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Como honrar nossos próprios desejos?
Danie Franco / Unsplash
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Aprenda a encontrar boas soluções para o conflito entre seus desejos e vontades e as expectativas dos outros sobre você


Para muitas pessoas, é muito difícil bancar o próprio desejo e as escolhas que faz com relação ao seu jeito de ser, de viver e de pensar. Essa dificuldade tem inúmeras causas, mas uma delas se destaca.

Normalmente, são pessoas que receberam uma sobrecarga de valores morais e religiosos que acabam por tomar um grande espaço no seu mundo interno. E o espaço que sobra para os desejos mais espontâneos e singulares é pequeno.

Dessa forma, quem sai ganhando é a voz do outro, da sociedade, dos representantes religiosos e, assim, a individualidade fica espremida, quase que inexistente.

O que eu quero versus o que esperam de mim

Imagine alguém que cresce num ambiente ou numa comunidade onde as regras que ditam como se deve viver sejam: estudar, se formar, casar, ter filhos, conseguir um trabalho, ter uma casa própria e ficar assim até a hora da morte. Agora, imagine que ela começa a ter, por exemplo, vontade de viajar para um lugar diferente ou mudar de profissão ou se divorciar ou não querer ter filhos ou não querer adquirir um imóvel para investir o dinheiro em outra coisa. Nesse momento, há uma grande chance de acontecer um grande conflito no seu psiquismo. De um lado, as regras morais, religiosas e do outro e, do outro lado, a voz do desejo.

Esse conflito é natural. Existe dentro de nós porque vivemos em sociedade, recebemos instruções de como ser e viver, muitos recebem educação religiosa e não tem como fugir disso. O que está sendo colocado nesta coluna diz respeito aos excessos. Quando essas regras são fortes demais, conservadoras demais, radicais demais, autoritárias demais. Porque aí elas acabam por anular a subjetividade, o desejo próprio e a pessoa passa a viver uma vida em função do que o outro espera dela.

Não há verdade, nem autenticidade, mas, sim, uma auto-anulação: o outro espera que eu seja assim, então eu vou me acostumar a esse roteiro, vou me enquadrar nisso e vou desempenhar esse papel.

Isso traz muito sofrimento.

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As demandas da sociedade

É muito comum identificar também a repressão da raiva, dos sentimentos hostis em quem cresceu nesses ambientes. E, nesse ponto, a moral religiosa pode imprimir um sofrimento muito grande. Porque, normalmente, a maioria das religiões prega que a raiva é algo ruim, “do demônio”. Porém, a raiva é um sentimento humano, natural, que vai estar sempre presente e, de vez em quando, ela vai aparecer.

Se uma pessoa cresce com uma educação rígida de ter que perdoar tudo o que os outros fazem com ela ou de ser sempre boazinha, isso vai resultar num psiquismo carregado de raiva não extravasada.

Aí, ela assume um comportamento externo de bondoso e calmo e o que está dentro dela é uma grande vontade de se defender, de dizer ao outro que ele a magoou, ofendeu, que não vai aceitar mais isso, de expressar seus limites… De alguma forma, é como se a pessoa explodisse por dentro.

Ora, ora, ora, não precisa ser assim, não é mesmo? Para que dificultar tanto as coisas? Por que se anular para atender a demanda da sociedade, da família, da comunidade religiosa? Por que não encontrar um equilíbrio e tocar a própria vida honrando os seus desejos e vontades ao mesmo tempo em que vive naquela comunidade, com aquelas regras?

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O que é bom para você

É super importante não aceitar todas as regras. Veja as que dá para aceitar, aquelas que não tiram a sua liberdade, que não te subjugam, que não te julgam, que não são preconceituosas com o seu jeito de ser e de viver.

Quando entendemos que uma vida de auto-anulação é uma vida de sofrimento, é natural surgir uma vontade de honrar os próprios desejos. O que pode acontecer, neste momento, é surgir muita resistência interna porque o funcionamento psíquico é assim mesmo: toda mudança é custosa, há muita resistência em não querer fazer a mudança.

Pensamentos deste tipo podem desabrochar com força total: “mas o que os outros vão dizer?”, “O fulano não vai gostar disso”, “Nossa, você ficou muito brava, as pessoas se assustaram com a resposta que você deu”, “Mas você vai mudar de carreira para trabalhar com confeitaria? Como assim? Sua família toda é de advogados”…

Mas, é fundamental persistir e, principalmente, refletir que, do jeito que está, não está bom e não há outra saída que não seja fazer uma mudança.

É uma luta interna que se trava consigo mesmo. Aos poucos, se chega lá. Afinal, viver uma vida seguindo o script que o outro ditou e que não tem nada a ver com você, não faz sentido algum, não é mesmo?

Confira todos os textos da coluna de Keila Bis em Vida Simples.


KEILA BIS é psicanalista e jornalista ([email protected]) que adora compartilhar segredos do autoconhecimento para um viver sem neuras. Aprender a estar na vida honrando os próprios desejos, é um deles.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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