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10 lições que “desaprendi” na vida quando cheguei aos 50 anos
O que desaprendi quando cheguei aos 50 anos. Lucas Law/ Unsplash
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No dia 1º de novembro, fiz aniversário. Meio século, 50 anos. Durante o dia, recebi uma série de mensagens de felicitações de amigos e familiares. No meio daquela onda de carinho e afeto, uma das mensagens me deixou especialmente tocada.

Uma amiga de longa data, entre um emoji e outro, me perguntou: “O que você aprendeu de mais importante até aqui?”. Naquele momento, não tive resposta e receio que ainda não a tenha encontrado. Entretanto, posso compartilhar com vocês, o que “desaprendi”. Sim, desaprendi.

Mais do que colocar novas coisas em minha mochila particular, venho procurando retirar. Às vezes, me sinto entulhada com um monte de coisas, ideias, crenças, utensílios e receios que já não posso carregar mais. Há alguns anos já sentia esse peso, mas com o senso de urgência que agora me assola, não posso carregá-lo mais. Pelo menos de forma consciente.

Preciso andar mais leve. Não necessariamente para andar mais rápido, mas para andar melhor.

Segue, então, o que, até agora, tenho procurado desaprender:

Não há uma forma melhor do que a outra, o que há são coisas diferentes

Houve um tempo em que olhava o mundo de uma maneira lógica, racional e linear. Acreditava em um tipo de justiça pequena, óbvia, que apenas parte de mim conseguia alcançar. Acreditava mesmo que havia uma espécie de mapa e que se o seguíssemos à risca, as coisas dariam certo. Essa ideia maluca também se aplicava a comportamentos e crenças. Havia comportamentos, ideias e jeitos melhores do que os outros, acreditava eu.

Com o tempo, entendi que, na grande maioria das vezes, não há necessariamente um caminho mais correto. O que existe são muitos e muitos caminhos diferentes, cada um com o seu conjunto de implicações associadas. Tendo consciência do ônus e do bônus de cada um, qualquer um pode servir e ser bom. Quanto mais compreendia isso profundamente, menos controladora ficava.

Ninguém muda ninguém, no máximo, inspiramos a mudança

Um dia, eu achei que podíamos mudar as pessoas. Achei que se explicasse, falasse, tentasse mostrar por “A mais B”, a outra pessoa poderia entender meu ponto de vista e mudar. Obviamente, que dentro dessa lógica, tinha tendência a achar que o meu jeito estava certo e o da outra pessoa desajustado.

Hoje sei que ninguém muda ninguém. Quantas e quantas vezes, nem eu consigo mudar a mim mesmo, mesmo desejando que isso aconteça, quanto menos o outro. Nós só mudamos quando o desconforto de ser quem somos se torna maior do que o conforto de manter as coisas como estão.

E esse processo não pode ser terceirizado ou motivado por ninguém além de nós mesmos.

Filhos são realmente seres independentes e não uma extensão de nós

Certamente que a minha presença na vida dos meus filhos sensibilizou-os e moldou-os em vários aspectos de seus comportamentos, hábitos e visões de mundo. Mas, até pouco tempo, achava que essa “interferência”, ou se preferirem “educação”, tinha maior peso do que hoje acho que tenho. Eles são muito mais eles próprios, do que uma boa parte de mim e do pai deles. E, sendo assim, assistir aos seus crescimentos é sempre surpreendente e imprevisível.

Também pode ser bastante desafiador, se continuarmos achando que eles são extensões de nós mesmos e que o retrovisor de nossas vidas pode ser um balizador para a vida deles. Não, não pode. Eles são seres autônomos, únicos e independentes. Mesmo.

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Minimizamos os ônus das nossas escolhas, afoitos em recolher os bônus

Sempre me considerei bastante otimista e com boa resiliência para assumir mudanças de rotas e certos deveres. Olhando para trás, percebo que fiz muitas disrupções. Em algumas delas, entretanto, afoita para recolher os bônus, minimizei os ônus e “paguei o pato”, me sobrecarregando muitas vezes.

Em vários momentos, superestimei minha capacidade de lidar com alguns sentimentos, sensações e situações. E, por isso, vivi muito tempo com a síndrome da mulher maravilha cansada. Hoje sou mais cautelosa e procuro olhar algumas jogadas a frente, mesmo sabendo que minha capacidade preditiva esbarra na entropia da própria vida.

É mais importante dizer mais “não” do que “sim”

Por muitos anos, acreditei que dizer muitos sims era aproveitar a vida. “Sim” para encontros, projetos, trabalhos, conversas e entretenimento era o mesmo que estar viva e dizer sim para a vida.

Com a completude de mais da metade da minha vida, ficou cada vez mais necessário priorizar, pois, definitivamente, não há tempo para tudo.

Separar o que é importante, do que é urgente e do que é banal não é fácil, mas eu preciso. Caso contrário, me perco de mim mesma e começo a me distanciar do que realmente quero e me faz feliz. É preciso ter uma rotina com menos atividades e mais ação real, com mais sentido. Aprendi, então, a antes de aceitar um convite, me perguntar calmamente: quero realmente isso?

