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Os benefícios da gratidão que quase nunca são falados pelas pessoas
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Para a ciência, gratidão não é apenas reconhecer aquilo que você tem de bom. Será que você conhecia todos esses benefícios do ato de ser grato?

Quando eu escrevo um artigo, penso em você. Quero que você entenda o texto e, principalmente, que ele lhe seja útil. Para isso, preciso da sua atenção. E, claro, este desafio é maior quando o texto trata de um assunto que você está cansado de encontrar por aí como, por exemplo, a gratidão. Na busca do Google, a palavra gera 49 milhões de resultados. Sim, escrever sobre gratidão é um desafio. Mas eu não o teria assumido se não fosse importante o que tenho a dizer.

Poucos sabem o que é ou praticam a gratidão. Contanto, são notáveis os seus benefícios.

Por exemplo, estudos sugerem que o treino da gratidão estimula áreas do cérebro relacionadas ao prazer e a conexão social. Ela contribui para o alívio do estresse e regulação emocional. Além de reduzir sintomas de depressão e ansiedade, a gratidão melhora o sono, fortalece o sistema imune, melhora a qualidade de vida e a sensação de felicidade.

Mais do que isso, o treino da gratidão ajuda a atenuar três das grandes dores pós-modernas: a depressão, a solidão e o sentimento de vazio.

A seguir, trarei aprofundamentos sobre a gratidão, focando nos estudos mencionados e explicando de que forma obter todos esses benefícios em sua vida.

Mais felicidade, menos depressão

Considere, por exemplo, o famoso exercício das três coisas boas. Conhecido como diário da gratidão, ele consiste em anotar, todas as noites, três coisas pelas quais você é grato. Além disso, você deve escrever porque estas boas coisas aconteceram e como você se sentiu. Pois bem, dezenas de pesquisas endossam este exercício para a melhora do bem-estar, redução do estresse e sintomas da depressão.

É notável o poder desta intervenção relativamente simples. Segundo Martin Seligman, meu professor e criador do exercício, o treino da gratidão atua diretamente sobre programações cerebrais que atrapalham a nossa saúde emocional. Rick Hanson, outro autor favorito, explica que a mente humana age como velcro para experiências negativas, e como teflon para as positivas. Isso quer dizer que é da nossa natureza ruminar pensamentos de culpa, desesperança e pessimismo. Como em velcro, eles tendem a grudar na nossa mente. Por outro lado, também é natural não prestar atenção no que temos de bom. Como em teflon, estes pensamentos tendem a nos escapar.

O viés negativo ajudou a espécie humana a sobreviver até aqui, mas hoje ele contribui para o sucesso financeiro da indústria farmacêutica.

Isso explica porque é tão importante aprender a direcionar a atenção também para aquilo que tem de bom. Neste sentido, o treino da gratidão cai como uma luva. De acordo com Seligman, quando a escrita sobre as três boas faz parte da sua rotina, a sua mente fica mais atenta para identificar bons itens para a lista. Você aprende a dividir melhor a atenção entre o positivo e o negativo.

Psicologia Positiva: A ciência a serviço da vida

O que é gratidão, afinal?

Gratidão não é apenas reconhecer aquilo que você tem de bom. De acordo com Robert Emmons, que acumula 20 anos de pesquisa no tema, este é só o primeiro elemento da gratidão. O segundo elemento — e também menos óbvio —, é o reconhecimento de que isto que você aprecia não é mérito seu. Ou seja, você é o beneficiário, mas nunca o responsável por aquilo que é grato.

A gratidão é o reconhecimento que alguém fez algo por você, mesmo sem dever-lhe nada. Esse alguém pode ser uma pessoa, ou para os que acreditam, um poder superior.

Isto quer dizer que gratidão não é o que você sente quando alguém que lhe dá algo em troca de outra coisa, ou quando lhe devolvem o que é seu por direito. Chame de civilidade e boa educação, mas o muito obrigado que transacionamos a torto e a direito, não é, de acordo com a ciência, gratidão. A gratidão é uma maneira específica de encarar o recebimento de um benefício – dando crédito à generosidade de outras pessoas.

