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Toda paternidade precisa ser ativa
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Falar da participação dos homens no processo de criação dos filhos ainda é um tabu. Thais Basile levanta questões importantes sobre o assunto e questiona o termo “paternidade ativa”


Há alguns anos surgiu o movimento autointitulado “paternidade ativa“, e eu queria falar um pouco sobre as preocupações que tenho acerca do conceito.

De primeira, o que salta aos olhos é que o adjetivo “ativa” confirma que existe uma paternidade inativa, desresponsabilizada, negligente, e faz isso se separando desta.

Podemos ver a mesma tendência em outros termos modernos, como “medicina humanizada”, “saúde integral”, “educação consciente”, em que a exceção confirma a regra.

O problema de chamarmos a paternidade de “ativa”, é que o termo não se aplica à sua complementar direta, a maternidade. Porque a maternidade não é só ativa, ela é “sobre-ativa”, é sobrecarregada, enquanto a paternidade ainda é facultativa. É raro um pai que assume integralmente sua função paterna, mostram os dados.

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O novo “pai de selfie”

Elisabeth Badinter, no livro “O mito do amor materno“, conta que no fim do século 18 o discurso sobre a maternidade foi incutido de culpa e responsabilização solitária, e se consolidou no homem o papel batido do provedor. As mulheres foram igualadas às crianças no quesito incapacidade, e os homens estavam muito acima disso pra perderem seu tempo se preocupando com elas. Infelizmente, isso continua a ser verdade em pleno século 21 para a maioria dos pais, que relegam as funções básicas de cuidado à mãe, sob diversas desculpas.

É muito bom que um movimento de homens esteja atento às suas responsabilidades e tentando falar com seus iguais, mas me preocupa que muitos aceitem aplausos de mulheres por isso. A audiência deles não deveria ser elas. A preocupação em informar, educar, colocar limites em seus iguais, precisa efetivamente ser superior à vaidade de se sair “bem na foto” fazendo isso. O “pai de selfie” pode tomar muitas formas, até a forma do progressista aliado.

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A paternidade ativa de verdade

Homens têm o dever histórico de se colocar como responsáveis pelos filhos tanto quanto suas mães, e não apenas isso, mas também repararem os danos históricos da divisão sexual do trabalho doméstico e de cuidado.

Talvez a maneira de fazer isso seja menos “dar um nome bonito e vendável” e ter uma audiência majoritariamente feminina, e mais botar a mão na massa no dia a dia masculino, interditando amigos que escondem renda para pagar menos pensão, se recusando a manter a amizade com aqueles que fingem que não têm filhos, levantando o tema desconfortável para mesa do bar e para o trabalho.

Acredito que são os desconfortos verdadeiros que nos levam a nos movimentar enquanto sociedade e enquanto indivíduos para um lugar melhor.

Mulheres mães foram colocadas no lugar de sustento invisível, não reconhecido, não remunerado, culpabilizado e solitário, e já passou da hora de quem as colocou lá, tomar a responsabilidade por isso. Não só pelo bem das crianças, mas por um futuro sustentável e íntegro para todos os cuidadores.


THAIS BASILE é psicanalista, escritora, especialista em psicopedagogia institucional, palestrante, feminista pelos direitos das mulheres e crianças e mãe da Lorena. Compartilha um saber para uma educação mais respeitosa no @educacaoparaapaz.

Leia todos os textos da coluna de Thais Basile em Vida Simples.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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