Praticar a gratidão é um exercício constante que traz benefícios
Quando estamos focados em praticar a gratidão sobre a vida, ressignificamos acontecimentos e nos tornamos pessoas mais satisfeitas
- Quanto mais a gente reclama, mais difícil fica a vida
- O que é gratidão?
- Pratiquemos a gratidão, porém com consciência e atitude
- O poder da escolha de agradecer
- Praticar a gratidão gera autoestima e empatia
- Os efeitos químicos nos corpos de quem pratica a gratidão
- A alegria e a satisfação da gratidão mútua
- Praticar a gratidão nas relações é transformador
- Gratidão é um estado de presença
- Gratidão e foco para não se alienar
- Encontrando gratitude mesmo na dor
- Uma forma fácil de praticar a gratidão
- Dicas práticas para agir com mais gratidão em sua rotina
Todos os dias, logo ao acordar, pratico a gratidão repetindo mentalmente: “obrigada pela oportunidade de mais um dia, que seja um dia bom”. E jogo o agradecimento para o Universo, independentemente de como as coisas estejam em minha vida.
É um movimento pequeno, quase involuntário. Porém, tão costumeiro que caiu em minha rotina a ponto de me fazer falta quando levanto no automático, antes de agradecer.
É também algo que vem do coração e parece modificar tudo, como mágica, me trazendo uma certa sensação de paz.
Mas confesso que nem sempre foi assim. Já me rendi ao murmúrio uma porção de vezes há alguns anos e, quanto mais eu lamentava, mais difíceis as coisas pareciam ficar.
Quanto mais a gente reclama, mais difícil fica a vida
Porque é assim mesmo que acontece. Reparem só: quando a gente reclama bastante, parece se formar uma nuvenzinha densa ao nosso redor, carregada de raiva e mágoa.
À medida que ela cresce, entramos em um círculo vicioso de maldizer o tempo e tudo o que nos encontra, deixando até de enxergar o lado bom de cada situação.
Mas, quando entramos em uma onda de agradecer até pelo que ainda não compreendemos, parecemos ficar mais leves, de bem com nós mesmos.
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O que é gratidão?
A gratidão é um movimento, uma prática que exercemos e construímos de pouquinho em pouquinho, um dia de cada vez, ao assumirmos uma postura mais resiliente diante da vida.
Aprendendo a agradecer mais e com sinceridade, traçamos um caminho de maior satisfação. Percebemos que, na maioria das vezes, a nossa forma de olhar e sentir alguma situação é capaz de transformar o que está à nossa volta. E não só isso, como também aquilo que trazemos por dentro, refletindo na forma como nos relacionamos com o mundo.
É comprovado que, quando a gente pratica a gratidão, temos a chance de experimentar um maior contentamento porque compreendemos que tudo faz parte da nossa trajetória.
Pratiquemos a gratidão, porém com consciência e atitude
No entanto, vale um alerta importante: não falo aqui sobre uma positividade tóxica, que nos aliena a ponto de fechar nossos olhos para as injustiças e realidades mais duras.
Não se trata de fingir que as coisas ruins não existem: elas vão continuar acontecendo e muitas vezes não há muito o que fazer com elas.
A questão que proponho é uma espécie de equilíbrio. É pensar no quanto podemos simplificar aquilo que incomoda, olhando de uma outra forma e acolhendo os aprendizados sem cair no vitimismo nem na lamentação constante.
Mas como a gente pode fazer isso e praticar a gratidão genuína para a nossa história, sem ceder às armadilhas do ego e sem parecermos ingênuos demais?
O poder da escolha de agradecer
Já é sabido que cultivar a gratidão traz benefícios para o corpo, melhorando nossa saúde física e mental (Ilustração: @MIRADAESTUDIOCRIATIVO
Primeiro, é importante ter em mente que praticar a gratidão pode, sim, ser uma escolha feita por nós todos os dias. E que ela não tem nada a ver com o conformismo ou com uma forma fantasiosa de ver a vida.
Como no exemplo que dei no início, podemos sempre convidar nosso coração a manifestar o sentimento de agradecer por coisas essenciais e que, muitas vezes, enxergamos como algo banal no cotidiano.
O fato de estarmos vivos, termos um teto, um trabalho e pessoas com as quais compartilhar nossa existência, já é por si só um enorme motivo para sermos gratos, ainda mais nos dias de hoje.
Começar por esses pequenos agradecimentos pelo básico que já temos pode ser um bom caminho para introduzir esse costume na rotina.
Praticar a gratidão gera autoestima e empatia
Além disso, vale pensar também no quanto praticar a gratidão traz outros benefícios para nós: ela ajuda, por exemplo, a melhorar a autoestima e dá uma forcinha na nossa capacidade de ser mais empáticos.
