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Biblioterapia: conheça livros que ajudam a lidar com períodos difíceis da vida
micheile henderson
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O que você faz quando está deprimido? Enfia a cabeça no travesseiro e reflete sobre suas atitudos ou a causa da tristeza? Sai para correr e extravasar as emoções negativas? Decide conversar com um amigo e desabafar sobre o que vem acontecendo? Bom, são vários os caminhos e um dos companheiros inseparáveis nesses momentos sãos os livros. Eles nos levam à outra dimensão e ajudam a colocar a mente no lugar.

A biblioterapia, como é conhecida a prática, se tornou bastante comum e auxilia no tratamento de transtornos psicológicos, além de promover uma maior conexão com a literatura e com o próprio processo de autoconhecimento. Aqui na Vida Simples temos um espaço especial sob os cuidados da Carol Sandler em sua coluna literária mensal na edição impressa.

Lembrar de um livro que marcou a infância e a adolescência é o primeiro passo na compreensão da importância da leitura. Por aqui, a série de livros do Sítio do Pica Pau Amarelo, escrito por Monteiro Lobato, foi uma das minhas primeiras experiências literárias da infância. Guardo com carinho as memórias dessa época.

Projeto une afeto e acolhimento

No sertão pernambucano, em Petrolina, o professor de Espanhol Ricardo Luiz de Souza deu início a um charmoso e aconchegante projeto chamado Momentos de Literapia, no Instituto Federal do Sertão Pernambuco (IFSertãoPE). A iniciativa é organizada pelo docente, uma aluna colaboradora, além de contar com a participação de uma psicóloga.

Este projeto tem como principal objetivo levar o potencial humanizador e terapêutico dos textos literários aos ouvintes“, explica o professor. Ricardo conta que, como mediador, traz a leitura de contos e textos literários seguido de um debate aberto e respeitoso sobre as impressões e emoções que foram despertadas em cada participante do clube.

A proposta se apoia principalmente na palavra como recurso de cura e veículo de comunicação. Tudo é feito de forma muito espontânea, sem que o participante se sinta forçado a fazê-lo, mas sim tocado pelos textos e inspirado a falar”, acrescenta o coordenador do projeto. “É uma iniciativa feita com muito amor e tem gerado bons frutos, percebidos por relatos dos participantes”, finaliza.

jovens negros se reunem em circulo em uma sala branca para debater a leitura de livros e contos. Alguns usam máscara Participantes do projeto “Momentos de Literapia” se reúnem no campus de Petrolina do Instituto Federal do Sertão Pernambucano. Foto: Divulgação

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Quais sãos os seus livros de cabeceira? Ele pode até estar na estante ou perdido em algum lugar da casa, mas certamente é aquela obra que nos traz aconchego e boas lembranças. Abrir-se para a leitura é permitir que os sentimentos, inquietações e questionamentos sobre a vida sejam suspensos, ganhamos maturidade e clareza para lidar com situações difíceis.

Quem nunca se identificou com um personagem, sofreu em todas às vezes que ele passou por provações e vibrou quando os acontecimentos se deslocaram ao seu favor? É tudo literatura, mas não podemos esquecer que a escrita é inspirada na vida cotidiana e vice-versa.

Confira abaixo a lista de títulos selecionados pela Vida Simples para uma mente mais calma e alinhada com o seu propósito.

A hora da estrela – Clarice Lispector

Pouco antes de morrer, em 1977, Clarice Lispector decide se afastar da inflexão intimista que caracteriza sua escrita para desafiar a realidade. Em A hora da estrela (Rocco) a nordestina Macabéa, protagonista, é uma mulher miserável, que mal tem consciência de existir.

Após perder seu único elo com o mundo, uma velha tia, ela viaja para o Rio, onde aluga um quarto, se emprega como datilógrafa e gasta suas horas ouvindo a Rádio Relógio. Apaixona-se, então, por Olímpico de Jesus, um metalúrgico nordestino, que logo a trai com uma colega de trabalho.

