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Aprender a não tapar o sol com a peneira faz parte de ser adulto
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Pode ser que nos tempos atuais de positividade a todo custo – numa contrapartida defensiva aos horrores da realidade –, seja quase que malvisto falar de angústia e sofrimento como parte natural e necessária da vida psíquica e da vida comunitária.

Há algum tempo descobri, não sem muito trabalho de análise, que a única saída é através. Já fui a pessoa que se orgulhava de ficar muito bem em situações limítrofes de estresse e “só sentir os efeitos depois”. Eu não sabia que isso se chamava dissociação e que me fazia mal, apesar de trazer alguns ganhos secundários à minha imagem de “fortona”.

Pois bem, a fortona foi se humanizando e percebeu muito dos machucados que escondia em si, alguns já em estado deplorável de negligência.

Tapar o sol com a peneira em algum momento vai queimar e arder a nossa pele, não é mesmo?

Sentir faz parte

Nos meus estudos sobre a psicanalista austríaca Melanie Klein, descobri que atingir certa posição depressiva era uma conquista, na medida em que somente deixando cair as máscaras, paramos de esconder a dor de nós mesmos. Acabamos com medo de que o ódio mate o amor, mas ele não mata – se bem sentido e demonstrado –, porque são duas faces da mesma moeda. Somente integrando nossos impulsos inomináveis a este amor é que podemos realmente sentir toda a ambivalência frente aos objetos de nossa vida. E é justamente sentindo, porque entramos em contato, que podemos fazer alguma coisa sobre nossa situação perante eles.

Faz parte deprimir, odiar, invejar, angustiar e sentir desconforto para fazer algo com isto tudo. Ao tentar eliminar estas partes naturais da vida, podemos não apenas produzir sintomas que falarão no lugar delas, mas também apagar em nós a chama do que mais significa ser humano: a capacidade de entrar em contato conosco. Não dá pra dissociar apenas do nosso lado menos bonito, vamos ter que diminuir o tom de todas as nossas cores.

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Podemos então dizer que bem sentir é deixar de idealizar o quadro de sentimentos leves e bons, é entender que não existe a parte leve sem a difícil, e que viver é em si difícil.

A busca de apenas sensações positivas não apenas é uma busca infantil, mas pode nos levar a um lugar isolado, não só de nós, mas das pessoas. É na vulnerabilidade que nos ligamos ao outro.

Ser adulto é aprender a reconhecer a realidade

Não é possível estar atento às coisas bonitas e à beleza da vida, se estamos a todo momento tentando esconder de nós mesmos as coisas internas que não achamos tão bonitas. E, parando de esconder, temos a chance de trabalhar para que nossa realidade externa não seja tão angustiante e ansiogênica, podemos entender o que é ou não mutável, o que teremos que fazer acordos e o que só nos resta aceitar.

Ser adulto pode ser muito complexo, por isso a noção de bem sentir também é.

Que a gente saiba colocar a peneira de lado e sentir o sol na pele, não só para aprender a se proteger de seu dano, mas também para aproveitar seu calor e sua luz enquanto for seguro.

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