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Ela passou a dizer mais sim para a vida após duas cirurgias no cérebro
Sofia adora viajar, mas não abandona o carnaval de Olinda por nada nesse mundo (Foto: Arquivo pessoal/ @asofiadomundo).
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“Nordestina do sotaque arrastado, pernambucana orgulhosa, carnavalesca raiz e viajante do mundo”. É assim que Sofia Maciel se define em uma das suas publicações no Instagram. Tomou emprestado para a vida o sobrenome “Mundo” e hoje é conhecida por aí como “Sofia do Mundo”, uma inversão do título do famoso livro Mundo de Sofia, escrito por Jostein Gaarder. “Eu ganhei esse livro da minha avó quando nasci”, explica a viajante. 

Assim como a Sofia da literatura, a Sofia da nossa história também aprendeu muito sobre a vida por meio de suas aventuras. Das muitas viagens que fez, a mais transformadora foi, sem dúvida, a viagem que precisou fazer para dentro de si após sofrer duas hemorragias cerebrais em menos de um ano.

“Eu passei, num curtíssimo período de tempo, de completamente potente para impotente para, em seguida, recuperar minha potência. Isso me fez pensar sobre nosso real valor e nossa bagagem quando a gente está impotente“, esclarece. Hoje, sobram memórias, um período longo de recuperação e as novas experiências que virão. Como resume Sofia, é hora de “dizer sim para a vida”.

Paixão por viagens

Da infância à vida adulta, a arquiteta começou a conhecer o mundo para além da cidade do Recife aos 12 anos, quando começou a ser incluída nos roteiros de viagem da família. “Em dado momento eu percebi que gostava muito de viajar”, explica Sofia. E não parou desde então. De lá para cá, foram diversos voos, intercâmbios durante a graduação na universidade e parcerias com amigos para conhecer os lugares que sempre sonhou visitar. 

A pernambucana já visitou países como Eslovênia e Croácia, cidades charmosas como Londres e Veneza, o deserto do Atacama (um dos lugares prediletos que já esteve), além dos lençóis maranhenses, em Barreirinhas, no Maranhão. “É nesse sentido de impacto, de assombro diante do mundo”, explica Sofia sobre a sua visita ao Atacama, uma região de pouco mais de 100.000 km² composta majoritariamente pelo vazio, que nos coloca em confronto com a imensidão do planeta – e da vida. Um destino terapêutico, diria.

uma mulher com blusa amarela, calça jeans e sorriso no rosto levanta os braços e a cabeça para o alto em um deserto. Sofia durante viagem no deserto do Atacama em 2019. Foto: Arquivo pessoal/ @asofiadomundo

A vida de cabeça para baixo

É nesse ritmo de “impacto”, “assombro diante do mundo”, que Sofia foi se deparando com situações nada agradáveis em sua vida. “No ano passado eu estava fazendo exercício físico e percebi que o braço e perna esquerdos estavam com uma fraqueza maior em comparação com o lado direito“, conta a arquiteta, que achou tudo aquilo muito estranho. Passou a prestar atenção em seu corpo e começou a perceber que, se muito alto, não conseguia sequer levar um prato ao micro-ondas com a mão esquerda. 

Estranho, no mínimo. Sofia sempre praticou esportes e cuidou da saúde com muita atenção até aqueles dias. Mas tinha que aceitar que havia algo de errado e precisava encontrar um especialista. Primeiro, um ortopedista, depois, um neurologista, e aí veio o diagnóstico. “Eu havia tido um sangramento dentro do tronco cerebral [centro de comando das nossas funções vitais]. Imagine que havia uma piscina de sangue comprimindo os nervos ali dentro”, explica. 

O problema não era uma emergência, mas Sofia deveria procurar um tratamento médico no mínimo em uma semana, e foi uma correria sem fim: entrar em contato com especialistas na área, mudar totalmente a rotina, aceitar a nova realidade. Foi, talvez, a primeira viagem que a jovem fez a contragosto, mas que mudaria sua vida a partir dali.

uma mulher, um médico e um homem de palitó preto em uma sala de hospital. Todos usam máscaras. vida Sofia durante a primeira cirurgia em São Paulo. Foto: Arquivo pessoal/ @asofiadomundo

Redescobrir o mundo com novos olhos

De viagem para se tratar em Sao Paulo, apesar do pequeno período entre a cirurgia e a recuperaçao, inicialmente previstos, Sofia sempre sentiu que o tempo na cidade fosse estendido para além do esperado. Ela conta que, depois da primeira cirurgia, acreditava-se que o problema estivesse resolvido e sua vida voltaria ao normal, mas não foi bem assim… Um novo sangramento surgiu e um segundo procedimento cirúrgico – bem mais debilitante – foi necessário para resolver de fato toda a situação.

