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Não precisamos mudar quem somos, precisamos SER quem somos!
MidJourney
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Neste artigo:

Cresci ouvindo dos adultos em minha casa que terapia é coisa de gente que não é capaz de resolver suas próprias questões e que aquele que procura um psicoterapeuta acaba saindo pior do que quando começou.

Segundo meus pais de anos atrás, geralmente os terapeutas têm mais problemas do que qualquer outro. Essa foi a imagem que criei sobre terapias.

Naquela época, poucos entendiam a terapia como uma intenção de diminuir sofrimentos normais da vida, de interpretar os eventos emocionais e comportamentais.

Mas, quem somos?

Em uma de minhas primeiras experiências profissionais, conheci uma pessoa que passei a admirar com pouco tempo de convívio. Entre muitos adjetivos, ela era criativa e comunicativa, o que mais chamava minha atenção era a forma com que observava e lidava com os acontecimentos da vida.

Em uma das minhas ignorantes conversas com essa pessoa, eu disse que não precisava de terapia, pois sabia lidar com tudo que eu sentia e que não teria nenhum assunto para compartilhar com qualquer tipo de profissional.

Foi aos poucos que passei a compreender que por mais saudável que seja nossa infância, ainda assim, os fatos e ações nos marcam profundamente como adultos, para o bem ou para o mal. E que a questão não é entender se temos ou não machucados da infância, mas se temos consciência de como esses fatos influenciam tudo que somos e fazemos hoje.

Nosso Eu-criança

“Crianças são como cimento molhado. Qualquer coisa que caia em cima, deixa uma marca” – Haim Ginott, psicólogo.

Uma das principais e mais recorrentes marcas que nos causam sofrimento é a perda da nossa autenticidade, em outras palavras, a desconexão de nós mesmas ou a alienação do nosso instinto.

Toda criança nasce com um instinto muito aflorado, mas aos poucos somos encorajadas a apagar essa chama quando nossa necessidade inegociável é ameaçada, a necessidade do amor dos nossos principais adultos cuidadores, os nossos pais.

Cuide de sua criança

A criança precisa se sentir segura, cuidada, livre para se expressar, acolhida e respeitada em todo o seu espectro de emoções, mesmo nas emoções mais difíceis. Mas, nós adultas com falta de paciência, tempo e inteligência emocional para lidar com essas emoções acabamos reprimindo-a imediatamente.

Dessa forma, passamos a dar um recado indireto que crianças “difíceis” não são aceitas. Então, a criança que depende do amor incondicional dos pais vai reprimir sua autenticidade toda vez que isso ameaçar a sua aceitação, o seu pertencimento, e isso não significa que pais não devem estabelecer limites e demonstrar respeito.

Porém, apenas limitar, reprimir sem escuta, sem acolhimento, sem ajudar a criança a entender como atravessar suas emoções desafiadoras ao seu lado, cria-se um terreno fértil para formar um adulto sem inteligência emocional e sem autoconhecimento. Um adulto obediente e conformado, mas que apagou seu instinto para ser aceito.

Uma herança invisível

Um adulto que não conhece outra possibilidade vai também reprimir as emoções dos seus filhos, e seus filhos dos seus netos, e assim por diante, sustentando infinitamente um trauma pluri-geracional (falei mais sobre isso aqui em Heranças Invisíveis).

A boa notícia é que você pode quebrar esse ciclo e ganhar novamente a conexão com seu Eu-escondido. Não é fácil, mas é possível ao trazer suas dores inconscientes para consciência.

Como? Olhando suas memórias, processando sua própria infância e sentindo as suas manifestações no hoje, no presente. Isso não requer inteligência racional, mas coragem e coração aberto para sentir novamente.

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Nossas cavernas

A mente é um lugar vasto e misterioso. Nosso reencontro é uma recuperação lenta que requer paciência, autocompaixão, curiosidade, de mergulhar fundo para reencontrar sua principal sabedoria. É preciso compreender as dores inconscientes que nos aprisionam, dores das quais fugimos a vida toda por inúmeros escapes.

No budismo, aprendemos que “nem a terra pura nem o inferno existem fora de nós, ambos se encontram apenas em nosso coração. Aquele que desperta para isso é chamado de buda, e aquele que ignora é chamado de mortal comum. O Sutra de Lótus revela essa verdade, e aquele que abraça esse sutra perceberá que o inferno é a própria Terra da Luz Tranquila.” (p. 477 CEND Vol. I)

Como ser quem somos?

A gente só consegue se tornar aquilo que a gente conhece, por isso que o autoconhecimento é fundamental. Autoconhecimento e transformação pessoal são processos que podem levar tempo e dedicação, mas existem algumas estratégias que podem ajudar nesse processo:

  • Auto-observação: observe seus pensamentos, emoções e comportamentos. Tente entender por que você pensa e age de certas maneiras e o que desencadeia esses comportamentos.
  • Identificar seus valores fundamentais: o que é importante para você na vida. Isso pode ajudá-la a tomar decisões mais conscientes e alinhadas com seus objetivos e propósito de vida.
  • Buscar ajuda profissional: considere buscar ajuda de um psicólogo ou terapeuta, pode ser uma ótima maneira de se autoconhecer e transformar.
  • Ler e aprender: ler livros sobre desenvolvimento pessoal, psicologia, filosofia e outras áreas relacionadas pode ajudá-la a expandir sua compreensão sobre si mesma e sobre o mundo.
  • Meditar: a meditação pode ajudá-la a acalmar sua mente, reduzir o estresse e melhorar sua clareza mental.
  • Exercitar-se: o exercício físico pode ajudar a melhorar seu humor, aumentar sua energia e reduzir o estresse. Além disso, a prática regular pode ajudá-lo a aumentar sua autoconfiança e autoestima.

Seja gentil consigo mesma

Lembre-se de que o autoconhecimento e a transformação pessoal são processos contínuos e não acontecem da noite para o dia. Seja gentil consigo mesma e dedique-se a essas práticas ao longo do tempo, e você verá mudanças positivas em sua vida.

Para te auxiliar nessa jornada de transformação, quero indicar a leitura do livro: O Drama da Criança Bem Dotada (Summus Editorial) é um livro de 1979 de Alice Miller. Nesse livro, Miller argumenta que essas crianças bem-dotadas podem sofrer um grande dano psicológico e emocional se forem submetidas a uma educação que priorize a realização de seu potencial intelectual em detrimento de suas necessidades emocionais.

Miller explica os efeitos da falsa autoestima, quando a criança recebe elogios e recompensas por seus sucessos (acadêmicos, esportes etc), mas não aprende a se valorizar como pessoa completa. Ela argumenta que uma educação mais humanizada, que valorize a criatividade, a curiosidade e a empatia, pode ajudar as crianças a se tornarem adultos mais saudáveis e felizes.

Sobre Felicidade, escrevi uma carta para a Lalai Persson (pub. em Espiral) que você pode ler aqui.

Para você!

De tudo que aqui dividi, eu espero que toque o seu coração da melhor forma possível, a seguinte mensagem: Não importa o que eu faça, o meu futuro não está sob meu controle; porém, meu futuro está diretamente ligado ao que eu semeio hoje.

Seja sempre sua melhor amiga. Seja a pessoa fantástica que você é! Eu acredito em você, acredite em você também.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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