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Eu preciso ser mais paciente
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O que aprendi enfrentando o COVID

Eu preciso ser mais paciente. Digo isso nos dois sentidos que a palavra permite. O primeiro sem dúvida é aquele que Lenine nos traz em sua lindíssima canção. O segundo é experimentar a identidade de paciente, o paciente do leito 221.

Sou médico ortopedista  com 36 anos de idade, 11 anos de formado no ápice da produtividade profissional. Talvez não no reconhecimento , mas na capacidade de absorver trabalho. E talvez esse ápice seja um pouco alto demais.

Explico: não sou nem de longe o perfil workaholic , amo muito o que faço. No entanto amo muito mais meus momentos em família. É então que uma matemática complexa na vida acontece com pessoas como eu.

O dia tem apenas 24 horas. A semana tem apenas 7 dias. Os finais de semana não são bem como deveriam ser. Não porque quero, muito menos por ganância, mas sim pela incapacidade de dizer: NÃO.  Ou ainda por não ter paciência de esperar com que as coisas tomem o rumo que deveriam caso não tivesse minha intromissão.

Veja, não sou hipócrita de dizer que pró-atividade não seja uma virtude. É e, no meu entender, é o segredo do sucesso (claro que combinado a muitos outros fatores que não vale discutir aqui).

Mas o que quero dizer que se você tiver a paciência adequada , no momento adequado , as coisas iriam acontecer naturalmente. Daí talvez (veja bem-TALVEZ) eu não estaria aqui no leito 221 sendo o Sr. PACIENTE.  Talvez porque são muitas variáveis envolvidas numa pandemia como essa que nos assola. Mas no meu íntimo acredito que se não estivesse um tanto sobrecarregado não estaria aqui.

Seja por ter conseguido me atentar mais às precauções , seja por estar com o sistema imune mais preparado ou ainda por estar mais disposto ao enfrentar a infecção. Isso já é dado científico, jovens médicos que enfrentaram o COVID e desenvolveram a forma moderada ou grave relataram que passavam por momentos de estresses ou sobrecargas e noites mal dormidas.

Legal, e onde quero chegar com tudo isso?! Talvez compartilhar a reflexão que tive nesses dias internado. Temos que revisar essa matemática. Sendo meu filho, minha esposa, meus pais, irmãos e amigos o que mais me importa na vida, por que passo proporcionalmente tão pouco tempo com eles? Minha mente logo envia o argumento que aprendemos: é por causa deles que você trabalha tanto! Será???

De repente você se depara com a constatação de que seu pulmão não está conseguindo oxigenar o suficiente para manter todas as suas funções vitais e  perguntas vêm à tona: e aí, valeu a pena? Tudo bem para você se acabar?  Meus queridos pacientes que me perdoem, sabe que sempre fiz de muito bom coração. Mas não consigo achar justo ter me doado quase que por completo para a profissão e, para os que eu mais amo, ter deixado a desejar.

Sendo assim, com a paciência de um bom matemático debruçado a uma equação muito difícil, espero receber minha alta hospitalar para tentar começar de novo equilibrando melhor esse precioso tempo que me restar.

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