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O tédio é ótimo para estimular a criatividade; veja dicas
O tédio alimenta a criatividade (Foto: Bruce Mars/Unsplash)
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Vivemos na era das distrações. Não é difícil notar: basta alguns segundos de inatividade para pegarmos o celular ou ligarmos a TV.

O tédio, essa sensação desconfortável de não estar fazendo nada, parece um vilão moderno, algo a ser evitado a qualquer custo.

Mas, e se o tédio, tão temido e combatido, pudesse ser uma ferramenta poderosa para a nossa criatividade e bem-estar?

Por que fugimos tanto do tédio?

O tédio é um estado mental que muitas vezes associamos a improdutividade e falta de propósito. No entanto, o que muitos não sabem é que ele também oferece uma oportunidade de ouro para a mente criar, processar e até descansar.

Com tanta tecnologia e estímulos ao nosso redor, acabamos perdendo a capacidade de simplesmente “ficar sem fazer nada”.

A necessidade de preencher todo espaço vazio é uma resposta ao medo da inatividade, mas essa mentalidade pode estar nos impedindo de acessar nossa criatividade mais profunda.

Nosso cérebro precisa de momentos de pausa para “desligar” dos estímulos externos e processar informações de maneira mais profunda. E é exatamente durante esses momentos que muitas vezes surgem ideias novas e criativas.

O que a ciência diz sobre o tédio e a criatividade?

Diversos estudos têm mostrado que o tédio pode ser um trampolim para a criatividade. Um dos exemplos mais famosos é o estudo realizado pela Universidade de Central Lancashire, no Reino Unido.

Os pesquisadores pediram a um grupo de pessoas que realizasse uma tarefa tediosa — copiar números de telefone por um período de tempo.

Depois, compararam a criatividade desse grupo com outro grupo que não passou pela mesma experiência monótona.

O resultado? O primeiro grupo apresentou níveis significativamente mais altos de criatividade em uma atividade subsequente.

Esses achados comprovam que, quando o cérebro não está constantemente ocupado com estímulos externos, ele cria espaço para gerar soluções inovadoras e explorar novas ideias.

O tédio força a mente a procurar algo interessante, e é justamente aí que muitas vezes a criatividade aflora.

Divagação mental: o segredo por trás da inovação

Quando estamos entediados, nosso cérebro entra em um estado de “divagação mental”. Nesse estado, o pensamento se torna mais livre, vagando entre lembranças, ideias e soluções.

A divagação é essencial para a criação de conexões inesperadas entre ideias, o que muitas vezes resulta em soluções criativas e inovadoras.

Um exemplo prático de como o tédio pode alimentar a criatividade vem de J.R.R. Tolkien, autor de O Senhor dos Anéis. Em um momento entediante de sua vida — enquanto corrigia provas de alunos — ele teve uma de suas ideias mais geniais.

Foi nesse período que surgiu a frase: “Em um buraco no chão vivia um hobbit.” Sem essa pausa forçada pela monotonia, talvez nunca tivéssemos conhecido o incrível universo de Tolkien.

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Dicas para aproveitar momentos de tédio para estimular a criatividade

Se a ciência e os exemplos reais mostram que o tédio é benéfico, por que ainda tentamos evitá-lo? O segredo está em aprender a abraçar o tédio, em vez de combatê-lo.

Veja algumas formas práticas de transformar esses momentos de monotonia em oportunidades de crescimento:

1. Dê espaço para a mente divagar
Quando você perceber que está entediado, resista à tentação de preencher o vazio com uma distração imediata, como redes sociais ou televisão. Em vez disso, permita que sua mente vagueie. Pode ser durante uma caminhada sem destino, lavando a louça ou enquanto espera uma reunião começar. Esses momentos “vazios” são oportunidades para a sua mente processar informações e encontrar soluções criativas.

2. Estimule sua curiosidade
Além disso, o tédio também pode ser uma porta para novas curiosidades. Isso porque quando estamos entediados, nosso cérebro busca naturalmente algo para se concentrar. Então, use isso a seu favor e comece a explorar hobbies ou interesses que normalmente não teria tempo. Às vezes, uma atividade simples pode levar a descobertas surpreendentes sobre você mesmo e seu potencial criativo.

3. Pratique o mindfulness
O tédio pode ser desconfortável, mas a prática do mindfulness (ou atenção plena) pode ajudar a transformá-lo em uma experiência mais positiva. Nesse sentido, ao se permitir estar presente no momento, sem pressa para mudar a situação, você pode perceber o tédio de uma forma diferente — como uma pausa necessária para recarregar a mente. Isso, por si só, já pode aumentar sua clareza mental e criatividade.

Quem mais usou o tédio a seu favor?

Além de Tolkien, outros criadores brilhantes também encontraram suas melhores ideias em momentos de tédio.

Steve Jobs, cofundador da Apple, já declarou que muitas de suas inovações surgiram durante momentos de reflexão e pausa, longe do trabalho intenso e da sobrecarga de informações.

Ele acreditava que era importante dar tempo ao cérebro para “descansar”, deixando espaço para a criatividade emergir.

Outro exemplo interessante é o do pintor Pablo Picasso. Ele costumava passar longos períodos sozinho, em silêncio, antes de criar algumas de suas obras mais famosas.

Esses momentos de contemplação e tédio eram essenciais para que ele pudesse acessar seu lado mais criativo.

Abrace o tédio e colha seus benefícios

Vivemos em uma cultura que valoriza a produtividade constante, mas talvez estejamos subestimando o poder do tédio.

Ao dar espaço para a mente descansar e divagar, abrimos a porta para soluções criativas, ideias inovadoras e uma conexão mais profunda com nós mesmos.

Então, da próxima vez que o tédio bater, ao invés de fugir dele, tente abraçá-lo. Você pode se surpreender com o que a sua mente é capaz de criar quando não está sendo constantemente estimulada.

No final das contas, o tédio é um presente escondido — um convite para explorar novas ideias, fortalecer a criatividade e, acima de tudo, redescobrir o valor das pausas na vida.

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