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Lições sobre ser nômade que também são muito úteis para quem não é
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Ser nômade é uma experiência que, à primeira vista, pode parecer distante dos planos de muitos. No entanto, compartilharei as lições e reflexões que adquiri ao longo da minha jornada itinerante, na esperança de que possam inspirar você, mesmo que seus sonhos e realidade sejam diferentes. Neste mundo repleto de rotinas enraizadas, descobri como o nomadismo me proporcionou uma compreensão profunda do equilíbrio, do autoconhecimento e da arte de se adaptar.

Através das minhas experiências, aprendi a enxergar cada novo lugar como um lar em potencial e a valorizar o presente em vez de antecipar o futuro. Por isso, listei algumas razões que não só me fazem seguir na vida itinerante, mas que também transformaram a minha forma de ver o mundo – e podem (quem sabe) transformar a sua também.

Uma vida enraizada deu lugar a uma vida em fluxo

Tive poucos lares ao longo da vida. Cresci numa mesma casa em São Paulo, onde vivi por 20 e poucos anos. De lá, passei por mais dois lugares até chegar no último endereço que posso citar como “fixo”.

Com esse histórico, posso afirmar com segurança: nunca havia parado para pensar em quem me tornaria se não tivesse um “lar doce lar” para chamar de meu.

Isso mudou em 2015, quando escolhi me desfazer de tudo que eu tinha dentro do meu apartamento para viver como nômade. Mal sabia eu que viver itinerante ia me ensinar e me transformar tanto.

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Quando tudo muda, o equilíbrio vem de algo que permanece igual

Existem diferentes maneiras de viver como nômade. Sou do tipo que escolhe um lugar pra pousar por semanas ou alguns meses.

Nesses anos todos, não consigo mais usar as mãos para contar a quantidade de lugares que chamei de lar. Perdi as contas depois do 60º, uns tempos atrás. Mas estou na nona casa deste ano, isso eu tenho certeza.

E foi ao viver de formas diferentes e em locais distintos que eu entendi a importância de algo muito simples: a rotina.

Mudo de lugar, de cidade, de país… Mas minha rotina segue a mesma. Acordo cedo, faço exercício, tomo meu café e trabalho de casa. Seja onde estiver, meus dias acabam cedo. Lá pelas 18h, já jantei. Escolho um filme ou série pra ver que termine a tempo de estar às 21h na cama.

Ao mudar tanto de casa, aprendi que não é o lugar que me traz estabilidade e sim estabelecer uma rotina que seja possível de dar “control c, control v” independentemente de onde esteja. É assim que eu encontro equilíbrio.

Estar fora da zona de conforto me trouxe autoconhecimento

Moro em casas que não são minhas, mas que por um dado período, chamo de “lar”. Os espaços em que vivo foram pensados, planejados e decorados por pessoas que não conheço.

Estar em ambientes em que nada ao meu redor foi escolhido por mim me proporcionou algo novo: descobrir minhas preferências, gostos e necessidades.

Foi ao dormir em uma cama mais dura, que entendi que prefiro um colchão mais mole. Ter um chuveiro com pressão fraca me fez ver o quanto gosto do oposto. Panelas antiaderentes me proporcionam alívio. Contar com uma boa luz natural impacta diretamente no meu bom humor. Viver em lugares barulhentos me mostrou o quanto prezo pelo silêncio.

Ao viver em inúmeros lugares com identidades tão diversas, saí da minha zona de conforto, ganhando a oportunidade de experienciar modos diferentes de se viver e aprender mais sobre mim mesma.

Da próxima vez que for passar uns dias dormindo fora de casa, sugiro um exercício: note nos mínimos detalhes o que você sente falta, o que te agrada nesse lugar e como você se sente não tendo suas coisas do dia a dia ao seu dispor.

Meu modus operandi passou a ser a adaptação

Se por um lado percebo diariamente minhas preferências e estabeleço uma rotina em qualquer canto, ser nômade me ensinou algo que me transformou numa pessoa capaz de lidar com as mais distintas situações: aprendi a me adaptar.

Um exemplo disso é a forma com que faço exercícios. Levo em minha mala um kit básico de elásticos, um TRX, uma corda e um par de tênis. Com isso, seja no inverno canadense, no calor do verão gaúcho ou num dia de chuva em Floripa, eu me adapto ao espaço que tenho e o uso para me exercitar.