Sofia precisou usar cadeira de rodas, fazer consultas periódicas à fonoaudióloga, além do auxílio de nutricionista, terapeuta ocupacional, enfermeiros, médicos e fisioterapeuta. Apesar da tensão e das incertezas, a jovem decidiu permanecer em um apartamento alugado até que tudo fosse resolvido, o que a fez utilizar o tempo disponível para fazer uma das coisas que mais gosta: aproveitar a viagem.

Procurou museus e espaços culturais com acessibilidade e saiu pela cidade para conhecer novas obras de arte, artistas e os espaços de cultura. É fazer o melhor possível com o que a vida está lhe dando”, sintetiza Sofia. Por isso, apesar das inquietações, do choro e dos questionamentos, ela sempre tentou aproveitar um pouco das situações para trazer humor e fazer com que aquele processo doloroso fosse enfrentado com um pouco de leveza. 

uma mulher está de costas em uma cadeira de rodas. é possível ver apenas o cabelo e um chale no pescoço. vida Depois da segunda cirurgia, Sofia decidiu conhecer alguns lugares da cidade, como o Museu de Arte de São Paulo (MASP). Foto: Arquivo pessoal/ @asofiadomundo

Depois de duas cirurgias, Sofia precisou retornar novamente ao hospital. Quando eu estava me recuperando da segunda cirurgia tive um edema na região, o que causou um inchaço. Então, eu tive que voltar para o hospital porque isso poderia trazer problemas para mim“, lembra. Foram mais vinte dias internada no hospital recebendo dosagens de corticoide até que o inchaço diminuísse. 

Depois de três meses intensos, duas cirurgias e uma internação que durou quase um mês, Sofia associa a sua vida a uma série com três temporadas, com narrativas próprias, mas que se conectam e causaram um verdadeiro rebuliço na sua vida.

uma mulher em cadeira de rodas trajando roupas azuis e tênis rosa. vida Sofia no hospital durante a última alta hospitalar. Foto: Arquivo pessoal

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Sempre lidando com o melhor bom humor possível naquela situação, Sofia até tentou trazer mais alegria para o ambiente do hospital e arrancou da equipe de enfermeiros boas risadas. Fazia piadas com a sua aparência, já que, com o uso de corticoides, o corpo ficou com excesso de líquidos, mas o sorriso era o mesmo. Eu estava chateada com a situação, entristecida, mas eu dava um jeito de rir, de fazer alguma piada”, explica Sofia. 

E, apesar de estar de volta ao Recife, parecia que os problemas que enfrentava não ficaram para trás. Tudo bem, o sangramento não voltou a acontecer, o acompanhamento com fisioterapia estava ótimo, mas agora a questão era outra. Com diagnóstico precoce, Sofia descobriu um quadro de embolia pulmonar e pneumonia nos dois pulmões, o que a levou a passar mais uma semana internada em um hospital. Entre cirurgias, internações e tratamentos, foram quase quatro meses, entre os dias 28 de maio a 18 de setembro.

 uma mulher em frente ao espelho com ecobag, blusa azul e olhar sério. vida Depois da cadeira de rodas, Sofia passou a usar um andador para auxiliar na locomoção. Foto: Arquivo pessoal

Uma nova Sofia

Ela lembra que o período curto, mas intenso, que passou foi muito elucidativo para trazer questões que se tornaram ainda mais presentes em sua vida, como aproveitar os bons momentos com a família, os amigos, os lugares que ama, as coisas simples que a deixa feliz, e assim por diante.

Hoje, a arquiteta ainda passa por acompanhamentos regulares, exames, consultas e tenta voltar aos poucos à vida que tinha, agora bem mais diferente e com muitas reflexões sobre si e o mundo. Sofia, por meio do seu Instagram (@asofiadomundo) descobriu também que poderia ajudar outras pessoas a montar roteiros de viagem, aproveitando o olhar de turista em todos os momentos da vida.

“Eu quero muito voltar a viajar, mas eu acho que o que mais ficou em mim depois de tudo isso é a sensação de urgência da vida, ela é perene, passageira. Coisas completamente imprevisíveis podem acontecer e eu tive a grande sorte de me curar, mas é preciso dizer muito sim para a vida, e que bom que eu posso fazer isso, que eu vou fazer isso sempre”, conta. 

Uma muher com roupas vermelhas e a mão direta cobrindo a boca. Ao fundo, um painel amarelo. vida Foto durante um evento em fevereiro de 2023. “Fui para a primeira festa em todo esse tempo – uma festa de carnaval em que me fantasiei de ‘frágil’!”, explica Sofia. Foto: Arquivo pessoal

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