A gratidão é o reconhecimento da nossa interdependência. Expressar gratidão significa reconhecer que não somos autossuficientes, nem temos o controle sobre todas as circunstâncias.

Gratidão requer humildade – é preciso reconhecer o valor próprio sem dar importância excessiva a si mesmo. Para ser grato, é preciso ter espaço para reconhecer o outro.

Seguidores ou parceiros?

No entanto, ser grato é difícil. Na nossa sociedade competitiva e individualista, a última coisa que queremos é assumir que alguém nos beneficiou por livre e espontânea vontade. Primeiro porque isto seria como assinar uma nota promissória. O credor pode, a qualquer momento, aparecer para cobrar o que lhe é devido. Segundo porque quanto mais crédito dermos ao outro, menos sobrará para nós – uma ação ilógica quando você está competindo.

Queremos mostrar ao mundo como somos especiais. Portanto, assumimos indevidamente o mérito de uma equipe inteira enquanto apontamos o dedo quando algo dá errado. De fato, as pesquisas mostram que o trabalho é o lugar onde as pessoas menos expressam gratidão. Isto porque elas temem ser cobradas e desvalorizadas se reconhecerem o papel dos colegas em suas conquistas.

Mas o oposto é verdade. Quando você se disfarça de autossuficiente, você conquista seguidores. Seguidores são pessoas que o acompanham porque apreciam, invejam ou gostariam de se beneficiar da sua trajetória. Algo bem diferente acontece quando você reconhece o papel do outro na construção do seu caminho. Em vez de seguidores, você conquista parceiros – pessoas leais que descem com você para a arena. As pessoas desejam respeito. Elas querem sentir que são capazes de contribuir. E quando você expressa a gratidão, você dá a elas exatamente isto – reconhecimento, valor e apreciação.

A gratidão fortalece laços

As pesquisas de Adam Grant, psicólogo organizacional e pesquisador sobre o tema, mostram que quando expressamos a gratidão no trabalho, as pessoas passam a confiar mais umas nas outras e passam a se ajudar mais. Elas também se tornam mais resilientes, toleram melhor o estresse, e reportam mais satisfação com a vida. Líderes que constroem a cultura da gratidão, chegam mais longe profissionalmente. Famílias que praticam a gratidão são mais unidas. Tudo isso acontece porque nos conectamos com aqueles que reconhecem o nosso valor. Confiamos em quem nos valoriza. A gratidão fortalece os nossos laços e nos inspira a unir forças.

De fato, talvez seja este o grande benefício da gratidão. Ela estimula o que temos de melhor na nossa natureza – a reciprocidade e o cuidado mútuo.

Uma das consequências da gratidão é que ela nos motiva a devolver algo de bom ao benfeitor ou ao mundo. Por outro lado, quem recebe o reconhecimento se sente valorizado e mais motivado a fazer o bem. Todos se aproximam da sua melhor versão.

Expressando a gratidão

A partir de agora, quando você ouvir a palavra gratidão, lembre-se de que ela é mais do que reconhecer o lado positivo da vida. Quando reconhecemos o que temos de bom, temos sim inúmeros benefícios pessoais. Porém, quando vamos além e expressamos a gratidão para o outro, multiplicamos estes benefícios.

E é por isso que finalizo este texto com uma segunda proposta de atividade:

  • Escreva uma carta de gratidão para alguém que foi importante na sua vida, mas que você não tenha agradecido como gostaria.
  • Depois, entregue esta carta – pessoalmente se possível.

Pesquisas sugerem que esta atividade melhora a saúde emocional e os benefícios permanecem por até um mês após a atividade. E, claro, os benefícios não se restringem a você.

Faça o teste. Gratidão não tem efeitos colaterais.

Leia todos os textos da coluna de Adriana Drulla em Vida Simples


ADRIANA DRULLA (@adrianadrulla) é mestre em Psicologia Positiva pela Universidade da Pennsylvania (EUA) e pós graduada em Terapia Focada em Compaixão pela Universidade de Derby (Inglaterra), onde teve como mentores Martin Seligman, psicólogo fundador da psicologia positiva, e Paul Gilbert, psicólogo criador da Terapia Focada em Compaixão. Semanalmente fala sobre psicologia e mente compassiva no podcast Crescer Humano.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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