Compreendi que quando não encontro o cenário ideal, cabe a mim olhar a realidade sob um novo ponto de vista. Não é o mundo ao meu redor que deve se adaptar a mim – afinal, isso está fora do meu controle.

Percebi que a vida fica muito mais leve e funcional quando eu estou preparada para me adaptar ao ambiente que me cerca. Seja ele qual for.

E este simples aprendizado não vale somente para lugares. Serve também para melhor lidar com pessoas e relacionamentos que crio por onde passo.

Não ter lugar fixo faz com que qualquer canto do mundo seja meu lar

Quando tinha um lugar para chamar de meu, é claro que cuidava dele bem – da porta para dentro. Não percebia (ou não queria ver) que o que acontecia da porta para fora também fazia parte de onde eu vivia.

Foi justamente um nômade chileno chamado Julio, que vivia numa van, quem me ensinou algo que nunca esqueci. Enquanto conversávamos na beira de um belo lago, perguntei por que ele estava catando o lixo que estava no chão e que claramente não era seu.

Ele me disse: “esta van é minha casa. Onde a estaciono passa a ser o meu jardim. É minha responsabilidade cuidar dele. E se meu jardim está bem mantido e limpo, as pessoas pensam duas vezes antes de jogar algo no chão”.

Daquele momento em diante, passei a ver cada lugar por onde eu passo como meu jardim – seja ele onde for.

Esta forma de ver o que me cerca transformou totalmente a maneira com que eu me relaciono com os espaços. Um lixo no chão pode não ter sido minha culpa, mas passou a ser responsabilidade minha. Afinal, todo lugar que passo considero extensão do meu lar.

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Todo dia é uma oportunidade para se aprender algo novo

Por estar constantemente vivenciando lugares, culturas, costumes e pessoas diferentes, passei a cultivar um olhar entusiasta sobre as mais banais situações.

Diria até que criei o hábito de não me acostumar. E isso me transformou numa grande curiosa – me sinto às vezes como uma criança, que está sempre fazendo mil perguntas sobre tudo que vê.

Entendi que a vida é pedagógica e que o dia a dia é uma grande escola que me oferece infinitas oportunidades de aprendizado.

Ao assumir que pouco sei, ganho diariamente a possibilidade de crescer, de absorver, de me conhecer e de me polir como ser humano.

Não ter todo tempo do mundo me presenteou com o agora

Por ser nômade, minha estadia e vivência sempre chegam ao fim. Coleciono despedidas de pessoas que possivelmente não verei mais, de moradas que foram meu ninho, de lares onde me senti em paz.

Confesso: é triste e difícil partir quando encontro lugares onde me sinto acolhida e segura. Mesmo após tantos anos, ainda me emociono com as partidas. Mas delas, tirei uma grande lição: aproveitar verdadeiramente o tempo que tenho nos lugares onde estou, com as pessoas que conheço

Saber que algo tem dia e hora para acabar me despertou para o óbvio – viver no presente.

Deixei de sofrer por antecipação do fim e passei a curtir os momentos que tenho, agradecendo por ter o privilégio de ali estar.

Com isso, passei a valorizar muito cada experiência e encontro. Desfrutar do hoje me fez uma pessoa muito mais positiva, vendo valor nas pequenas alegrias que estão – o tempo todo – ao meu redor.

Ser nômade me mostrou o que sempre esteve na minha frente

Como esta é uma coluna e não um livro, vou deixar os muitos outros tópicos que listei para um próximo texto. E se quiser mergulhar ainda mais no tema, te convido a seguir a leitura, desta vez sim num livro que escrevi com o Leo – “Mínimo Essencial“*.

Espero que as reflexões que compartilhei possam agregar valor à sua vida, seja ela nômade ou não.


Diana Boccara compartilha mais sobre viver com menos em seu livro “Mínimo Essencial”. Há quase uma década vive na estrada com seu par de malas, acompanhada pelo seu marido Leo Longo, com quem divide seus dias e o trabalho no duo  Couple of Things.  Filmmaker e minimalista, vive pelo mundo filmando séries como “What If Collab” (disponível no Amazon Prime Video),  ABITAH  e  “A Volta Ao Mundo em 80 Videoclipes” (ambas disponíveis na Globoplay). Suas histórias já foram contadas nos palcos do TEDx e SXSW. No instagram, o casal divide um pouco mais dos bastidores de uma vida itinerante. E aqui na Vida Simples, eles compartilham aprendizados que uma vida com menos excesso lhes trouxe.


Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião da Vida Simples


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