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Precisamos cultivar espaços para falar sobre masculinidades
Adrianna Geo Homens estão em um espaço fechado com paredes marrom. Todos se abraçam em um símbolo de irmandade
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Neste artigo:

Luiz Eduardo Alcantara, que faz parte do Brotherhood, celebra a existência de irmandades que buscam transformar a ação dos homens no mundo.


Em 2017, eu era um homem de quase 30 anos inquieto com a masculinidade. Ao longo dos anos anteriores eu ouvi diversas mulheres: amigas, companheiras, familiares, professoras, especialistas. Tentava aprender com elas sobre gênero e feminismo.

Buscava compreender qual devia ser meu papel como homem e o que eu podia fazer para que tivéssemos uma sociedade mais justa. Escutava e escutava que eu deveria apenas escutar; e que se eu escutasse e buscasse efetivamente refletir sobre o machismo presente em mim e na sociedade, eu já estaria fazendo o que deveria fazer. 

Com as mulheres, eu aprendi muito não apenas escutando, mas também lendo e conversando sobre patriarcado, assédio, sexualidade, e diversas formas de machismo. Mas eu senti que isso era insuficiente. Quase não conversava com outros homens sobre esses temas.

Era um caminho um pouco solitário. Estava em um esforço individual, mas não via (ou não sabia de) colegas que também estavam ativamente nessa busca. E eu queria poder fazer alguma coisa para além da busca de compreender e me transformar individualmente.

Surge o Brotherhood

Foi quando em meados de abril de 2017, veio o convite que mudaria minha vida daquele momento em diante. Gustavo Tanaka e Fábio Manzoli estavam querendo reunir alguns homens conhecidos. Homens que estariam abertos para sentar em roda e conversar sobre o que é ser homem. Mas, principalmente, homens que também estavam dispostos a escutar. Foi como se alguém me oferecesse algo de presente que eu nem sabia que estava precisando. Aceitei de imediato.

Eu acredito que aquele primeiro encontro foi inesquecível para todos os que estavam presentes. Desde aquele dia eu não parei mais de participar de encontros similares e, depois de um tempo, facilitá-los. Com o passar do tempo, aquele grupo deu origem ao Brotherhood, movimento do qual faço parte.

Nós homens nos reunimos em muitos espaços sociais: assembleias, clubes, estádios, bares, escritórios e vestiários. E fazemos isso há muito tempo. No entanto, eu nunca tinha estado em um espaço com homens em que a fala de cada um foi respeitada, a escuta foi atenta e curiosa, e as histórias foram pessoais, verdadeiras, vulneráveis e vindas de um coração terno e profundo. Não houve tiração de sarro, não houve sorrisos debochados.

O que houve foi a descoberta de uma nova possibilidade de se relacionar entre homens e que, aos poucos, foi se espraiando para todas as demais relações. Sejam elas com as mulheres, outros homens ou outros seres humanos, ou mesmo com outros seres, com toda a natureza.

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Por uma nova masculinidade

Eu nunca mais fui o mesmo depois daquele encontro, e vi muitos homens afirmarem o mesmo após participarem de rodas similares.

Minhas relações se tornaram mais significativas e eu passei a buscar um novo olhar sobre o mundo e sobre a participação dos homens nele.

Desde 2017, muita coisa aconteceu na temática das masculinidades. Em 2018, o dicionário Oxford elegeu a palavra “tóxica” como a palavra do ano e constatou que ela era frequentemente associada à masculinidade. Isso trouxe ainda mais evidência ao termo que já vinha ganhando a atenção da sociedade. E

Em 2019, o Papo de Homem lançou o documentário “Silêncio dos Homens” que além de trazer muitas reflexões importantes contribuiu para o surgimento de diversos grupos e iniciativas de masculinidades. O tema tem estado em evidência desde então e tem sido cada vez mais pautado. Os homens precisam ser parte da mudança para uma sociedade mais justa.

Eu celebro poder fazer parte de um desses grupos de homens que busca transformar a ação dos homens no mundo, que busca criar espaços de irmandade para que os homens possam cuidar mais de si, das pessoas à sua volta e de todo o ambiente em que vivem.

E você? Já começou essa caminhada também? Faz parte de algum grupo ou tem feito uma busca mais solitária? 


LUIZ EDUARDO ALCANTARA (@lendalcantara), atua na área da justiça, é um dos guardiões do Brotherhood Brasil (@brotherhoodbrasil) e um curioso sobre os papéis dos homens na sociedade.

Leia todos os textos da coluna Brotherhood em Vida Simples.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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