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Encantos e desencantos do avanço da tecnologia: para onde vamos?
Domenico Loia
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“Trocava toda a minha tecnologia por uma tarde com Sócrates”
Steve Jobs

Há alguns anos ministramos cursos para uma multinacional no México e na Argentina. Para fecharmos o pacote de treinamento fomos até a empresa falar com a diretora de RH, a fim de alinhar o programa que seria desenvolvido. Havia diferenças culturais entre os dois países que precisariam ser observadas.

Tivemos a preferência deles, porque o meu livro “Cómo hablar bien em público” acabara de ser publicado em todos os países de língua espanhola. A obra foi lançada em 2006 pela Editora Edaf com capa dura e sobrecapa. Uma verdadeira obra de arte. Ficaram impressionados ao saber que um brasileiro conquistara tanta projeção, principalmente na Espanha, onde houve exposição com muito destaque.

Durante a conversa com a executiva, sua assistente anotava tudo em um laptop. Seus dedos deslizavam sobre o teclado de maneira admirável. Precisei me concentrar na conversa para não ficar distraído com o desempenho da moça usando a tecnologia. Na saída, não poderia perder a oportunidade de comentar com a nossa coordenadora de cursos, que também havia nos acompanhado e fizera anotações sobre os pontos relevantes do encontro: “Ana, viu como funciona hoje uma empresa de tecnologia avançada? Enquanto anotamos em um caderno como se ainda estivéssemos nos anos 1960, eles já escrevem tudo diretamente no computador. Aí é só fazer uma rápida revisão e distribuir uma espécie de ata para os participantes”.

Entre envergonhada e resignada, ela concordou comigo: “realmente, nunca vi nada igual”. Em seguida, bem-humorada, entrou no clima dizendo: “um dia ainda chego lá”. Nós nos divertimos muito, pois o que interessava, no fundo, era que havíamos conseguido sair com os cursos aprovados.

A tecnologia não substitui o ser humano

Ao retornarmos ao nosso escritório, soubemos que a assistente da diretora havia feito várias ligações. Pela insistência, parecia estar preocupada. Eu disse para a Ana ligar o mais rápido possível, pois poderia ter ocorrido alguma mudança no que combináramos. Assim que desligou o telefone, a nossa coordenadora riu tanto que precisou de um tempo para se recompor. Eu estava ansioso: “Vai, Ana, diga logo o que aconteceu”.

A assistente estava preocupada porque não conseguira anotar nada da nossa conversa. E como a diretora pedira um resumo do encontro, ela queria saber se podíamos enviar os nossos registros. Ou seja, o velho e bom caderno ainda era o melhor recurso para aquelas situações do que sua tecnologia.

Depois dessa experiência, sempre que visitávamos uma empresa, a Ana brincava: “quer que eu leve o caderno ou o computador?”.

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Tecnologia não significa avanço imediato

Nem sempre as evoluções tecnológicas chegam para trazer benefícios à vida prontamente. Às vezes, leva um bom tempo até que consigamos dominar os segredos dos novos aparelhos que incessantemente surgem trazendo novos aplicativos, novas maquininhas, novos hábitos e demandas. Há situações em que são necessários alguns ajustes e até retrocessos. Vivi um episódio bastante curioso.

O vice-presidente de uma das maiores organizações financeiras do país me contratou para treinar 150 dos seus principais gerentes. Ele os chamava de “meninos de ouro”. Seu pedido foi curioso: “Polito, quero que você ensine a essa turma duas competências: falar tudo o que precisam dizer em apenas dois minutos e a se comportarem com simpatia como faziam os velhos gerentes de banco”.

Segundo ele, todos ali sabiam fazer contas de frente para trás e de trás para frente. Naquele momento, entretanto, não estava precisando de pilotos de HP, mas sim de pessoas que soubessem se relacionar. O grande chefe tinha razão. Embora fossem muito bem-preparados para calcular custos das operações, taxa de retorno e rentabilidade, tinham dificuldade para apresentar as operações nas reuniões com os clientes. Precisariam aprender também como tomar um cafezinho de forma descontraída, contando histórias leves e, de vez em quando, dar um tapinha nas costas.

A surpresa do desconhecido

Há fases que precisam de um período de adaptação. Eu fui das primeiras pessoas a ter uma calculadora portátil. O filho de uma funcionária que trabalhava em casa era piloto de avião. Ele me presenteou com uma maquininha “Sharp Elsi Mini”, que trouxera dos Estados Unidos. Nessa época, comecinho dos anos 1970, eu era estagiário em uma empresa financeira. Eles operavam com empréstimos em moeda estrangeira – Lei 4131 e Resolução 63.

Como não eram operações comuns, eu precisava ir até a empresa para explicar os detalhes. Todo orgulhoso, passei a levar a minha maquininha para fazer os cálculos. O financeiro que me recebia ficava tão maravilhado em ver o funcionamento da calculadora que chamava os outros gerentes para acompanharem. Ou seja, eles se interessavam mais pela tecnologia que propriamente pelo empréstimo.

O mais curioso da história é que em muitos casos alguém fazia as contas no papel para ver se o resultado era mesmo correto. Pouco tempo depois, outras pessoas começaram a usar essas calculadoras na faculdade. A primeira reação dos professores foi a de proibir o seu uso. Em seguida, vendo que não havia volta, incluíram as máquinas no programa.

Falando em adaptação e mudança, até pouco tempo atrás, nas avaliações que faziam para medir o desempenho de um palestrante, havia um item obrigatório: “A qualidade dos recursos visuais utilizados”. Esses meios de apoio foram tão disseminados que até cansaram em alguns casos. Hoje, a maioria dos bons palestrantes já deixou de fazer uso deles. Sentem que livres no palco, sem as projeções, em muitos casos, tornam as apresentações mais interativas.

Novas tecnologias: Inteligência Artificial

Atualmente, com todas as inovações que aparecem, nós nos sentimos meio perdidos nesse mundo tecnológico. Achamos que estamos sempre defasados, e estamos mesmo. É impossível alguém acompanhar toda essa evolução. Agora, com a Inteligência Artificial tomando conta das nossas ações, a insegurança é ainda maior. Chegamos a usar os próprios aplicativos para nos ajudar a entender como funcionam os outros.

A solução é nos dedicarmos ao que seja apropriado para as nossas funções e o desenvolvimento da nossa carreira, e apenas dar uma olhada nas outras engenhocas. Assim usamos o que nos interessa e não ficamos alheios ao que esteja surgindo.

Portanto, se você estiver se sentindo meio peixe fora d’agua, não se preocupe, pois muita gente que anda fazendo cara de conteúdo, na verdade, disfarça também as mesmas inseguranças.

Estamos todos no mesmo barco.

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