Desesperada, Macabéa consulta uma cartomante, que lhe prevê um futuro luminoso, bem diferente do que a espera.
Clarice cria até um falso autor para seu livro, o narrador Rodrigo S.M., mas nem assim consegue se esconder. O desejo de desaparecimento, que a morte real logo depois consolidaria, se frustra.

Quarto de despejo – Carolina Maria de Jesus

Do diário de Carolina Maria de Jesus surgiu este autêntico exemplo de literatura-verdade, que relata o cotidiano triste e cruel de uma mulher que sobrevive como catadora de papel e faz de tudo para espantar a fome e criar seus filhos na favela do Canindé, em São Paulo.

Em meio a um ambiente de extrema pobreza e desigualdade de classe, de gênero e de raça, nos deparamos com o duro dia a dia de quem não tem amanhã, mas que ainda sim resiste diante da miséria, da violência e da fome. E percebemos com tristeza que, mesmo tendo sido escrito na década de 1950, este livro não perdeu sua atualidade.

As palavras voam – Cecília Meireles

Os poemas deste livro foram selecionados e organizados por Bartolomeu Campos de Queirós, escritor, que como Cecília Meireles, também conhecia o encantamento que as palavras produzem.

No prefácio, o poeta comenta: Movida, assim, me parece, pelo afeto e respeito que promovem a dignidade do sujeito, ela não se esqueceu do tamanho do tempo. Cecília Meireles se expressou de maneira sofisticadamente simples.

Daí sua poesia se tornar propícia a todos, inaugurando vários níveis de leitura, como convém à literatura. (…) soube como ninguém, que o homem é o verbo e sua vida conjugável: é passado, é presente, é futuro. Por ser assim, sua escritura não tem idade.

Uma oitava acima – Bruna Lauer

Um dia, em uma cama de hospital, eu acordei.

Não estou falando sobre abrir os olhos pela manhã.

Estou falando sobre despertar de um sono profundo de uma vida inteira.

O emprego, o casamento, as relações e as certezas. Tudo o que era sólido se derreteu. Não sabia quem eu era, não sabia o que eu queria da vida. A única coisa que eu sabia era que já não podia mais viver na inconsciência.

Este é o relato em primeira pessoa de Bruna Lauer e da sua jornada de autodescoberta e amor-próprio. Também é um convite para refletir sobre a vida, ressignificar a sua história e a enxergar beleza em tudo. Muitas vezes o caminho é tortuoso, mas se você perceber que o que importa é o percurso, pode aprender a se conhecer melhor e a se tornar um ser verdadeiramente humano.

Trinta dias aos 60 – Lucia Seixas

O que muda na vida de uma mulher aos 60? Após um mês sabático dedicado a essa pergunta, sozinha numa casinha com quintal no interior mineiro, a escritora e jornalista Lucia Seixas nos revela o quão especial e serena pode ser essa fase da vida, apesar das inquietações que a nova idade costuma trazer.
Em Trinta dias aos 60, Lucia fala sobre o convívio com os filhos já adultos, as mudanças nas relações amorosas, o desafio de conviver com uma nova autoimagem e as questões da saúde. Mas não deixa escapar o que aflige tantas mulheres: o medo de envelhecer.
Tudo passa a ter proporções diferentes quando chegamos aos 60 anos, diz Lucia. Há os desafios, com certeza, mas também descobertas reveladoras. Por isso é preciso refletir, reorganizar-se e fazer escolhas.

A república dos sonhos – Nelida Piñon

Em A República dos Sonhos (Martins), Nélida Pinon busca em suas raízes a inspiração para criar uma saga sobre as aventuras dos imigrantes que aportaram no Brasil na virada do século. Homens e mulheres que deixaram como herança um legado cultural construído com lágrimas, suor e sonhos.
Filha de imigrantes da Galícia, ela parte das suas lembranças da infância para reconstituir a história de uma família, que se confunde com a história recente do país. Um romance de fina elaboração técnica, no qual as vidas de dezesseis personagens se entremeiam num livro que ultrapassa a trama novelesca para recriar a realidade a partir do próprio discurso.
Uma metáfora do Brasil que é, ao mesmo tempo, uma das obras mais transparentes da grande mestre da língua portuguesa.
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