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O que o nomadismo me ensinou sobre a felicidade
Nomadismo ensina que felicidade não tem endereço fixo. Arquivo pessoal Diana Boccara.
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Querer ser feliz e realmente estar são duas coisas bem diferentes. Uma é um desejo, sonho, meta. A outra, uma realidade. A meu ver, uma das coisas que mais distancia o querer ser feliz do estar de fato feliz é nossa tendência a projetar a conquista da nossa felicidade em fatos, conquistas e até em pessoas – tudo que a gente não tem controle sobre.

Demorei para desassociar minha felicidade dessas coisas que não dependem de mim – talvez por costume, pela mania de terceirizar problemas, pela facilidade de evitar o que não gosto.

Foi somente quando me tornei nômade – vivendo cada hora num lugar que desconheço, rodeada por pessoas que nunca vi – que minha visão de mundo mudou e passei a enxergar com mais clareza o que me traz felicidade.

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Felicidade não tem endereço fixo

Mal começou o ano e eu já me mudei quatro vezes de casa.

Pode ser até difícil de imaginar ter uma vida assim, sem ter seus objetos pessoais espalhados pelos ambientes, móveis escolhidos a dedo e guarda-roupa cheio de peças que não caberiam numa mala de 23kg como a minha atual.

Já tive tudo isso e sei como é confortável. Mas foram essas muitas dezenas de mudanças ao longo dos anos que me fizeram perceber que, mesmo não tendo uma casa para chamar de minha, eu consigo me sentir em casa.

E foi a vida nômade que me mostrou que se sentir em casa tem a ver com segurança. Com acolhimento. Tem mais a ver com se sentir à vontade, podendo ser quem eu sou, do que com as coisas que estão ao meu redor ou do ambiente em si.

Descobri que felicidade não tem endereço fixo, pois não depende de um lugar específico. Depende de como eu me sinto onde estou. E das conexões que eu faço por onde passo.

Essa sensação de bem-estar e pertencimento também está associada às pessoas. Não espero que os outros me façam feliz, pois essa expectativa gera frustração.

O que percebi é que me sinto segura num lugar quando crio relacionamentos com quem está ao meu redor. E isso exige esforço e atitude da minha parte, sim. Mas sei que, sempre que precisar de ajuda ou de uma companhia para um café, tenho a quem recorrer.

A busca por se sentir feliz é um exercício diário

Tem dias que acordar é um ato que exige forças homéricas. Sair da cama para enfrentar a realidade parece uma missão impossível. “Levantar para quê?” – me questiono. Me sinto irrelevante.

Mas, mesmo triste, irritada, sem ânimo, me esforço para fazer algo que me faça bem e que me tire desse estado – seja fazer exercício, levar um bolo para a vizinha, observar os passarinhos ou dar uma volta pelo bairro. Coisas simples, que possam ser feitas independente de onde eu esteja, mas que impactam meu humor positivamente.

Aliás, são nestes dias que acordo completamente desmotivada que percebo o quão importante para mim tem sido o hábito de exercitar a felicidade, independente de onde eu esteja.

Quando a busca interna pelo que nos faz bem se torna um exercício diário, proporcionamos para nós mesmos uma rotina de bem-estar e um olhar mais otimista para os altos e baixos da vida.

Ser nômade me fez perceber com mais clareza que tudo está em permanente estado de mudança. Aceitar que isso também vale para mim me traz a esperança de que, mesmo em dias em que nada parece favorável, tenho a possibilidade de escolher alterar meu estado de espírito.

A felicidade mora nas pequenas coisas do agora

Adoraria dizer que o lugar ideal existe e é lá que mora a felicidade. Pelo menos, até o momento, ainda não o encontrei.

Comecei o ano morando numa casa bem gostosa com uma cozinha excelente e completa, mas que, por estar no meio da natureza, vinha com visitas diárias de aranhas nada simpáticas e bem venenosas.

De lá, fui para uma casa com piscina e super silenciosa, mas com um colchão duro demais para o meu gosto. Me mudei então para um apartamento pequeno, com cama maravilhosa, ar condicionado e uma academia incrível no prédio, aberta 24 horas. Mas a cozinha era pequena e mal equipada, não dando para fazer direito nem pipoca.

Agora, estou numa casa super gostosa, onde consigo cozinhar de tudo, mas não tenho piscina, nem academia, nem ar condicionado, nem muito silêncio.

Como disse, o lugar ideal não existe. Sempre tem algo que poderia ser melhor, diferente, mais agradável.

A vida nômade tem me mostrado ao longo dos anos que, ao simplificar minha busca pela felicidade, consigo encontrá-la muito mais facilmente. Em qualquer lugar. Basta estar com os olhos abertos para enxergar.

Nesses meus quatro lares deste ano, mesmo nenhum deles sendo utópico, fui feliz. E estou sendo. Então, não busco focar no que me desagrada, e sim nas coisas positivas que cada espaço tem para oferecer.

Seja o silêncio da mata onde moram as aranhas, seja na possibilidade de dar um pulo na piscina, ou em ir à academia de madrugada sem ninguém.

Por onde vou, procuro enxergar o lado cheio do copo. E assim, encontro um oceano de pequenas alegrias ao longo do dia.

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Diana Boccara compartilha mais sobre viver com menos em seu livro “Mínimo Essencial“. Há quase uma década vive na estrada com seu par de malas, acompanhada pelo seu marido Leo Longo, com quem divide seus dias e o trabalho no duo Couple of Things. Filmmaker e minimalista, vive pelo mundo filmando séries como “What If Collab” (disponível no Amazon Prime Video), ABITAH e “A Volta Ao Mundo em 80 Videoclipes” (ambas disponíveis na Globoplay). Suas histórias já foram contadas nos palcos do TEDx e SXSW. No instagram, o casal divide um pouco mais dos bastidores de uma vida itinerante. E aqui na Vida Simples, eles compartilham aprendizados que uma vida com menos excesso lhes trouxe.


Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião da Vida Simples

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