Para os outros, minha opinião é pouco importante, mas minha escuta é valiosa

O que eu penso pouco importa para os outros e para o mundo. Trata-se apenas de um conjunto de frases e sentenças aglutinadas com a tentativa de um sentido por trás. Realmente acredito que tenho muito pouco a dizer ou eventualmente a ensinar ao outro. E, quando sinto que tenho algo a compartilhar, escrevo.

Quando coloco as palavras no papel, digo, mesmo que ninguém ouça. Mas isso não significa que comecei a me desconectar ou distanciar das pessoas. Isso não. Mas compreendi que muito mais importante do que dizer é ouvir. É disso que eu e os outros realmente precisam.

O autoconhecimento não é um caminho solitário

Nunca, na história da humanidade, tivemos tantas portas para nos autoconhecer. Há uma profusão de técnicas, cursos e profissionais competentes que procuram nos ajudar a compreender o mundo e a nós mesmos. Muito se tem falado, da necessidade de estar só e de se seguir um caminho quase espartano para o despertar. Frases como: “melhor sozinho do que mal-acompanhado” ou “não suporto nada que tira a minha paz”, são máximas do século XXI. Somos seres relacionais, mas não toleramos algo ou alguém que “invada” nosso espaço e nos empurre para o desconforto.

Estar só com nós mesmos, nos ensina uma série de coisas. Mas estar com os outros, também. A relação com a nossa família, nossos filhos, nosso trabalho, nossos amigos e amores têm muito a nos ensinar. Pensar sobre as coisas podem nos ajudar a mudar, mas é o sentimento a grande mola propulsora da transformação. Por isso, entendo que nenhum professor é maior do que as relações que atraímos para nossas vidas. Uma paz criada por uma vida sem troca, não pode ser uma paz real.

O simples é raro e um luxo

Complicamos. Temos a tendência a complicar. Somos confusos e complexos. Nos afastamos na natureza e nos aproximamos do mundo das premissas, dos achismos, dos espelhamentos, dos caprichos e fragilidades do ego. Temos dificuldade em mostrar o que sentimos, temos dificuldade em pedir o que precisamos, temos receio de dizer quem somos. Tendemos a complicar e procurar os caminhos mais difíceis.

Passamos a vida procurando algo, tentando encontrar o elixir com as respostas e nos confundimos e agitamos. Eu era tanto assim, que tenho uma tatuagem nas minhas costas com a palavra “simplicidade”, quase como um alter ego que diz: “seja simples!”.

Hoje, procuro sentir mais e pensar menos. E seguir essa trilha do corpo confortável e do coração manso, tem me ajudado a entender o caminho da simplicidade.

Terei sempre minha alma viva como uma criança, apesar do meu corpo estar cansado

Não enxergo mais sem óculos. O contorno da minha face não está mais junto ao meu maxilar. Minha pele começa a ser salpicada com manchas senis e brancas, mas quando estou calma e conectada comigo, ainda sinto a Ana criança, com 3, 4 anos. Sinto-a tão presente.

Apesar do peso e do tempo sobre a matéria, tenho convicção de que sou alma e espírito. E que minha essência é atemporal e desejosa de conexão, pertencimento e luz duradoura. Com esse entendimento encharcando cada uma das minhas células, tenho mais gratidão, vivo ainda mais apaixonada pela vida e por estar experienciando esse planeta lindo.

É menos sobre performance, propósito e missão e mais sobre ser

Dos meus 20 aos 45 anos, estive no modo fazer, estudar, realizar, me estruturar materialmente. Havia sempre um objetivo a ser atingido: casar, ter filhos, ser promovida, receber uma nova titulação e buscar meu propósito e sentido de vida.

Até no campo da espiritualidade, a ideia de meta estava presente. Eu ainda não desaprendi a ser assim. Ontem mesmo falava com meu marido sobre isso. Sinto-me em fase de transição. Não sou mais orientada para performance e produção, mas não sei ainda como ser diferente. Sei intuitivamente que entrei em um novo ciclo, mas não consigo operacionalizar esse novo estado em meu dia-a-dia. Sinto-me, vez por outra, perdida, com a sensação de que deveria estar fazendo algo que não sei bem o que é. Ainda não desaprendi a ver as coisas sob a ótica da realização, mas já aprendi que vivo aprendendo e, por isso, sei que vou chegar lá.

Há mais outras coisas que tenho desaprendido e que continuo a deixar para trás. Sinto que quanto mais percebo que pouco sei, mas sei. É uma sensação boa, de ir se despindo de tantas certezas que tinha. É confortável para mim, ir me despindo de minha autoimportância. Essa sensação de estar perdendo as certezas, convicções e a armadura me proporciona outro tipo de força. Uma força mais branda. Mais invisível. Mas, eu gosto.

E você, o que tem desaprendido nesses últimos anos? O que tem deixado ir?

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