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Ao romantizar minha rotina, vejo o extraordinário acontecer
Todo dia isso. E sim (Foto: Diana Boccara/Couple of Things)
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Rotina. Tem gente que não vive sem. Outros, odeiam ter uma. Muitos apenas adotam a sua por senso comum. Pura praticidade.

Hoje sou do time que ama ter rotina, mas já fui daquelas que associa a palavra ao “marasmo”, “repetição”, “estagnação” de uma vida cheia de “mais do mesmo”.

A rotina de estar sempre mudando

Se você acompanha nossos textos aqui na Vida Simples, possivelmente já sabe que Leo e eu moramos cada hora num lugar diferente pois há uma década decidimos ser nômades.

Mas estar em constante mudança de cidade e casa não significa que não temos rotina. Pelo contrário. Nossos dias são fundamentados em ações e hábitos que se repetem ciclicamente.

Todo dia eles fazem tudo sempre igual

Acordamos antes do nascer do sol, fazemos exercício, preparamos café, trabalhamos ao longo do dia, cozinhamos, jantamos com o anoitecer, assistimos algum filme ou série e, lá pelas 20h30, já estamos deitados, nos preparando pra repetir a mesma sequência de ações no próximo dia, lado a lado.

Uma rotina simples que acontece quase que 100% dentro de casa, sem grandes interações externas na grande maioria dos meses. Analisando friamente essa descrição que fiz do nosso dia-a-dia, de fato parece um cotidiano monótono, né? Concordo.

Mas, pra mim, ter rotina passou a não ser nada banal a partir do momento em que eu passei a romantizá-la.

As inúmeras passagens somente de ida

Uns meses atrás, estava morando em Florianópolis. Como de costume, estava seguindo o cronograma de sempre, tomando meu café enquanto assistia o dia começar a nascer.

Por mais que aquela cena se repetisse diariamente, senti que aquele instante era único. E, dele, nasceu uma frase em mim.

“A vida é uma intensa viagem pra múltiplos destinos diários, apenas com passagens de ida.”

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Romantizar a rotina sabendo que não é tão simples

Essa frase me faz pensar que, mesmo fazendo todos os dias as mesmas coisas e não saindo do lugar fisicamente, estou sempre avançando uma casinha no tabuleiro do jogo da vida.

Pra cada hora que vivo, tenho somente o bilhete de ida. Não tem como voltar pra onde estava antes. Pois mesmo que volte, já nao serei a mesma.

Não sei como isso soa pra você mas, pra mim, ter essa consciência me traz uma dualidade de sentimentos. Medo e ansiedade de um lado. E, por outro, uma vontade intensa de aproveitar o tempo que tenho hoje, pois ele passa e não retorna.

Com todas estas emoções misturadas, passei a me esforçar pra fazer os momentos triviais do cotidiano valerem o investimento dessa minha passagem de ida. Não é sempre simples, mas é um exercício diário. Quanto mais tento, mais natural vai se tornando o processo.

Mas aí, você que está lendo este texto, possivelmente vivendo mais um dia da sua rotina, pensa: como fazer isso, sendo que tudo é igual?

Apaixone-se pelo instante

Escrevo este texto sentada na varanda da casa em que estamos morando há um mês, que é deliciosa e fica na cidade de Sorocaba, no interior de São Paulo.

Neste instante, ouço e vejo a chuva cair intensamente na grama do jardim, fazendo com que o aroma de terra molhada me abrace com carinho.

Com uma xícara de chá de cidreira na mão, observo o Leo deitado na rede, gripado, neste domingo com cara de preguiça.

Descrevo pra você esta cena percebendo tudo isso. Sentindo a paz das gotas batendo ritmadas no telhado, a sensação boa de estar onde estou, uma apreciação pelos itens que me rodeiam, um contentamento pela companhia que tenho agora.

Tranforme o ordinário em extraordinário

Ter rotina passou a se tornar um fator valioso pra mim quando entendi que, mesmo fazendo as mesmas coisas todos os dias, nada nunca se repete.

Amanhã, será segunda-feira. Viverei exatamente a mesma sequência de ações pois estarei nessa casa, com o computador no colo, trabalhando do mesmo lugar que estou agora, novamente com a companhia do Leo. É minha rotina de todos os dias aqui. Mas o agora é agora.

E sabendo que o agora não se repete, o romantizo. Transformo na minha mente o ordinário em algo único. Especial. Extraordinário. E isso me faz sorrir.

Reconheço e valorizo o presente, buscando olhar pra o instante de forma positiva. Otimista sim. Afinal, todos nós temos problemas, dramas, dilemas e obstáculos. Da mesma forma que também estamos cercados de momentos, pessoas e oportunidades especiais, basta prestarmos atenção.

Cabe a mim e a você nos darmos a chance de olhar o copo meio cheio, percebendo no trivial da rotina as pequenas alegrias que nela moram e que fazem parte desse momento.

Como diz a frase do imperador romano e filósofo estoico Marco Aurélio que tatuei no braço, “a alma é tingida com a cor dos seus pensamentos”.

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Diana Boccara compartilha mais sobre viver com menos em seu livro Mínimo Essencial. Há quase uma décda vive na estrada com seu par de malas, acompanhada pelo seu marido Leo Longo, com quem divide seus dias e o trabalho no duo Couple of Things. Filmmaker e minimalista, vive pelo mundo filmando séries como What If Collab (disponível no Amazon Prime Video), ABITAH e A Volta Ao Mundo em 80 Videoclipes (ambas disponíveis na Globoplay). Suas histórias já foram contadas nos palcos do TEDx e SXSW. No instagram, o casal divide um pouco mais dos bastidores de uma vida itinerante. E aqui na Vida Simples, eles compartilham aprendizados que uma vida com menos excesso lhes trouxe.


Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião da Vida Simples.

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