Agora, entrando em campos mais técnicos, ela também está diretamente relacionada à nossa saúde física e mental. A médica e psicoterapeuta Cristiane Marino me explicou que, sabendo dos efeitos positivos da gratidão, é mais fácil trazê-la para nossa vida e fazer dela um hábito tão natural como escovar os dentes, por exemplo.
“Entendendo a importância da gratidão, eu posso escolhê-la, exercitá-la e fazer com que ela se torne um estado psíquico básico da minha vida. A partir desse lugar, eu olho para fora. E isso muda totalmente a nossa bioquímica física e também a bioquímica cerebral”, pontuou.
Os efeitos químicos nos corpos de quem pratica a gratidão
Cristiane contou também que alguns estudos mostram de forma muito prática como a gratidão vai além do lado emocional e age em nosso organismo, aumentando as defesas do nosso corpo, a nossa imunidade e harmonizando as atividades do nosso sistema nervoso.
Ela deu o exemplo de um experimento em que alguns voluntários participaram de diversas atividades capazes de estimular esse lado mais grato.
Como uma meditação diária, feita em casa mesmo, envolvendo um exercício pessoal de gratidão. Depois de algumas semanas vivenciando esse universo e agradecendo por coisas básicas do dia a dia, ficou comprovado que essas pessoas desenvolveram capacidades anti-inflamatórias significativas e duradouras.
Também ficou claro que o sentimento de gratidão é capaz de afetar, de forma positiva, as funções corporais que nós não controlamos, equilibrando nosso sistema nervoso, mudando nosso padrão respiratório e alterando a frequência cardíaca.
“E isso só em termos de saúde física”, diz Cristiane. “Sobre a saúde mental, também existem estudos mostrando que, quando você experimenta um sentimento de gratidão, são ativadas áreas cerebrais que estimulam a produção de mais substâncias relacionadas ao bem-estar.”
A alegria e a satisfação da gratidão mútua
Mas ser capaz de agradecer não quer dizer adotar uma postura de positividade tóxica, em que recebemos tudo de bom grado
É certo também que tendemos a repetir e manter em nossa vida os costumes que nos trazem essas boas sensações.
Já aprendemos a importância de ter por perto, em nosso círculo de vivências, tudo aquilo que nos ajuda e transforma em pessoas melhores.
Por isso, quando experimentamos os benefícios de praticar a gratidão, vamos nos afeiçoando mais a ela e incluindo sua presença em nossas ações cotidianas. Mas não é só isso: aprendemos ainda a ser tocados pelos gestos de agradecimento do outro.
De acordo com Cristiane, isso também é muito bom para nós. “Mesmo que eu esteja pensando só em mim, no meu bem-estar, ao ajudar alguém e essa pessoa me expressar gratidão, ou ver alguém ser ajudado e depois presenciar a pessoa agradecendo a ajuda que recebeu, mesmo que eu não esteja envolvida, aquilo tem os mesmos efeitos em mim”, explicou.
Já aconteceu com você? O simples fato de receber o agradecimento de alguém ou de presenciar esse movimento de dar e receber entre outras pessoas, desperta em nós uma alegria, acompanhada de um sentimento de satisfação.
E essa satisfação nos motiva a continuar movimentando uma onda de partilha e boas ações, como uma bola de neve.
Praticar a gratidão nas relações é transformador
Ao expressar a gratidão em nossas relações, sejam elas afetivas, entre amigos ou desconhecidos, consequentemente nós também mudamos o outro, além de nós mesmos.
Ainda que sejam transformações pequenas, quase imperceptíveis, a soma delas é capaz de promover grandes revoluções internas e externas.
“Quando a gente começa a exercitar a gratidão num primeiro momento, agradecendo por tudo, pelas coisas que acontecem, por pequenas e grandes satisfações, a gente vai desenvolvendo esse estado de nos sentir gratos simplesmente porque acordamos e estamos vivos. Porque tivemos um dia a mais para viver”, exemplificou Cristiane.
Gratidão é um estado de presença
O ato de exercitar essa gratidão está diretamente ligado a um outro exercício: a forma de olhar e de enxergar as coisas ao nosso redor.
Repare aí. Podemos ver tudo da mesma forma todos os dias, colocando uma porção de obstáculos na frente. Ou podemos transformar o nosso foco e nossa percepção sobre as coisas, sem abandonar nosso senso de realidade.
“Eu acredito na gratidão que nos pede peito aberto e olhos atentos. Não posso ser grata por um mundo que não sinto, não vejo, não sei”, observou Fernanda Lisbôa.
Ela é terapeuta e facilitadora da auto escuta, e me disse também que ser grato é estar presente, vivendo e sentindo o momento, satisfeitos com nossos processos evolutivos.
