sintoma, a consequência, e o que precisa ser trabalhado, entendido, refletido e elaborado são as causas.
É nesse momento que muita gente ganha autoconhecimento, se apropria melhor do seu mundo interno, da sua história de vida, dos traumas já vividos, da educação que recebeu, do que faltou, dos excessos, de como se sentia na infância e na adolescência, por exemplo. Além disso, vai passar a ver que dentro de si existe um conflito de forças opostas: uma que quer ir por um caminho e outra que quer ir por outro.
Buscar toda essa compreensão nos coloca em um profundo contato com nós mesmos e passamos a tomar uma proporção maior de quem somos. Somos capazes de ver também o ciclo do sofrimento: conscientemente eu quero botar um ponto final nesse relacionamento que não me faz bem, mas quando eu vou fazer isso, tem algo que me impede e eu acabo continuando para depois de um tempo me arrepender, me culpar e me atacar por não ter conseguido.
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Uma profunda transformação
Continuando com uma análise desse exemplo. Será que não se consegue terminar uma relação que faz mal porque essa pessoa foi criada ouvindo que tem que perdoar, que o outro vai sofrer e coitadinho dele, que má pessoa que eu sou por fazer mal a ele? E, em seguida, quando vem a culpa pode ser que um indivíduo tenha crescido sob os mandatos de: querer é conseguir e se não consegue é porque não tem força de vontade – que terrível isso, não é mesmo?
Tudo isso revela que há muitas coisas que precisam ser ajustadas, vistas de outro modo, organizadas melhor, que o desejo próprio necessita ser mais atendido, dar um chega para lá na excessiva moral religiosa que anula a humanidade de cada ser,… Enfim, muitas coisas que não são possíveis de serem feitas num passe de mágica, numa virada de ano, numa lista construída com rapidez.
Somos pessoas, temos que ter paciência com nós mesmos e ir ajustando o que dá conforme vamos conseguindo. Um passo de cada vez. Um pouquinho por vez. E se for para fazer lista, que seja a do supermercado para nos ajudar a comprar tudo o que precisamos sem precisar voltar lá porque faltou algo.
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