COMPARTILHE
Como a meditação me ajudou no tratamento contra o câncer
Conscious Design | Unsplash
Siga-nos no Seguir no Google News
Neste artigo:

Não existe passado e, cada vez menos, existe futuro. A vida ao redor continua barulhenta, abusada, agressiva. Mas, dentro de mim, silencia. As pernas se entregam, os ombros desistem, o coração é aconchegado em um manto quente e embalado com canções de esperança. Não sinto mais suas batidas aceleradas: elas dançam no ritmo do vento, do sol e das árvores. Os pensamentos emaranhados e entorpecidos se dissolvem em alguma nuvem passageira no céu. Não sou mais esse excesso de gritos intrusos que disputam espaço na mente. Quanto mais repouso no colchão do agora, mais ele me leva.

Senti dores intraduzíveis, nas pernas, nos braços, no abdômen. A dor me atravessava como um jato perfura o ar: constante, invasivo, provocador. E por mais que fosse limitante, nunca lhe desejei mal. Eu sabia que quanto mais fundo ela me levava, mais fôlego eu precisaria para voltar à superfície. E nada é por acaso: minha vida inteira eu quis aprender a segurar a respiração, como os nadadores. A dor, por fim, me ensinava, não me destruía.

A cada infusão de quimioterapia, mais dores improváveis me visitavam, e persistiam aonde eu fosse: na cama, na cozinha, no chuveiro. Apesar de ser uma perseguição cansativa, eu as aceitei como mestres. Quando chegavam a níveis maiores do que aguentava meu corpo físico, sucumbia aos remédios – nenhum era capaz de silenciá-las.

O silêncio é curativo

E foi assim, nas noites em que o desespero me acordava com chacoalhões, que descobri um comprimido eficiente.

Adotei uma estratégia quase intuitiva: enquanto as dores gritavam até me ensurdecer, eu não aumentaria a voz – apenas ficaria em silêncio. De luzes apagadas, e de mente calada. Longe da imagem da rua, que mostrava carros apostando corrida para chegarem sabe-se lá aonde.

Longe das provocações das redes sociais, que me pediam para sair, viajar, trabalhar – toda hora ser um cansativo verbo de ação. A verdade é que eu não precisava estar em nenhum outro lugar, que não fosse dentro de mim.

Descansada em mim, aprendi que o silêncio é curativo da alma. Entreguei para o vento o que eu, frágil por natureza, não seria capaz de controlar.

Desprendi-me, tomei distância da minha própria dor. Ela não era eu, apenas estava em mim. E tudo o que está, flutua: vai e volta, de acordo com o que a alma necessita. Nunca duvidei de que nossa alma precisa sangrar às vezes, para ressurgir mais pura. A cada sessão de quimioterapia, meus mergulhos foram ficando mais e mais profundos.

Comecei a ajustar o corpo, para que coubesse no silêncio. Quando me dei conta, instintivamente, estava meditando.

Meditação não é anestesia, nem um método para se esquecer do mundo – ao contrário. Meditar é apropriar-se desse mundo, e ao invés de ser refém dos seus desertos, furacões e tsunamis, assumir a direção da própria vida. É abandonar o automático e dar um passo para trás: aprender a ligar o carro, colocar a primeira marcha, e dar partida sem deixar o motor morrer.

Acolhimento

Só depois passar por quebra-molas, e mais adiante, lombadas. Por fim, encontrar o próprio caminho, que nunca será retilíneo. A diferença é que, agora, os buracos não precisam ser desviados: você sabe que é inevitável cair. Mas saberá também como dar a partida outra vez, e seguir viagem.

Meu encontro comigo foi como me abraçar depois de tanto tempo: eu nem sabia, mas estava com saudades. Aprendi a me guiar para longe da dor – ela continuava no meu corpo físico, mas não era mais sentida com a mesma intensidade. Descobri as meditações da Brahma Kumaris Brasil, e foi como voltar para a casa. Uma casa que sempre foi minha, mas eu nunca tinha entrado.

Ajeitei os lençóis do autoamor, e repousei a cabeça no travesseiro da autoestima. Dei-me conta de que apenas minha própria mão poderia me puxar para a superfície, e o mais fascinante de tudo: apenas eu habitava em mim.Descobrir-se único empodera, reaviva, reconstrói. E desde quando me vi, não quis mais me soltar.

No nosso próximo encontro, trarei uma conversa mais minuciosa sobre o despertar de consciência por meio da meditação, e os consequentes benefícios para a vida. Nos vemos em breve!

MAIS DE MARCELA VARASQUIM

Um centímetro de cada vez: a oportunidade escondida nos desafios

A potência de ser mulher – que talvez você tenha esquecido

O que muda ao nos depararmos com a finitude da vida

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

0 comentários
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

Deixe seu comentário