Gratidão e foco para não se alienar
Segundo Fernanda, nos alienar da vida real e fechar os olhos diante do horror não faz com que ele deixe de existir ou de nos afetar.
“Eu posso ser grata por ter conseguido manter a calma em uma situação de estresse, mas não posso fingir que ela não existiu. Eu posso ser grata por ter recebido uma palavra amiga, mas não posso acreditar que eu não estava desesperada por um alento”, completou. Tudo depende da forma como escolhemos ver e absorver cada situação.
Cristiane Marino também falou sobre isso. Segundo ela, quando a gente pratica a gratidão, passa a ter uma lente diferente para ver os acontecimentos em nossa vida e ao nosso redor. E, assim, conseguimos ser gratos mesmo em situações difíceis.
“Às vezes a gente passa por uma doença muito grave e fica com sequelas. E ninguém quer passar por isso. Mas existe a possibilidade de a gente ver aquela situação como uma oportunidade de crescimento”, pontuou.
E completou: “Ou como uma oportunidade de desenvolver outras potencialidades, de valorizar coisas que não valorizava antes, de desfrutar a vida mais intensamente”.
Encontrando gratitude mesmo na dor
Aos poucos, nutrimos esse sentimento e observamos como a vida pode se tornar mais contemplativa e valiosa
Foi mais ou menos assim que aconteceu com o Antônio da Silva. Em 2019, ele descobriu um tumor maligno entre o pescoço e a orelha esquerda.
E, sem querer acreditar que aquilo estava acontecendo, a primeira reação dele foi maldizer o destino e entrar em uma tristeza profunda, a ponto de não desejar mais sair de casa.
“Percebi que quanto mais desanimado e triste eu ficava, mais eu adoecia”, pontuou. A dor interna foi tão grande que Antônio procurou ajuda psicológica para acompanhá-lo durante o tratamento da doença.
Ele lembra que, em uma das sessões, a terapeuta sugeriu o exercício de visualizar quais coisas positivas surgiram desde o diagnóstico.
De imediato, Antônio respondeu sobre a proximidade da família e a capacidade de viver mais devagar, sem a urgência da medida do trabalho e do dia a dia.
“Desde então, eu comecei a entender como a dor se aproxima e faz a gente ver as coisas por outra perspectiva. Precisei enfrentar um problema grave para perceber isso. E passei a agradecer mais por continuar existindo”, contou.
Ele também acredita que essa virada de pensamento e sentimentos foi importante para encarar a doença de uma forma mais pacífica até alcançar a cura total, no começo de 2020.
Fernanda explicou que “quando temos consciência do que está acontecendo, conseguimos vislumbrar saídas positivas para os problemas diários que são reais”.
E então, quando percebemos que somos capazes de lidar com o mundo e enxergar nossas potencialidades, nos tornamos mais seguros e isso pode nos trazer mais leveza e gratidão. “Ser grato e se permitir ver o que é bom, sem fechar os olhos para o que nos assusta”, completou Fernanda.
Uma forma fácil de praticar a gratidão
Sempre que ouço falar em “exercer uma prática diária de gratidão”, logo me vem à cabeça as afirmações do ho’oponopono. É uma técnica havaiana de limpeza mental e espiritual, que foca principalmente na gratidão, no autoamor e no perdão.
Repetir as afirmações “sinto muito, me perdoe, te amo, sou grato”, me ajuda a retomar o centro interno, a curar sentimentos negativos e experienciar esse estado de agradecimento.
E assim fica mais simples seguir com um maior contentamento interno, estimulado pela ideia de que algumas coisas simplesmente acontecem, seja o que eu queria ou não.
“A gente precisa agradecer todos os dias não exatamente para algo ou alguém, mas para o nosso esforço contínuo de compreender o mundo e existir do melhor jeito dentro dele”, concluiu Fernanda.
Dicas práticas para agir com mais gratidão em sua rotina
Para transformar a gratidão em uma prática diária, vale colocar bilhetinhos no computador, no espelho do banheiro, na porta do quarto, como pequenos lembretes até nos acostumarmos a ela.
Também é válido criar um diário da gratidão, no qual podemos anotar tudo pelo que somos agradecidos no final de um dia.
Mas o mais importante mesmo é que todo esse movimento parta primeiro do coração e seja realizado de uma forma verdadeira, compreendendo nossas limitações e nossas evoluções.
Assim, aos pouquinhos, percebemos que ser grato pode ser mais real do que imaginamos. Tudo é uma questão de aprendizado e compreensão. Pelo que você é grato hoje?
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DÉBORA GOMES é grata pelas oportunidades de partilhar o coração por aqui, por meio das palavras. E por quem lê e se encontra no que ela escreve.
Conteúdo publicado originalmente na Edição 242 da Vida Simples
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