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O quiet quitting não é a única saída para uma vida melhor
Johnny Cohen
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Apesar de ter ganhado destaque nos últimos tempos, a tendência do quiet quitting pode revelar uma desconexão entre a sua carreira e a cultura de trabalho na qual você está inserido


Ainda jovem, comecei a minha “carreira” no rugby. Iniciei como atleta no Curitiba Rugby Clube (tradicional clube da capital paranaense) e passei por algumas outras instituições no Brasil e fora do nosso país. Passei pela categoria juvenil, adulto e, assim que joguei um torneio pelos veteranos, percebi que era hora de parar.

Foram aproximadamente 20 anos praticando esse esporte que muito me ensinou sobre disciplina, trabalho em equipe, respeito e dedicação. Aprendizados que sempre tratei de utilizar em outras áreas da minha vida.

Durante todo esse tempo, o contato com centenas de companheiros de clubes me deu a oportunidade de observar que os resultados de cada atleta estavam diretamente relacionados com as diferentes atitudes que promoviam durante os treinamentos e partidas.

E, em certo ponto, essa análise tem resultados muito semelhantes aos resultados que obtemos em nossa carreira.

Uma das mais relevantes sincronias eu percebi quando o termo quiet quitting começou a ganhar as páginas dos artigos sobre o comportamento dos funcionários, conceito esse que vem ganhando força dentro das empresas.

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O que significa o quiet quitting?

O termo em inglês quiet quitting surgiu durante a pandemia, período em que muitos empregados começaram a pedir demissão dos seus empregos em busca de uma vida mais equilibrada. A expressão, que em português poderia ser traduzida como “demissão silenciosa”, é usada quando uma pessoa decide permanecer em determinada empresa, sem jogar a toalha de vez, mas reduzindo a pressão sobre o cargo que estava ocupando.

O conceito está relacionado com a prática de reduzir a quantidade de esforço que se dedica ao trabalho e fazer somente o que compete à sua posição e dentro do tempo determinado pelo seu contrato de trabalho. Nada mais de horas extras ou a execução de tarefas que vão além da sua atribuição.

Voltando ao meu tempo de rugby, nesse caso estaríamos falando daqueles atletas que foram contratados para cumprir uma função em campo e não realizavam nenhum esforço extra para cobrir a falha de um outro jogador, ou até mesmo dar “um pouco a mais” visando fazer a equipe obter resultados extras. Além disso, nada de ficar depois do horário de treinamento melhorando algum tipo de habilidade específica.

Portanto, esse movimento não significa deixar o emprego, mas sim mudar o seu comportamento dentro dele. Significa em poucas palavras, não fazer mais do que você foi contratado para fazer.

O quiet quitting surge do seu objetivo com relação ao seu trabalho

Podemos nos questionar se essa atitude ou esse estilo de trabalho está certo ou errado, mas o fato é que não existe uma resposta certa para isso. O que posso sim afirmar é que optar ou não por essa filosofia pode direcionar você para resultados diferentes dentro da sua carreira ou da sua vida.

Quando em nossos treinamentos de rugby um atleta realizava apenas o que lhe era solicitado, dificilmente ele atingia resultados relevantes dentro do campo de jogo. Fazia a sua parte, mas por muitas vezes era substituído por um atleta que entregou um pouco mais ou conseguiu se desenvolver a ponto de aumentar o rendimento na posição desejada.

O mesmo acontece dentro das empresas. Funcionários que buscam ir além da descrição dos seus cargos tendem a evoluir de forma mais completa e a entregar resultados mais expressivos. Dessa forma, conseguem alavancar a sua carreira através da sua atitude e desempenho.

Porém, o que se questiona hoje, é se a busca por esses benefícios não pode prejudicar de forma expressiva a qualidade em outras áreas da vida, como família, relacionamentos, saúde etc.

Por exemplo, aqueles atletas que colocavam o rugby acima da sua vida pessoal, pouco se importando com as lesões, com o tempo dedicado ao clube e com a ausência dentro de seus relacionamentos, eram menos estruturados fora dos clubes.

Em contra partida, os que faziam apenas o necessário (os “quiet quitters”) construíam vidas mais completas e felizes, apesar de não fazerem parte do time principal e não contribuírem de maneira expressiva para as grandes conquistas das equipes.

Essa reflexão me leva a crer que conhecer os objetivos das nossas carreiras pode ser determinante para definir qual postura adotaremos dentro de nossos trabalhos. Isso vai definir se queremos jogar no time principal abdicando da nossa vida pessoal, ou preferimos ser apenas coadjuvantes, mas com vidas mais completas.

Será que não é possível encontrar um equilíbrio dentro desses cenários?

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A saída para o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal

Olhando com mais paciência para o meu passado, percebo ainda que havia sim um outro grupo de jogadores. Lembro que alguns atletas adotavam uma postura mais participativa e iam além do que lhe era solicitado, mas ao mesmo tempo, possuíam vidas mais estáveis do que os fanáticos pelos treinamentos e jogos.

Lembro ainda que eles gostavam de fazer a sua família participar das atividades do clube, assim como levar seus amigos de campo para fazer parte também da sua vida pessoal. Eles tinham uma conexão forte com a cultura do clube. Quanto mais se sentiam à vontade com os valores, o modo de trabalho e a filosofia das equipes, mais conectados ficavam.

E, no final, eles acabavam sendo os grandes atletas da equipe.

Em nossas carreiras também consigo visualizar isso. Talvez a atitude de ser radical e largar a caneta para qualquer atividade que ultrapasse as nossas obrigações profissionais demonstre que existe uma desconexão entre a cultura da empresa e dos líderes, com as nossas.

Será sempre mais fácil buscar o desenvolvimento quando estivermos participando de culturas que estejam de acordo com os nossos valores e objetivos. Dessa forma, o desenvolvimento não precisa ser uma linha divisória entre o trabalho e sua vida pessoal. Em situações assim, torna-se prazeroso fazer com que todas as áreas da nossa vida se conectem, inclusive a profissional.

Por isso, a explosão de filosofias como o “quiet quitting” surgem de gritos desesperados frente a algo que suga muito a energia do profissional, sem atingir os resultados desejados e assim prejudicam todas as demais áreas da sua vida. A falta de sinergia faz com que esses movimentos cresçam como forma de fuga para a ausência de alternativas que estejam de acordos com os nossos objetivos profissionais.

Estar conectado com a cultura do meio em que a sua vida profissional está inserida será sempre fator decisivo para o equilíbrio entre o sucesso na sua carreira e na sua vida.

Essa será sempre a receita para você ser uma peça fundamental como profissional, jogador ou qualquer outra posição que você almeje dentro da sua vida.

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HORACIO COUTINHO JUNIOR (TOCO) (@horacio.toco) é multitarefas e um profissional de mil ofícios, ama a esperança dos EUA e sente falta do Carnaval do Brasil.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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